Aumentar limite do Pix no Nubank e grandes bancos é mais fácil do que deveria

Reduzir os limites do Pix oferece mais segurança, mas os valores podem ser facilmente elevados no PicPay, Caixa, Bradesco e outros bancos

Bruno Gall De Blasi
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Pix no aplicativo do Nubank (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

Os casos de sequestros-relâmpagos para roubos através de transferências do Pix vêm causando preocupação. Segundo um especialista em segurança da informação, reduzir os limites para transações feitas na plataforma pode ajudar a evitar que os criminosos “limpem” as contas das vítimas. Ainda assim, durante os testes realizados pelo Tecnoblog, instituições como o Nubank, Bradesco e C6 Bank autorizaram o aumento desses valores imediatamente após a solicitação pelos apps para celular.

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O Pix se tornou extremamente popular graças ao custo zero para pessoa física e MEI, além da praticidade em realizar transferências instantâneas a qualquer dia e horário: em julho, ele superou a soma de transações em TED, DOC e boleto.

No entanto, isso também facilitou o roubo de dinheiro: segundo dados do governo de São Paulo, o número sequestros-relâmpagos cresceu 39% entre novembro de 2020 (quando o Pix foi lançado pelo BC) e agosto de 2021. Isso levou a um projeto de lei em SP que quer proibir o uso do Pix no estado.

Além disso, um deputado federal pediu explicações ao Ministério da Economia e ao Banco Central sobre os mecanismos de prevenção a fraudes no Pix. João Manoel Pinho de Mello, do BC, disse este mês em uma coletiva à imprensa:

“O crime de fraude e violento associado aos meios de pagamento eletrônicos se deve ao fato principalmente porque, com a pandemia e da diminuição de mobilidade, tem usado cada vez mais aplicativos nos seus celulares.”

João Manoel Pinho de Mello, diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central

Alteração de limite do Pix deveria ser “mais burocrática”

Daniel Barbosa, especialista em segurança da informação da ESET, explica ao Tecnoblog que existem algumas alternativas para evitar a transferências de quantias muito altas, como deixar valores muito pequenos na conta corrente. “Com a ausência de fundos não será possível realizar transferências em valores elevados”, ele afirma.

Além disso, os consumidores podem limitar as transações via Pix. A alteração de limites pode ser realizada através de diversos meios, como apps de banco. Em algumas instituições, os clientes conseguem modificar esses valores imediatamente após o preenchimento de sua senha, o que torna esse processo menos burocrático.

Por outro lado, a simplicidade nesse procedimento pode ser um pouco mais deficiente quando o assunto é segurança (grifo nosso):

“Se é possível alterar o limite do Pix para R$ 50 e o criminoso coagir uma vítima a aumentar esse limite, nada impedirá que transferências de valores mais elevados aconteçam. Para deixar o processo mais seguro, uma sugestão é deixar a alteração de limites mais burocrática, por exemplo, permitindo que as alterações de limite feitas pelo aplicativo entrem em vigor apenas 48 horas depois de configuradas”.

Daniel Barbosa, especialista em segurança da informação da ESET

Alteração no limite do Pix pelos apps do Bradesco (esquerda) e Next (direita) (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)
Alteração no limite do Pix pelos apps do Bradesco (esquerda) e Next (direita) (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)

Quanto tempo leva para os limites do Pix serem alterados?

Tecnoblog realizou testes com apps de bancos e fintechs nas últimas semanas para saber como são esses ajustes na prática. Em algumas instituições, o limite é alterado logo após a confirmação de informações, como senha, dados pessoais e token. O reajuste imediato aconteceu até mesmo ao solicitar o acréscimo para valores elevados.

