GAS Consultoria Bitcoin tem R$ 38 bilhões bloqueados e deixa de pagar clientes

Por determinação da Justiça, GAS Consultoria Bitcoin tem contas congeladas e deixa de pagar clientes; empresa de Cabo Frio é acusada de ser pirâmide financeira

Bruno Ignacio
• Atualizado há 11 meses

A GAS Consultoria Bitcoin, empresa acusada de ser um esquema bilionário de pirâmide financeira de criptomoedas, teve agora R$ 38 bilhões de suas contas bloqueados pela justiça. Assim, a companhia, cujo líder Glaidson Acácio dos Santos foi preso no final de agosto, deixou de pagar os rendimentos prometidos a seus clientes e está culpando as autoridades por isso.

Glaidson Acácio dos Santos (Imagem: Reprodução TV Globo)
Glaidson Acácio dos Santos (Imagem: Reprodução TV Globo)

GAS Consultoria culpa justiça

Conforme revelado por um áudio obtido pela Livecoins, que circula entre grupos da GAS Consultoria Bitcoin, os líderes da empresa estariam tentando reverter a decisão judicial. Além disso, a companhia acusada emitiu um comunicado a investidores nesta manhã de quinta-feira (16), culpando a justiça pela paralisação dos pagamentos aos clientes.

Segundo a GAS Consultoria, os R$ 38 bilhões das contas da empresa que foram congelados eram usados para pagar os clientes. Por isso, os pagamentos dos rendimentos de 10% ao mês teriam sido suspensos. “Todos sabem que em quase uma década de funcionamento a G.A.S. Consultoria sempre honrou integral e pontualmente os contratos com os seus clientes e nunca atrasou um pagamento sequer”, disse a companhia em nota.

Mesmo com as acusações de ser um grande esquema de pirâmide financeira e sendo investigada por crimes contra o sistema financeiro, organização criminosa e lavagem de dinheiro, a GAS Consultoria defende sua inocência. O ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, apontado como líder do grupo, foi preso preventivamente no dia 25 de agosto, durante a operação Kryptos, deflagrada pela Polícia Federal em conjunto com o GAECO/MPF.

GAS Consultoria Bitcoin movimentou R$ 38 bilhões (Imagem: Bermix Studio/ Unsplash)
GAS Consultoria Bitcoin movimentou R$ 38 bilhões (Imagem: Bermix Studio/ Unsplash)

As investigações apontam que Glaidson e a GAS Consultoria nem sequer investiam as aplicações de seus clientes em bitcoin (BTC), como prometiam. Ao invés disso, os valores seriam direcionados principalmente para contas pessoais.

“A G.A.S. Consultoria comunica ainda que possui patrimônio mais do que suficiente para honrar todas as obrigações assumidas. Mais ainda, comunica ter requerido à justiça o desbloqueio de bens, ao menos no limite necessário para evitar atrasos de pagamentos ajustados, o que não decorre de sua vontade ou responsabilidade.

A empresa reafirma o compromisso de cumprir, como vem cumprindo, há mais de nove anos, a missão de remunerar seus clientes, contribuindo para mudança na vida das pessoas, garantindo a elas a remuneração contratada.

Essa é a maior luta. A G.A.S. Consultoria tem certeza de que tudo será esclarecido e que a verdade e a justiça prevalecerão.”

Após investigações, Cabo Frio é apelidado de “Novo Egito”

As promessas de rendimentos surreais de 10% ao mês chamaram a atenção das autoridades em 2020, mas a GAS Consultoria realmente ganhou visibilidade ao ser investigada por uma reportagem do Fantástico em agosto. Pouco tempo depois, Glaidson foi preso.

Além disso, as investigações revelaram que a empresa, com sede em Cabo Frio, foi a principal responsável pelo município do Rio de Janeiro ser apelidado de “Novo Egito” pela concentração de pirâmides com bitcoin sediadas na região.

O Tecnoblog entrevistou o diretor do Departamento de Combate à Lavagem de Dinheiro e à Corrupção da Polícia Civil do Rio de Janeiro, delegado Flávio Porto, que confirmou que há ao menos dez outras empresas sendo investigadas na região por crimes financeiros.

Justiça vai vender bitcoin apreendidos

Justiça determina venda de bitcoins apreendidos em operação Kryptos (Imagem: Executium/ Unsplash)
Justiça determina venda de bitcoins apreendidos em operação Kryptos (Imagem: Executium/ Unsplash)

Durante a operação Kryptos, que prendeu Glaidson no final de agosto, a PF também apreendeu 591 bitcoins (equivalente a cerca de R$ 150 milhões), 21 carros de luxo, relógios de alto valor, joias e R$ 15 milhões em dinheiro vivo.

Os bitcoins confiscados durante a operação foram enviados para uma conta do Ministério Público Federal em uma corretora brasileira não especificada. A partir dela, a justiça determinou que as criptomoedas serão vendidas imediatamente.

Para possibilitar a apreensão das criptomoedas, o MPF, PF e a PGFN firmaram um acordo que resultou no confisco das carteiras de hardware de Glaidson. A partir delas, as moedas digitais foram retiradas. O Ministério Público, assim como a Câmara Criminal do MPF, concordou então em vender os bitcoins.

A decisão se baseia principalmente na volatilidade do ativo digital, que pode sofrer grandes variações de um dia para o outro. Na época da apreensão, cada bitcoin confiscado valia cerca de US$ 49 mil, mas, nesta quita-feira, seu preço já caiu para abaixo dos US$ 48 mil.

“Em decisão unânime e seguindo voto do coordenador da Câmara Criminal, o subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, o colegiado acolheu proposta apresentada pelos membros do Gaeco/RJ e aprovou, no caso em análise, a liquidação imediata dos criptoativos apreendidos. De acordo com o órgão superior, a transação deve ser feita por meio de uma corretora brasileira, observando plano de alienação por meio de lotes e sem qualquer custo para o Poder Público.”

Assessoria do MPF em comunicado

Com informações: Livecoins, Conjur

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Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.