Review Huawei P30 Pro: a câmera é tudo isso mesmo
Huawei volta ao Brasil com câmera que enxerga longe, desempenho impecável e design sofisticado, mas cobra por isso
Huawei volta ao Brasil com câmera que enxerga longe, desempenho impecável e design sofisticado, mas cobra por isso
Depois de três anos se aventurando em outros países, a Huawei voltou ao mercado de smartphones no Brasil. O destaque do retorno da fabricante chinesa é o P30 Pro, um celular topo de linha que promete muito desempenho, bateria de longa duração e design sofisticado, mas cujo principal diferencial é a fotografia.
O P30 Pro tem quatro sensores na câmera traseira, que faz questão de ressaltar a tradicional marca da Leica. Com uma combinação de hardware e software, a Huawei garante que você consegue tirar fotos da escuridão total, de cenários com muita variação de luz e de objetos bem distantes — até da lua.
Mas será que ele é tudo isso mesmo? Vale a pena pagar R$ 5.499 pelo celular da reestreia da Huawei no Brasil? Eu estou usando o P30 Pro como meu smartphone principal há mais de um mês e conto tudo nos próximos minutos.
Eu não consigo contar nos dedos quantas pessoas se impressionaram com o design do P30 Pro quando viram o aparelho pessoalmente. As imagens de divulgação da Huawei não fazem jus à beleza do produto porque elas não conseguem mostrar com fidelidade a traseira do celular, que muda de acordo com a luz. A minha unidade de testes, a Breathing Crystal, parece ser branca, mas também fica azul ou lilás, dependendo do ângulo.
Além de ser bonito, o P30 Pro tem boa ergonomia. O formato dele lembra os celulares mais caros da Samsung, como o Galaxy S10, com laterais curvadas tanto na traseira quanto na tela. Antes de colocar a capinha transparente de silicone, a construção do celular passa uma boa impressão, com botões precisos, bordas prateadas e componentes muito bem encaixados.
Existem alguns detalhes peculiares na carcaça do P30 Pro. O primeiro é um componente que eu não encontrava há muito tempo em celulares vendidos no Brasil: um sensor infravermelho, na borda superior, para controlar dispositivos como TVs, decodificadores e ares-condicionados. O aplicativo de controle remoto vem pré-instalado e funciona com uma infinidade de marcas.
O outro detalhe é que a bandeja para os dois chips de operadora fica embaixo, perto da entrada USB-C. E aqui temos um inconveniente: a Huawei decidiu que seria uma boa ideia inventar um novo formato de cartão de memória. Então, em vez de suportar microSD, como quase todo celular, o P30 Pro tem uma entrada para um tal de NM Card, que é do mesmo tamanho de um Nano-SIM. Talvez você não precise expandir a memória interna, mas, se precisar, boa sorte tentando comprar um NM Card por aí.
E, falando em decisões controversas, o P30 Pro também deixa de lado a entrada para fones de ouvido de 3,5 mm, um item cada vez mais raro nos celulares. Mas não só isso: a Huawei envia um fone de ouvido USB-C bem simples na caixa (que lembra muito os Apple EarPods) e… não manda um adaptador. Então, você precisa comprar o acessório por fora se quiser usar seu próprio fone de ouvido ou partir para um modelo Bluetooth mesmo.
A tela do P30 Pro é uma OLED de 6,47 polegadas com resolução de 2340×1080 pixels. Sim, ela tem menos definição que um Galaxy S10 ou iPhone XS, mas isso não chega a incomodar (e eu duvido que alguém perceba alguma diferença na nitidez do painel, mesmo comparando lado a lado). É um display de boa qualidade, com ótimo ângulo de visão e brilho forte o suficiente para permitir a visualização sob a luz do sol.