Instituição financeiraQuando limite mais alto foi aprovado?Observação
Nubankimediatamentelimite foi de R$ 100 para R$ 10 mil
Bradescoimediatamentelimite foi de R$ 2.600 para R$ 15 mil
Nextimediatamentelimite foi de R$ 1 mil para R$ 10 mil
C6 Bankimediatamente
PicPayimediatamente
PagSeguroimediatamentenova alteração só é possível após 10 dias
Caixaapós confirmar pedido usando código recebido por SMSlimite foi de R$ 500 para R$ 5 mil
Interapós aprovação por parte do bancoaprovação do banco levou cerca de 6 minutos
Itaúapós aprovação por parte do bancolimite diurno (entre 6h e 20h) foi de R$ 350 para R$ 35 mil; limite noturno (entre 20h e 6h) foi de R$ 250 para R$ 25 mil
Santanderapós aprovação por parte do banco
Banco do Brasilapós confirmação via internet banking ou caixa eletrônico

Pelo aplicativo do Bradesco, o aumento de R$ 2.600 para R$ 15 mil foi autorizado imediatamente após a configuração. O processo é parecido com o do app do Next, cujo limite subiu de R$ 1 mil para R$ 10 mil no mesmo instante. As duas plataformas, no entanto, avisam que só é possível fazer transações de até R$ 5 mil entre 20h e 6h.

O mesmo aconteceu ao solicitar o ajuste pelo Nubank, cujo teto aumentou de R$ 100 para R$ 10 mil na mesma hora após a confirmação com a senha; mas o app avisa que “transações consideradas suspeitas serão bloqueadas, mesmo dentro do limite horário”. A alteração ainda foi aprovada imediatamente após o aceite nos apps de outras instituições, como o C6 BankInter e o PicPay.

Alteração de limite no app do Inter (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)
Alteração de limite no app do Inter (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)

O app do PagSeguro também aumentou o limite no mesmo instante. Mesmo assim, os clientes só conseguem solicitar um novo valor depois de dez dias. A plataforma ainda aplica um limite fixo de R$ 1 mil entre 0h e 6h.

Em outras instituições, além da senha, é preciso receber a confirmação de intermediários para fazer o ajuste. É o caso do Santander que, para aumentar o limite, precisou de uma aprovação por parte do banco. A situação é parecida com a do Itaú, que enviou o pedido para uma análise que será concluída em 24h.

Pelo app da Caixa, o valor subiu de R$ 500 para R$ 5 mil no mesmo instante, mas foi preciso confirmar o pedido via SMS. Já o Banco do Brasil aplicou a maior barreira até aqui: em caso de aumento, o aplicativo solicitou a autorização do novo limite via internet banking ou em caixa eletrônico.

Alteração do limite no app do Banco do Brasil (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)
Alteração do limite no app do Banco do Brasil (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)

Banco Central implementa mais limites em transações

O Banco Central (BC) anunciou novas regras para incrementar a segurança do Pix e de outros métodos de pagamento. As determinações estipulam que os limites para transações via Pix e TED até podem ser elevados à noite através de canais digitais, como aplicativos – mas o banco só poderá responder à solicitação depois de 24 horas. 

Há ainda outras alterações: é o caso do limite para transferências de até R$ 1 mil entre 20h e 6h para pessoas físicas e MEI. Esta regra vai valer tanto para Pix quanto para transações via TED e cartões de débito ou pré-pago.

Ao Tecnoblog, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) considerou como positivo o novo conjunto de medidas do BC para aprimorar a segurança do Pix e outros meios de pagamento e que vai “aprofundar sua análise e manterá a interlocução com a autoridade monetária”:

“A segurança dos clientes e usuários permanece como prioridade para o setor bancário, que mantém seu compromisso com as autoridades policiais para prover informações e apoio para as investigações que ocorrem com o envolvimento de quaisquer crimes financeiros.

A Febraban lembra ainda que os canais digitais oferecem maior conveniência e segurança nas transações financeiras. No entanto, se ainda assim o cliente entenda necessário, poderá solicitar ao seu banco a redução dos limites transacionados, para se adequar às suas necessidades.

As instituições financeiras irão se preparar tecnicamente nos próximos dias para a implementação das novas medidas”.

Federação Brasileira de Bancos (Febraban)

Daniel Barbosa, especialista da ESET, também vê um lado positivo nas novas regras. “Impor um limite de transferências, mesmo que em determinado período de tempo, é uma forma de conter as perdas causadas por este tipo de crime”, disse. “Considero que são boas medidas que visem a segurança dos usuários, mas entendo que medidas adicionais possam ser tomadas para tornar as perdas ainda menores, é necessário sempre pensar em melhorias”.

