EUA secretamente testaram eleição via blockchain, mas não deu certo

Antes das eleições de 2020, o USPS desenvolveu em segredo um sistema eleitoral em blockchain nos EUA, mas projeto foi descontinuado por problemas de segurança

Bruno Ignacio
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Contagem de votos nas eleições dos EUA (Imagem: Clay Banks/Unsplash)

O voto a distância é um assunto muito discutido nos Estados Unidos e que recebeu mais atenção durante a pandemia de COVID-19. Por isso, o USPS (Serviço Postal dos EUA) desenvolveu e testou em segredo um sistema de votação pela internet, resguardado pela tecnologia blockchain, antes das eleições de 2020. Claro, não deu nada certo e o projeto foi descontinuado.

Essas informações só foram divulgadas nesta última terça-feira (14), quando o USPS confirmou a existência do projeto ao The Washington Post. No entanto, o sistema de votação em blockchain teria sido puramente “exploratório”, tanto que foi abandonado em 2019 depois que pesquisadores da Universidade do Colorado descobriram falhas de segurança, incluindo riscos de falsificação de identidade, ataques cibernéticos e “técnicas” que comprometiam a privacidade dos usuários.

Votação em blockchain traria ainda mais problemas

Um desses pesquisadores disse ao veículo que acreditava que o sistema de votação em blockchain, na verdade, causava mais problemas do que resolvia. Possíveis sistemas eleitorais pensados para realizar votações online já vinham sendo estudados, mas são alvos de muitas preocupações e críticas de especialistas em segurança.

Nesse sistema experimental da USPS, os eleitores poderiam votar através de um aplicativo mobile. No entanto, as possíveis brechas de segurança prejudicariam ainda mais a confiança dos americanos no sistema democrático atual, especialmente após as polêmicas envolvendo a eleição de 2016. Como resultado, milhões de eleitores dos Estados Unidos já dizem não acreditar nos resultados das eleições presidenciais de 2020.

 EUA permitem votar a distância, enviando cédula pelo correio (Imagem: Tiffany Tertipes/ Unsplash)
EUA permitem votar a distância, enviando cédula pelo correio (Imagem: Tiffany Tertipes/ Unsplash)

De acordo com uma pesquisa do Morning Consult realizada em janeiro, menos de 35% dos eleitores do Partido Republicano disseram que confiavam nas eleições dos EUA. Parte dessa desconfiança foi provavelmente ampliada durante a pandemia, quando houve um aumento drástico nos votos por correspondência.

USPS desenvolveu e testou projeto em segredo

Os detalhes do sistema de votação em blockchain desenvolvido pelo USPS não foram revelados, mas o mais interessante dessa história é a falta de transparência de todo o projeto. Ele não foi coordenado com outras agências federais e a Universidade do Colorado teve que assinar um acordo de sigilo que a impedia de divulgar o nome da instituição envolvida.

Conforme apurou o The Washington Post, funcionários de segurança eleitoral que acabaram de saber da existência do projeto de votação em blockchain se preocuparam que isso pudesse minar ainda mais a confiança dos americanos no atual sistema eleitoral.

Além disso, a ideia do USPS divergia do que outras agências federais dos EUA estavam fazendo. Outros possíveis sistemas de votação também estavam sendo estudados, pensando em medidas de segurança eleitoral adicionais após as eleições de 2016. No entanto, nenhum deles envolvia a internet, e muito menos redes blockchain. Na realidade, a maioria dos testes focava no uso e verificação de autenticidade de cédulas de papel.

Voto presencial nos EUA com cédula eleitoral (Imagem: Arnaud Jaegers/ Unsplash)
Voto presencial nos EUA com cédula eleitoral (Imagem: Arnaud Jaegers/ Unsplash)

Essa não foi a primeira vez que o USPS considerou o voto online. O órgão federal vem pensando naqueles que não podem votar facilmente, como soldados e pessoas com deficiência. Mas esse último teste serviu como um exercício prático do que poderia ser aplicado a um grande número de eleitores, não apenas a um pequeno grupo que não pode usar o correio ou votar presencialmente.

No entanto, enquanto houver a mais pequena possibilidade de fraude, nada disso deve sair do papel. No final das contas, o resultado foi o mesmo com ou sem o teste realizado pelo USPS: a eleição de 2020 continuou a depender de cédulas físicas e as agências federais se concentraram mais em reduzir as chances da Rússia e outras entidades de adulterarem a votação.

Com informações: Gizmodo, The Washington Post

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Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

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