Crise faz Boeing suspender produção dos aviões 737 Max
Impedidos de voar, 400 aviões Boeing 737 Max estão parados nos pátios da companhia
Impedidos de voar, 400 aviões Boeing 737 Max estão parados nos pátios da companhia
Quando expliquei como o Boeing 737 Max virou um vilão na aviação comercial, cheguei a ser insultado por um fã da empresa por ter usado o termo “vilão”. Mas a aplicação dessa figura de linguagem não foi exagerada: a crise proporcionada por essa linha de aviões persiste, tanto que a fabricante decidiu suspender a produção dos modelos 737 Max a partir de janeiro de 2020.
De modo geral, a expectativa das companhias aéreas era a de que os problemas que fizeram os voos com o Boeing 737 Max serem suspensos em todo o mundo tivessem sido resolvidos a essa altura. Mas estamos na reta final de 2019 e não há nada indicando uma solução no curto prazo.
A Boeing tem trabalhado na revisão dos sistemas da linha 737 Max, mas, até o momento, esses esforços não foram suficientes. Basicamente, inconsistências técnicas têm impedindo que a linha receba uma nova certificação para voar da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês) e de entidades equivalentes em outras partes do mundo.
Paralelamente aos esforços para resolver os problemas, a Boeing vinha mantendo a produção da linha 737 Max, até porque a companhia esperava que ela estaria apta para voar até o final de 2019. Mas, sem a nova certificação da FAA e outros órgãos reguladores, as companhias aéreas não podem introduzir essas aeronaves em suas operações.
O efeito disso é perceptível nos pátios da Boeing, abarrotados: a companhia tem atualmente cerca de 400 aviões 737 Max ainda não entregues. Por conta disso, a empresa decidiu, nesta semana, “priorizar a entrega das aeronaves armazenadas e suspender temporariamente a produção no programa 737”.
Ainda não se sabe quanto tempo a suspensão durará, mas a Boeing dá a entender que, por ora, a decisão não culminará em demissões. Apesar disso, o momento é delicado: com a produção paralisada, uma extensa cadeia de fornecedores poderá ser prejudicada, situação capaz inclusive de causar efeitos sobre a economia americana.
Os impactos serão mais ou menos intensos de acordo com a duração da suspensão. Mas, como já dito, não há previsão para que a produção das aeronaves 737 Max seja retomada.
Para piorar, o clima é de desgaste na relação entre Boeing e FAA. Um funcionário do órgão chegou a declarar que existe a percepção de que algumas declarações públicas da Boeing foram dadas com o intuito de forçar a FAA a agir mais rapidamente.
No centro da crise da Boeing — a maior da história da companhia — está o MCAS, software desenvolvido especificamente para a linha 737 Max que corrige a inclinação do avião sob determinadas circunstâncias para evitar um estol (perda sustentação).
Investigações apontam preliminarmente a atuação indevida do MCAS como causa principal da queda dos voos JT610 da Lion Air e ET302 da Ethiopian Airlines. Juntos, os dois acidentes resultaram na morte de 346 pessoas.
Com informações: The New York Times.