Os cantos do display são arredondados e as laterais são curvadas — mas, diferente da Samsung, a Huawei não desenvolveu nenhum recurso de software específico para aproveitar esse detalhe; é só uma questão de design mesmo. Existe um notch em formato de gota para abrigar a câmera frontal de 32 megapixels e, como de costume, ele pode ser ocultado via software.
O leitor de impressões digitais fica sob a tela. Apesar de ser óptico, não ultrassônico, ele funciona bem no dia a dia. O sensor não consegue ler minha digital quando meu dedo está suado ou levemente molhado, mas, em condições normais de temperatura e pressão, é bastante rápido e preciso. A implementação de software da Huawei foi boa, de modo que eu sempre sei exatamente onde colocar o dedo ali.
E tem mais coisa escondida embaixo do display. A Huawei não colocou um alto-falante frontal para ouvir ligações telefônicas (ou mensagens de voz no WhatsApp, se você for do século XXI). Em vez disso, ele tem um speaker interno que vibra a tela para emitir som. É tão natural e funciona tão bem que eu só pensei nele duas vezes — quando acompanhei o evento de lançamento em Paris e quando estava fazendo este review.
O P30 Pro vem com Android 9.0 Pie, mas isso não importa tanto, porque o visual não lembra em quase nada o Android do Google. A interface da Huawei é a EMUI, que pega emprestado vários detalhes do iOS, assim como fazem outras fabricantes chinesas.
Por padrão, todos os ícones de aplicativos são quadrados com cantos arredondados e ficam espalhados pelas telas iniciais; se você quiser um menu de aplicativos, precisa fuçar nas configurações. O visual é todo branco e, por algum motivo, a Huawei decidiu esconder o modo noturno nativo do Android: pesquisando um pouco, você vai encontrar uma opção chamada “Esmaecer cores da interface” no menu de bateria. Porque sim.
Quem quiser deixar o P30 Pro mais parecido com um iPhone pode ativar a navegação por gestos, que elimina a barra tradicional com os botões de voltar, início e multitarefa: é só deslizar para cima para abrir a tela inicial; dar uma paradinha antes para ver os aplicativos abertos; e deslizar a partir da lateral para voltar. Esse último gesto não funciona bem porque entra em conflito com aplicativos que possuem menus laterais — se a Huawei mantivesse os gestos nativos do Android, a incompatibilidade não existiria.
Na versão ocidental, além do pacote padrão do Google, a Huawei manda uma série de aplicativos pré-instalados. A maioria é bem útil, com destaque para o Controle Remoto, o gerenciador de arquivos e o navegador da Huawei, que suporta modo noturno nas páginas para não ofuscar sua visão. Mas você também vai encontrar o AppGallery, uma espécie de loja de aplicativos da Huawei que mostra uma propaganda de tela cheia no começo e tem uns aplicativos de utilidade duvidosa para você instalar.
Não é o melhor software do mundo e, claramente, falta refinamento em vários pontos. Mas, no geral, eu gostei da interface da Huawei: ela é bem cuidada, tem uma boa tradução para o português e é extremamente personalizável. Se você tiver tempo livre para explorar as entranhas do sistema, vai conseguir deixar tudo ao seu gosto.
Toda a propaganda do P30 Pro é focada em fotografia. E a Huawei tem um bom motivo para isso: a câmera desse celular é uma das melhores que eu já testei na vida. E com certeza é a mais interessante até agora: o conjunto óptico é bem impressionante em números, e o software faz questão de ressaltar as qualidades do hardware.
A câmera traseira ostenta a grife da Leica e tem quatro sensores. O principal é de 40 megapixels, tem lente com abertura f/1,6 e traz um arranjo de cores diferente: em vez do tradicional RGB (vermelho, verde e azul), o sensor é do tipo RYB (vermelho, amarelo e azul) que, segundo a Huawei, consegue capturar mais luz. Além disso, o P30 Pro tem uma câmera ultrawide, uma teleobjetiva com zoom óptico de 5x e um sensor de profundidade.
