O recurso do Facebook que alerta sobre notícias falsas ainda não funciona muito bem

Paulo Higa
• Atualizado há 6 meses

O Facebook apresentou em dezembro um recurso que alerta quando uma notícia é falsa: a rede social mostra uma faixa dizendo que o conteúdo do link publicado por um amigo foi “contestado” por uma ou mais agências de verificação de fatos. Mas a tecnologia ainda não funciona muito bem.

Uma notícia falsa envolvendo Donald Trump informava que o Android do presidente dos Estados Unidos foi a fonte de vazamentos recentes da Casa Branca — ele utiliza um Galaxy S3, smartphone lançado em 2012 que não recebe mais atualizações de segurança. O The Seattle Tribune publicou a notícia falsa no dia 26 de fevereiro. No entanto, segundo o Recode, ela ficou cinco dias sem nenhuma contestação.

A notícia já possui mais de 81 mil curtidas, compartilhamentos e comentários. A primeira contestação veio somente no dia 2 de março, por parte da Snopes. Uma segunda verificação foi feita pela Politifact na tarde de 3 de março, seis dias após a publicação original — tempo suficiente para que a notícia falsa se espalhasse pelo feed de notícias de muita gente.

Essa lentidão já seria um problema, mas há outra questão: o The Seattle Tribune é um site que produz apenas notícias falsas. A própria publicação informa que se trata de um site de entretenimento e que “todas as notícias contidas no The Seattle Tribune são ficcionais e presumivelmente satíricas”. É um site com a mesma proposta do Sensacionalista: não havia nenhuma possibilidade da notícia ser verdadeira.

O alerta do Facebook é muito dependente de humanos. Para que uma notícia receba o selo de “falsa”, ela primeiro deve ser reportada como boato pelos usuários. Depois, o link é enviado para as agências parceiras do Facebook, com humanos que verificam as informações publicadas. Por fim, se (e somente se) a notícia for contestada por duas agências, o selo de contestação é exibido.

Faz sentido que o Facebook seja cauteloso para que a ferramenta de notícias falsas não acabe virando um instrumento de censura. Mas fica a dúvida se a rede social não deveria agir mais rapidamente nessas situações, digamos, óbvias.

Atualização às 17h16. O Facebook entrou em contato para informar que o aviso de notícias falsas ainda não está sendo testado no Brasil. Além disso, a empresa ressaltou o caráter informativo do recurso, que apenas alerta aos usuários que um conteúdo é potencialmente falso antes que eles cliquem ou compartilhem a publicação, sem impedir o acesso à notícia.

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Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.