Huawei tenta explicar como vai lançar Mate 30 sem Google
Huawei Mate 30 e 30 Pro não podem ter aplicativos do Google pré-instalados, o que dificulta lançamento fora da China
Huawei Mate 30 e 30 Pro não podem ter aplicativos do Google pré-instalados, o que dificulta lançamento fora da China
Direto de Munique — A Huawei renovou a linha Mate com câmeras aprimoradas para filmagem, processador mais rápido e uma tela OLED enorme com curvatura acentuada no modelo mais caro, mas há um problema: o Mate 30 e o Mate 30 Pro não podem vir com nenhum aplicativo do Google, devido às sanções americanas. Como a empresa vai lidar com isso? O CEO tentou explicar a situação.
Apesar de não ser um entrave na China, onde a Huawei continua vendendo bem, a ausência da Play Store é grave no ocidente, onde a dependência da gigante das buscas (e das empresas americanas em geral) é maior. Como a fabricante chinesa está impedida de fazer negócios com o Google, o Facebook, a Uber ou o Twitter, é difícil até mesmo popular sua loja de aplicativos própria, a AppGallery.
Por isso, não é de se espantar que o cronograma de lançamentos do Mate 30 ao redor do mundo… não exista ainda. Como destaca o GSMArena, o CEO Richard Yu confirmou que o Mate 30 será vendido inicialmente no continente asiático, já que a aceitação de um Android sem Google é maior nessa região. Já na Europa, outro mercado importante para a marca, os smartphones não têm nem previsão de lançamento, embora os preços tenham sido revelados no palco em euros.
A subsidiária latino-americana da Huawei também mudou sua estratégia de mídia. Até então, quando um novo smartphone premium era lançado, como no caso do P30 Pro, unidades de teste eram fornecidas aos veículos especializados logo após o evento de lançamento global, o que também agilizava a produção dos reviews. Desta vez, o produto será emprestado apenas nos países dos respectivos jornalistas em um momento indefinido no futuro.
Yu também declarou que “existem muitos aplicativos de terceiros e lugares onde você pode fazer download de qualquer aplicativo”, uma referência às lojas alternativas à Play Store, como a Aptoide — que afirma ter mais de 200 milhões de usuários ativos e pagar mais aos desenvolvedores, cobrando no máximo 19% de comissão para compras dentro de aplicativos, contra 30% ou 50% de outras lojas.
Mas o problema é mais profundo: certos aplicativos são dependentes não apenas das APIs de código aberto do Android, mas também de componentes proprietários do Google, que precisam ser licenciados. O exemplo mais óbvio são os jogos: alguns exigem que você instale o Google Play Games para serem executados. O mesmo vale para serviços de streaming de mídia ou que usem mapas do Google. E aí, como fica?
Nesse caso, é preciso instalar o Google Play Services. Como lembra o Android Authority, a única forma de fazer isso em um Mate 30 ou Mate 30 Pro, que não trazem nenhum componente do Google de fábrica, é com um bootloader desbloqueado. Não basta simplesmente fazer o download de um APK em um site aleatório e instalá-lo como se fosse um aplicativo comum.
A Huawei tem desencorajado os usuários a desbloquearem o bootloader de seus smartphones desde o ano passado, com a justificativa de que a prática de instalar uma ROM alternativa pode causar “falhas no sistema, travamentos, desempenho inferior de bateria e risco de comprometimento de dados”. Bom, parece que isso vai mudar.
“Nós limitamos [o desbloqueio de bootloader] porque queríamos garantir mais segurança aos consumidores. Mas desta vez daremos mais liberdade aos usuários para que eles possam fazer personalizações por conta própria. Então, estamos planejando permitir que os consumidores façam isso”, diz Yu ao Android Authority — sem explicar exatamente como funcionaria o processo de desbloqueio.
A conclusão é que nem mesmo a Huawei bateu o martelo final em sua estratégia de lançamento do Mate 30 na Europa ou nas Américas. Por enquanto, a empresa se esforça com o que tem: um celular que promete tirar fotos impressionantes, gravar em câmera ultra-lenta e atingir velocidades no 5G que nenhum outro aparelho consegue. Mas com um software que precisa de gambiarras para funcionar direito no ocidente.
E, como disse no hands-on, uma empresa desse tamanho não consegue sobreviver no ocidente vendendo para meia dúzia de entusiastas de tecnologia com milhares de reais no bolso para comprar um smartphone — para o usuário comum, é melhor simplesmente ir à loja e adquirir um aparelho que funcione.
Paulo Higa viajou para Munique a convite da Huawei.