No modo automático, a Huawei não tem muito compromisso com a realidade: as fotos tiradas com o P30 Pro são aquelas visualmente sensacionais, prontas para compartilhar no Instagram sem fazer nenhuma edição prévia. O céu sempre é mais azul, as luzes sempre são mais impactantes e os pratos de comida sempre parecem mais deliciosos. Pode não agradar os fotógrafos mais puristas — mas não tem como negar que as fotos ficam incríveis.
Nos primeiros dias de teste, as fotos do P30 Pro eram muito inconsistentes, mas uma atualização de software resolveu os problemas da câmera. Em regra, as imagens capturadas com o topo de linha da Huawei têm excelente definição, baixo nível de ruído e um alcance dinâmico muito bom. A única crítica aqui fica pelo fato de o HDR ser um modo específico da câmera; ele deveria ser automático e ativado por padrão em todos os cenários.
O P30 Pro se sobressai no escuro com o modo Noite, que basicamente tira uma foto de longa exposição só que de forma mais inteligente e sem precisar de um tripé. Os detalhes em áreas de sombra se tornam visíveis e todo o quadro fica com uma exposição mais equilibrada, sem estourar nem esconder nada. Poderia ser um pouco mais rápido, mas a espera de 5 ou 10 segundos com o braço esticado quase sempre vale a pena.
Duas observações. Primeiro, o tal do ISO 409600 que a Huawei tanto destacou no evento de lançamento não é bem isso: no modo manual, acima do ISO 6400, o aplicativo trava o obturador, indicando que se trata de uma gambiarra de software, não de uma hipersensibilidade da câmera. Segundo, como só um dos sensores tem 40 megapixels, você não consegue atingir essa resolução o tempo todo: no modo Noite, ou aplicando zoom óptico, a câmera desce para 10 megapixels.
Tanto as fotos com a lente ultrawide quanto com a teleobjetiva têm ótima qualidade. A distância focal da lente com zoom óptico de 5x é fixa. Isso significa que, entre 1x e 4,9x de zoom, você está apenas fazendo um zoom digital, esticando e cortando uma imagem. Como o sensor principal tem resolução altíssima, de 40 megapixels, isso ajuda a amenizar a perda de qualidade. E, claro, acima dos 5x, o software faz uma combinação de zoom digital com zoom óptico.
Detalhes à parte, as fotos com zoom são realmente boas. Com 10x de zoom (que a Huawei chama de zoom híbrido), dá para enxergar muito longe, e a nitidez permanece excelente. Acima disso, até 50x, a perda de definição é mais notável, mas as fotos continuam ótimas para compartilhar em redes sociais, por exemplo, sem contar que a estabilização óptica funciona bem. Dá até para fazer coisas meio assustadoras, como apontar para a varanda de um prédio bem longe e ver o que uma pessoa aleatória está fazendo.
Uma prova da capacidade do software é uma foto da lua que eu fiz com o P30 Pro. Abri o aplicativo da câmera, apontei para o céu, dei zoom até o máximo e o software se encarregou de mudar para o modo Lua — que coloca a exposição no ponto certo para deixar o céu bem preto e a lua brilhante, mas sem estourar. Então foi só prender a respiração e apertar o botão de tirar foto. Há alguns anos eu não imaginava que conseguiria fazer isso com um celular (e muito menos de uma forma tão trivial).
Com o P30 Pro, a Huawei subiu o nível das câmeras de smartphone, e as concorrentes vão precisar correr para não ficar para trás.
Só a câmera frontal não bate a dos rivais. Ela tem 32 megapixels, mas esse número enorme não importa muito, porque a lente tem foco fixo. As selfies saem nítidas em distâncias normais, mas ficaram desfocadas quando eu aproximava um pouco mais a câmera do meu rosto. E, infelizmente, ela não tem capacidade de filmagem em 4K, algo que até o Moto G7 Plus consegue fazer hoje em dia.
