Apple pede que Trump não aumente tarifas para seus produtos da China

Aumento poderia reduzir competitividade global da Apple e contribuições à economia americana

Paulo Higa
• Atualizado há 3 anos
Tim Cook na WWDC 2019 (Foto: Paulo Higa)
Tim Cook não deve estar feliz

A Apple decidiu se envolver mais na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. O governo Trump planeja aumentar as tarifas de importação em 25% para um novo grupo de bens da China, o que afetaria os iPhones, iPads, Macs e outros produtos da empresa de Tim Cook. Para a Apple, a ação do governo poderia reduzir as contribuições à economia e diminuir a competitividade da companhia.

Uma carta enviada na segunda-feira (17) pela Apple para o representante comercial dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, pede que o governo Trump não avance com a decisão de elevar as tarifas de importação. No documento, a empresa lista os produtos que seriam afetados com o aumento dos impostos:

  • iPhone
  • MacBook, iPad, iPod Touch
  • Apple Watch, AirPods, HomePod, Beats Wireless, AirPort, Time Capsule
  • iMac
  • Componentes de reparo de iPhone
  • Apple TV
  • Monitores para computador, módulos de monitores
  • Teclados
  • Fones de ouvido com fio
  • Alto-falantes com fio
  • Baterias, capas com baterias

Ou seja, a maioria do faturamento da Apple seria impactada com a decisão. No primeiro trimestre de 2019, a empresa atingiu receita recorde com serviços, uma área correspondente à App Store, Apple Music, Apple Pay e iCloud, mas é muito dependente de produtos físicos: mais de 53% do dinheiro vem de iPhones, enquanto 18% são de Macs e iPads.

apple-devices/ pexels

Diz a Apple (tradução nossa):

A Apple é uma orgulhosa empresa americana e uma das maiores criadoras de empregos dos Estados Unidos. Somos responsáveis por mais de 2 milhões de empregos em todos os 50 estados, incluindo os funcionários diretos da Apple, funcionários dos nossos parceiros de manufatura e varejo, e americanos que ganham a vida na vibrante e crescente economia dos aplicativos.

Em 2018, após a aprovação da reforma tributária nos Estados Unidos, anunciamos nossa intenção de fazer uma contribuição total direta para a economia americana de mais de US$ 350 bilhões em cinco anos e temos o prazer de informar que estamos no caminho para atingir essa contribuição. Estamos abrindo vários novos locais de trabalho e adicionando novos empregos à nossa base de funcionários nos Estados Unidos.

A Apple também é a maior contribuinte empresarial americana para o Tesouro dos Estados Unidos e paga bilhões a cada ano em impostos sobre propriedade, vendas e funcionários.

Segundo a Apple, um aumento nas tarifas poderia reduzir a arrecadação de impostos e não resolveria o problema. “As tarifas dos Estados Unidos também pesariam sobre a competitividade global da Apple. Os produtores chineses com os quais competimos no mercado global não têm presença significativa no mercado norte-americano e, portanto, não seriam afetados (…) Uma tarifa dos Estados Unidos, portanto, inclinaria o campo de jogo a favor dos nossos concorrentes globais”, diz a Apple.

Apple pode mudar produção da China para Índia e Vietnã

China (Foto: Pexels)

Uma sobretaxa nos produtos importados da China não garantiria a criação de empregos nos Estados Unidos. Prova disso é uma informação publicada na quarta-feira (19) pela Nikkei Asian Review: a Apple teria perguntado aos seus principais fornecedores qual seria o custo de migrar entre 15% e 30% da capacidade de produção, atualmente em território chinês, para… o sudeste asiático.

Entre os fornecedores questionados estariam a Foxconn, Pegatron e Wistron, que montam os iPhones; e a Quanta Computer, responsável pelos MacBooks; a Compal Electronics, que produz iPads. Os países favoritos para receberem a produção seriam a Índia e o Vietnã, mas as empresas também estariam considerando o México, a Indonésia e a Malásia.

Talvez seja complicado fazer essa migração, já que a China investiu fortemente nos últimos anos em infraestrutura para comportar as fábricas — o governo ampliou as estradas, construiu dormitórios para os trabalhadores e simplificou as regras de importação e exportação de bens. Além disso, após a escolha do local, o início da produção poderia demorar ao menos 18 meses.

Segundo um analista do banco J.P. Morgan, ouvido pela CNBC, o preço de um iPhone XS subiria aproximadamente 14% para compensar a sobretaxa de 25% dos Estados Unidos sem afetar as margens de toda a cadeia de produção. Isso faria o preço de varejo do celular subir dos atuais US$ 999 para US$ 1.142. No Brasil, o aparelho custa R$ 7.299.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.