Com ajuda de exoesqueleto, um paraplégico deu o primeiro chute na Copa do Mundo, mas quase ninguém viu
Permeada por escolhas duvidosas de repertório, figurino e coreografia, sem discurso de abertura e sendo alvo de muitas críticas, a abertura da Copa aconteceu ontem à tarde e nem de longe foi o evento que a gente esperava – como brasileiros e como entusiastas da tecnologia, do avanço da ciência e da importância de um exoesqueleto criado por brasileiros que permite que paraplégicos andem novamente.
Falamos dele no começo da semana: criado por uma equipe de 156 pesquisadores liderados pelo neurocientista Miguel Nicolelis (que já apareceu na lista dos 20 cientistas mais importantes do mundo e já foi indicado ao prêmio Nobel), se trata de uma estrutura que permite que paraplégicos andem novamente a partir de sua atividade cerebral.
O projeto é chamado Walk Again e há anos sua participação na abertura da Copa é esperada. A promessa era de que um voluntário, utilizando o exoesqueleto, iria dar o primeiro chute da Copa no gramado do Itaquerão, e foi isso que aconteceu.
Só que não foi bem como esperado. Para começar, a FIFA não permitiu que o gramado fosse utilizado, porque o peso da estrutura poderia prejudicá-lo; a movimentação ficou fora dele. A cena foi super rápida – Nicolelis disse que a FIFA só liberou 29 segundos para o experimento, um tempo absurdo para um experimento dessa dificuldade e importância. “Nunca ninguém fez uma demonstração em 29 segundos de robótica. Isso não existe em lugar nenhum do mundo. Foi um esforço dramático de todas essas pessoas que estão aqui. E nós realizamos em 16”, disse o neurocientista ao G1.
E, pior de tudo, foi a filmagem do chute: nessa hora, a Rede Globo dividiu a tela com a chegada do ônibus da seleção brasileira ao Itaquerão, e a narração de Galvão Bueno ficou só sobre o ônibus. Depois, a imagem foi exibida novamente na tela inteira com a explicação, bem rasa, do que estava ocorrendo.
Foi tão rápido que até o garoto vestido de juiz levando a bola embora apareceu mais. Se você não viu, a gente mostra:
É muito triste ver a prioridade que a ciência tem por aqui ser comprovada durante a abertura da Copa do Mundo, quando o mundo todo está assistindo nosso país. Mas, apesar do tempo curto e da negligência da Rede Globo em mostrar e noticiar o feito, ele ocorreu e, sim, foi um momento histórico para a ciência no Brasil (e no mundo) e para quem se importa com ela.
Do grupo de oito voluntários da pesquisa, Juliano Pinto, de 29 anos, que tem paraplegia de tronco e membros inferiores, foi o escolhido para ir à abertura. O exoesqueleto está sendo desenvolvido desde 2002 e desde 2009 a pesquisa de Nicolelis está focada em sua “estreia” na abertura da Copa.