Falta de computador em casa dificulta ensino remoto na pandemia
Pesquisa mostra que, na pandemia, 86% das escolas relataram falta de dispositivos adequados e 93% precisaram agendar retirada de materiais impressos
Pesquisa mostra que, na pandemia, 86% das escolas relataram falta de dispositivos adequados e 93% precisaram agendar retirada de materiais impressos
A mais recente pesquisa TIC Educação revela que a inclusão digital pelo celular não foi suficiente para permitir o ensino remoto durante a pandemia de COVID-19. Segundo dados do levantamento realizado pelo Cetic.br, 86% das escolas relatam que a falta de dispositivos adequados e de conexão com a internet foi um desafio durante o fechamento.
Em fala repercutida pelo Convergência Digital, Fabio Senne, coordenador das Pesquisas TIC do Cetic.br, diz que a falta de computadores é um fator de desigualdade no acesso.
“O computador é central para acompanhamento de ensino, mas entre os estudantes de mais de 16 anos das classes D e E, diminui muito a proporção dos que têm o equipamento. E na faixa de 10 a 15 anos, só 29% usam computador.”
Essa queixa ficou em segundo lugar na lista de desafios apontados pelas escolas. Em primeiro, com 93%, foram as dificuldades dos pais e responsáveis para ajudar as crianças nas atividades escolares.
A pesquisa também mostra que a dificuldade de acesso ao ensino remoto foi tanta que muitas escolas tiveram que recorrer a materiais impressos.
Segundo o questionário, 93% delas marcaram dias e horários para que os responsáveis pudessem ir pessoalmente buscar atividades para as crianças. Esta foi a medida mais adotada para continuar com a educação na pandemia.
Em segundo lugar, ficou a criação de grupos online com alunos e responsáveis em plataformas como WhatsApp e Facebook. De acordo com a pesquisa, 91% das escolas recorreram a essa prática.
Mais uma vez, isso reforça a dependência do celular, já que redes sociais e mensageiros são bastante acessíveis por aparelhos móveis.
Outro ponto que sugere dificuldade de acesso é a preferência por gravações em vez de ferramentas de videoconferência como Zoom, Google Meet ou Microsoft Teams. Plataformas dedicadas ao ensino são ainda menos usadas.
Na pesquisa, 79% das escolas disseram ter recorrido a gravações de aulas em vídeo para os alunos, enquanto 65% fizeram reuniões ao vivo. As videoconferências foram ainda menos utilizadas em escolas rurais (39%), municipais (48%) e com até 50 alunos (43%).
O uso de ferramentas específicas para educação, como Google Classroom, foi ainda menor: ele esteve presente em 58% de todas as escolas. Novamente, escolas rurais (34%), municipais (42%) e com até 50 alunos (39%) recorreram menos a essas plataformas.
Tipo de escola | Aulas gravadas | Aulas ao vivo | Plataforma de educação |
Total | 79% | 65% | 58% |
Rural | 59% | 39% | 34% |
Municipal | 70% | 48% | 42% |
< 50 alunos | 63% | 43% | 39% |
Nos últimos anos, as pesquisas TIC Domicílios já vêm mostrando que o crescimento do número de usuários da internet tem se dado principalmente por celulares.
Lares com acesso à internet passaram de 50% em 2014 para 83% em 2020. Já a porcentagem da população que diz usar a rede foi de 58% para 81%.
2014 | 2020 | |
Domicílios com acesso | 50% | 83% |
Usuários de internet | 58% | 81% |
Por outro lado, a porcentagem de usuários de internet que acessam a rede pelo computador caiu de 80% para 42% no mesmo período. Até as TVs representam uma parte maior do acesso, com 44%.
O grande crescimento no acesso se deu pelo celular: em 2014, 76% dos usuários entravam na internet pelo aparelho móvel; em 2020, já são 99%.
Meio de acesso | 2014 | 2020 |
Computador | 80% | 42% |
TV | 7% | 44% |
Celular | 76% | 99% |
A situação do computador e da banda larga melhorou um pouco no último ano. Em 69% das casas há internet banda larga, um crescimento de 8% em relação ao ano anterior. Já os domicílios com computador são 45%, um aumento de 6%.
Mesmo assim, dados da edição de 2020 reforçam a dependência do celular. Os usuários de internet que acessam a rede exclusivamente pelo aparelho móvel são 58%.
Esse percentual é ainda maior entre crianças de 10 a 15 anos, justamente um grupo em idade escolar: 71% dos usuários de internet nessa faixa etária entram na internet apenas pelo celular.
Nas classes D e E, o percentual de usuários que só se conectam pelo dispositivo móvel é de 90%.
Você pode ver mais dados das pesquisas TIC Educação e TIC Domicílios no site do Cetic.br.
Com informações: Cetic.br 1, 2, Convergência Digital