Samsung finalmente explica como o Galaxy Note 7 virou uma “bomba”
Sim, a culpa é mesmo da bateria
Foram meses de espera acompanhados de teorias vindas de todos os cantos, mas finalmente temos uma explicação oficial da Samsung sobre a natureza instável do Galaxy Note 7: em uma transmissão ao vivo feita no domingo (22), a companhia confirmou que os casos de incêndio envolvendo a linha têm mesmo ligação com baterias ruins.
Quando um produto tem uma falha de projeto que coloca o usuário em perigo, a empresa responsável deve fazer uma campanha de recall ou, como foi o caso da Samsung, recolher as unidades. Depois disso, costuma-se esperar (ou torcer) para que o assunto caia no esquecimento.
Mas o caso do Galaxy Note 7 atingiu proporções muito grandes. Aeroportos e companhias aéreas de todo o mundo dão avisos até hoje sobre a proibição de uso do aparelho, só para você ter ideia. À Samsung não cabia outra opção que não fosse investigar o problema e se pronunciar a respeito. Esse é o jeito mais sensato de diminuir os estragos.
As causas
Pois bem. Foram quatro meses de testes com 200 mil unidades do Galaxy Note 7 recolhidas pela empresa, mais 30 mil baterias adicionais, além de 700 funcionários dedicados a esse trabalho.
DJ Koh, chefe da Samsung Mobile, começou o pronunciamento se desculpando pelo problema e, depois de alguns minutos, confirmou que o risco de incêndio se deve exclusivamente à bateria. A porta USB-C e o scanner de íris estavam entre os demais componentes suspeitos, mas todos foram “inocentados”.
O Galaxy Note 7 foi produzido com dois tipos de baterias. Para facilitar a compreensão, a Samsung as denominou bateria A e bateria B. No que foi classificado como uma infeliz coincidência, as investigações mostraram que os dois tipos podem sofrer curto-circuito, ainda que por razões diferentes.
A bateria A, fabricada pela divisão Samsung SDI, foi usada nas primeiras unidades do Galaxy Note 7. Após os primeiros casos de incêndio, a Samsung decidiu produzir o smartphone com baterias da chinesa Amperex Technology — estas são as baterias B. Mesmo com a troca, os problemas continuaram, você sabe (espero que não por experiência própria).
De acordo com as investigações, as baterias A têm, essencialmente, um excesso de compactação, digamos assim: em uma das pontas superiores do componente, na parte interna, não há espaço suficiente para a expansão natural dos eletrodos, o que causa uma pressão ali que favorece ocorrências de curto-circuito.
No projeto, as baterias B são mais seguras. Porém, um defeito de fabricação causou problemas na soldagem que, por sua vez, criam “rebarbas” microscópicas capazes de penetrar na bateria, basicamente. Quando isso acontece, o risco de curto aumenta sobremaneira.
Apesar de fabricadas por outra companhia, a Samsung assumiu a responsabilidade pelas baterias B. Nas palavras de Koh, o design agressivo do smartphone pode ter contribuído para o mau funcionamento do componente.
E agora?
Como que para dizer que os resultados são legítimos e não têm divergências, a Samsung afirma que três organizações independentes participaram dos testes: UL, Exponent e TÜV Rheinland. Se é assim, talvez o Galaxy Note 7 pudesse voltar ao mercado usando uma “bateria C” e alguma adaptação de projeto, certo? Teoricamente, sim, mas é claro que isso não vai acontecer.
Agora, as atenções da Samsung estão voltadas aos próximos lançados (talvez o Note 8 esteja entre eles, mas não há confirmação). Em um esforço para recuperar a confiança do mercado, a companhia disse que desenvolveu um programa com oito pontos de verificação para assegurar que esse tipo de problema não ocorra mais.
Essas etapas incluem um teste de raio-X para detectar anormalidades no interior da bateria e um processo de uso acelerado que simula em cinco dias o estado que o componente teria após duas semanas de utilização. Se os oito passos existissem antes, os problemas do Galaxy Note 7 teriam sido detectados em tempo hábil, segundo a Samsung.
Só descobriremos se essas medidas serão suficientes para a Samsung recuperar a credibilidade com a chegada do Galaxy S8 ou, se ele vier mesmo, do Galaxy Note 8. Nas previsões da empresa, o problema deverá causar atrasos nos lançamentos de smartphones, mas não muito longos. Sabe-se, porém, que o Galaxy S8 não será apresentado no próximo Mobile World Congress, contrariando as expectativas.
Não há informações oficiais, mas estima-se que essa novela toda tenha causado à Samsung prejuízo de pelo menos US$ 5 bilhões. Sob esse ponto de vista, os próximos smartphones topo de linha da marca serão mesmo cruciais para a companhia.