Fundador do Telegram critica Apple por acordo com governo da China

Veja crítica do fundador e CEO do Telegram Pavel Durov à Apple por entregar dados de seus clientes chineses a uma empresa estatal

Pedro Knoth
• Atualizado há 3 anos
Pavel Durov no evento TechCrunch Disrupt Europe: Berlin 2013 (Imagem: Dan Taylor)

Pavel Durov, CEO e fundador do app de mensagens privadas Telegram, principal concorrente do WhatsApp, criticou a Apple o iPhone, produto mais famoso da marca. O motivo: a parceria firmada entre gigante americana e o governo chinês para monitorar usuários no país.

Apple entrega controle de dados de clientes a firma estatal

Segundo o jornal New York Times, a Apple transferiu a base cadastral de dados de seus consumidores na China para um servidor controlado por firmas ligadas ao governo. “É triste, mas não é surpreendente: as big techs geralmente escolhem o lucro sobre a liberdade”, disse Pavel Durov em publicação aos 590 mil inscritos em seu canal do Telegram.

A China é um mercado inestimável para grandes empresas de tecnologia, com consumidores vorazes por novas inovações e aparelhos. A entrada da Apple no país há duas décadas gerou uma simbiose bastante lucrativa — 20% de sua receita vem de lá. Segundo pesquisa da KPMG de 2018, 53% dos chineses afirmam que estão muito interessados em novas tecnologias e em comprar primeiro novos aparelhos. Mas na medida em que a Apple expande suas operações, o governo local demanda vigilância.

A empresa monitora atentamente a App Store na China para barrar conteúdo que seja contra o governo e que passe desapercebido por oficiais chineses, e o faz por meio de softwares e denúncias de funcionários. Nos últimos anos, segundo o NYT, dezenas de milhares de apps sumiram da loja virtual, relacionados a mensagens privadas, notícias internacionais e relacionamento gay. Inclusive foram censurados aplicativos usados para organizar protestos pró-democráticos.

A parceria entre Apple e China passa pela construção de um enorme servidor para armazenar as informações de clientes chineses. A intermediária oficial é a Guizhou-Cloud Big Data, ou GCBD — para a Apple, é detentora de todos os dados do iCloud no país. O governo deve aprovar toda e qualquer criptografia da Apple que é adotada no país, com o objetivo de acessar as informações armazenadas.

iPhone “te faz um escravo digital da Apple”, diz Durov

Durov deu ainda voz a uma crítica comum de usuários da Apple: a impossibilidade de usar serviços fora do guarda-chuva da empresa. “Ser dono de um iPhone te faz um escravo digital da Apple”, afirma Pavel; “não é para menos que a estratégia totalitária da Apple é tão bem-vista pelo Partido Comunista da China, que – graças à Apple – agora tem controle total de todos os cidadãos que usam o iPhone.”

Para o fundador do Telegram, a empresa possui um modelo de negócio baseado em vender hardware obsoleto a preços exorbitantes para consumidores. E não faltaram críticas ao principal produto da Apple: “toda vez que eu tenho de testar nosso app para iOS e usar um iPhone, parece que volto à Idade Média. O display de 60 Hz do iPhone não compete com de 120 Hz de aparelhos de Android modernos”, disse Durov.

Críticas à Apple não são incomuns a Durov. Em novembro de 2020, ele compartilhou em seu canal uma publicação comentando sobre o iPhone 12 Pro, recém-lançado na época: “acabei de experimentar o novo iPhone 12 Pro – que dispositivo de hardware ultrapassado. (…) Em cerca de 7-10 anos a participação do iPhone no mercado global será negligenciável”.

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Pedro Knoth

Pedro Knoth

Ex-autor

Pedro Knoth é jornalista e cursa pós-graduação em jornalismo investigativo pelo IDP, de Brasília. Foi autor no Tecnoblog cobrindo assuntos relacionados à legislação, empresas de tecnologia, dados e finanças entre 2021 e 2022. É usuário ávido de iPhone e Mac, e também estuda Python.