Pix (Imagem: Divulgação / Banco Central)
Pix (Imagem: Divulgação / Banco Central)

As instituições financeiras afirmaram que estão acompanhando a publicação das novas medidas e que vão se adequar às novas regras do Banco Central. O Itaú ainda reforçou que, desde 3 de setembro, as solicitações de aumento de limite do Pix passaram a ocorrer somente 24 horas após a solicitação. 

Mas ainda não se sabe quando as determinações serão implementadas. Em resposta ao Tecnoblog, o Banco Central afirmou que “não há data definida para o início das novas regras de implementação de mecanismos adicionais de segurança que foram anunciadas”.

O que dizem os bancos?

Ao Tecnoblog, o Itaú informou que as reduções de limite acontecem imediatamente. “Já as solicitações de aumento serão processadas após um intervalo de 24 horas, em linha com as medidas anunciadas pelo Banco Central”, informaram. “O Itaú reforça seu compromisso com a segurança e orienta que os clientes revisem seus limites, adequando-os às suas necessidades”.

PagSeguro adota medida similar, mas o período de análise pode levar até 1 hora. “A alteração de limite passa por aprovação da área de risco e a solicitação de aumento é limitada a 15% do limite atual a cada solicitação”, afirmaram. O Banco do Brasil informou que é preciso confirmar o aumento em caixas ou pelo internet banking.

Alteração de limite no PagSeguro (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)
Alteração de limite no PagSeguro (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)

Já o PicPay disse que “a alteração é feita pelo app em poucos segundos e o novo limite fica disponível imediatamente”. Mas, caso o pedido seja de um valor acima de R$ 80 mil, a fintech afirma que a solicitação será analisada pelo time responsável. “Para pedidos feitos até 20h, o prazo de análise é de uma hora”, explicaram. “Após esse horário, a solicitação será respondida até 7h do dia útil seguinte”.

De acordo com o Inter, os clientes podem solicitar as alterações de limites pelo aplicativo do banco, que segue todas as regulamentações vigentes: “não existe necessidade de aprovação em nenhum intermediário”. Questionado sobre período de tempo para que o novo valor entre em vigor, a instituição disse que está “acompanhando o posicionamento do BACEN [Banco Central]”.

Alteração de limite no app do Nubank (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)
Alteração de limite no app do Nubank (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)

Nubank também não revelou quanto tempo leva para o pedido ser aprovado. Mas reforçou que “mantém monitoramento constante dos mecanismos de segurança do aplicativo e das operações realizadas pelos seus usuários”. A Caixa seguiu na mesma linha e disse que adota medidas como a diferenciação do limite do Pix por horários, além de uma estratégia de comunicação para prevenção de fraudes e golpes.

O C6 Bank informou que, desde 6 de setembro, o ajuste do limite do Pix só fica disponível a partir do próximo dia útil. O Bradesco e o Santander, por sua vez, orientaram entrar em contato com a Febraban. O órgão explicou que, em caso de aumento do limite dentro do horário útil bancário, as instituições têm até 1h para dar um retorno. Fora desse período, “as instituições poderão responder à solicitação ao longo da próxima hora útil subsequente”.

“Somado a todo aparato, as instituições financeiras também lidarão com informações de histórico do cliente e outras de segurança do próprio ecossistema Pix para aprovarem as transações, como mensageria criptografada, autenticação biométrica, tokenização e todos os meios disponíveis para segurança da transação. O Pix, assim como outros meios eletrônicos, tem transações integralmente rastreáveis”.

Federação Brasileira de Bancos (Febraban)

Atualizado às 18h28 com o posicionamento do C6 Bank.

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Bruno Gall De Blasi

Bruno Gall De Blasi

Ex-autor

Bruno Gall De Blasi é jornalista e cobre tecnologia desde 2016. Sua paixão pelo assunto começou ainda na infância, quando descobriu "acidentalmente" que "FORMAT C:" apagava tudo. Antes de seguir carreira em comunicação, fez Ensino Médio Técnico em Mecatrônica com o sonho de virar engenheiro. Escreveu para o TechTudo e iHelpBR. No Tecnoblog, atuou como autor entre 2020 e 2023.

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