Por dentro, o P30 Pro é equipado com um processador Kirin 980, desenvolvido pela própria Huawei. A minha unidade de testes veio com 8 GB de RAM e 256 GB de armazenamento. O desempenho no dia a dia foi muito bom: todos os aplicativos abriram rapidamente e não notei sinais de engasgo em nenhum momento. Jogos como Asphalt 9 e Breakneck rodaram com boa qualidade gráfica e boa taxa de frames.
A bateria de 4.200 mAh do P30 Pro me surpreendeu positivamente por mais de um motivo. Primeiro porque a autonomia é realmente boa: talvez por causa da resolução menor da tela e de um software mais agressivo com aplicativos rodando em segundo plano, ela rendeu bem mais que a bateria de 4.100 mAh do Galaxy S10+, por exemplo.
Nos meus dias de teste, tirando o aparelho da tomada às 9h da manhã, ouvindo 1 hora de streaming de música no 4G e navegando na web por cerca de 2 horas, também pela rede móvel, sempre com brilho no automático, eu chegava ao final do dia com bateria por volta de 40% a 50%, o que é um desempenho excepcional para um celular topo de linha.
O outro motivo de eu ter me surpreendido com a bateria do P30 Pro foi a velocidade de carregamento. Eu tenho alguns carregadores por indução espalhados pela casa, então sempre opto por essa forma de carregamento quando estou testando um celular compatível. Mas, no caso do P30 Pro, eu fiz questão de carregar ele na tomada, com o adaptador de impressionantes 40 watts (!) da Huawei.
Para entender o que isso significa na prática, eu drenei a bateria do P30 Pro até chegar a 2%. Então, liguei o aparelho na tomada. 15 minutos depois, a carga já estava em 38%. Com meia hora, a bateria chegou em 73%. Os últimos minutos foram menos rápidos, mas ainda assim foi possível reabastecer os 4.200 mAh em 56 minutos. É algo tão absurdamente rápido que me deixa com medo da vida útil da bateria — mas a Huawei garante que o negócio é seguro.
Para quem não joga no celular, o P30 Pro pode aguentar até dois dias longe da tomada. Mas, para quem gasta muita bateria, é só levar o carregador que ele resolve tudo. E resolve rápido.
O P30 Pro tenta mostrar o que a Huawei pode fazer de melhor em um smartphone. E ele consegue. Na primeira olhada, o produto já chama a atenção pelo design sofisticado e pela tela de alta qualidade. Com o uso, você percebe que os chineses não estão de brincadeira: a bateria dura bastante, o software não engasga e, principalmente, a câmera de fato cumpre o que promete.
A evolução da Huawei foi notável. O Ascend P7, último celular que a empresa trouxe ao Brasil, em 2014, foi lançado em um momento ingrato: ele não fazia nada melhor que o Moto X de 2ª geração, que custava o mesmo preço, mas tinha uma distribuição no varejo mais forte e uma marca mais conhecida. Meu último contato prolongado com a Huawei foi com o Mate 9, de 2016, que já tinha recursos interessantes, como carregamento ultrarrápido e câmera acima da média, mas não se destacava tanto na multidão.
No P30 Pro, a história é diferente. Ele tem todos os detalhes que outros concorrentes do mesmo segmento também têm, como certificação IP68, carregamento wireless reverso, hardware potente e tudo mais. Só que, agora, a Huawei é capaz de oferecer um bom diferencial: aos poucos, a câmera vai encantando o usuário com o poder de tirar fotos sensacionais.
Claro que o produto não é perfeito: eu não consigo engolir o tal do NM Card, o software fica atrás da One UI da Samsung e a câmera frontal poderia ser melhor para ficar à altura da câmera traseira. Mas, se existe um momento bom para uma empresa entrar em um país, parece que este é o momento da Huawei. Custando R$ 5.499, o P30 Pro não é nada barato, mas dificilmente vai decepcionar um comprador.