iPhone XS e XS Max: o review de 20 mil reais
Os novos smartphones da Apple surpreendem pelas câmeras, telas e pelo desempenho impecável, mas se tornaram objetos de luxo
Os novos smartphones da Apple surpreendem pelas câmeras, telas e pelo desempenho impecável, mas se tornaram objetos de luxo
Por Paulo Higa e Thiago Mobilon
Os iPhones sempre foram muito caros, principalmente no Brasil, mas atingiram um novo patamar este ano. Em 2017, a Apple lançou o iPhone X, com um design totalmente renovado e todas as inovações que a empresa tinha para mostrar, cobrando um preço bem alto por ele. A nova geração continua sendo um objeto de luxo e até ganhou uma versão ainda mais cara para satisfazer os que gostam de tela grande.
O iPhone XS, com tela de 5,8 polegadas, e o iPhone XS Max, de 6,5 polegadas, têm preços entre R$ 7.299 e R$ 9.999, e fazem parte do ano “S” da Apple, em que não há mudanças significativas no visual, mas refinamentos internos. A Apple promete um chip A12 Bionic mais inteligente, uma câmera que tira fotos melhores em condições mais desafiadoras e mudanças menores nas baterias, nos alto-falantes e na construção.
Mas será que vale a pena gastar tanto dinheiro com um celular? A gente testou o iPhone XS e o iPhone XS Max nas últimas semanas, ambos nas versões com meio terabyte de armazenamento (!), e conta tudo neste review de 20 mil reais.
Higa: O tamanho do iPhone XS me agrada bastante: dá para digitar de maneira confortável com uma mão só e ao mesmo tempo ter uma boa experiência de consumo de conteúdo, principalmente reprodução de vídeos, em uma tela de 5,8 polegadas. Eu confesso que já estava cansado do iPhone 8 Plus, que tinha pouca tela, muita borda e muito tamanho.
Acredito que muita gente, assim como eu, vai ter pouco contato com o design “de verdade” do produto. A traseira de vidro acumula muitas marcas de dedo, como já era esperado, e as bordas de aço inox também. A boa notícia é que, mesmo com uma capinha, o iPhone XS continua com um tamanho bastante compacto — ao custo de mais algumas centenas de reais, se você optar por uma capinha original da Apple.
A minha crítica com relação ao novo design é que a forma de abrir a Central de Controle ficou menos prática: você precisa deslizar o dedo para baixo a partir do cantinho superior direito, o que não é muito natural para quem é canhoto. Nos iPhones com botão de início, era só deslizar de baixo para cima. E eu também ficaria mais feliz com um notch menor; do jeito que está, ele oculta informações que julgo importantes, como a porcentagem da bateria e o status do Não Perturbe.
Eu não me incomodo mais com a falta da entrada para fones de ouvido. Os modelos sem fio ficaram mais acessíveis e deixaram de ser tão mais caros que um headphone com fio com qualidade equivalente. Mas o que me irrita são as pequenas economias que a Apple faz para tentar aumentar a margem de lucro. Mesmo sendo um celular que custa a partir de R$ 7.299, ele não vem mais com o adaptador de 3,5 mm para Lightning. E outra: o carregador de tomada incluso na caixa tem só 5 watts? Em pleno ano de 2018?
Mobilon: Depois de quase um mês testando o iPhone XS Max, a sensação que tenho quando eu pego o iPhone X na mão é de alívio. E olha que eu tenho 1,93 m, então as minhas mãos são bem grandes. Para mim era o tamanho perfeito: a pegada era ótima e só deixava a desejar na hora de acessar as notificações e a Central de Controle. Mas aí não tinha outra saída, a parte de baixo precisava ser dos gestos de fechar apps.
Usar o iPhone XS Max com uma mão só não é uma tarefa simples. E, considerando o preço, definitivamente não é uma tarefa segura. Por mais que a Apple bata na tecla de que “dá para se virar, porque tem o recurso de alcançabilidade”, esse gesto acaba sendo um passo a mais para cada ação que fica da metade para cima do aparelho.
Com o aparelho mais largo, você também não alcança as laterais com tanta facilidade apenas com uma mão. E por não ser possível “agarrar” e manusear ao mesmo tempo, o dedinho acaba tendo que suportar mais peso. Resultado? Minha tendinite atacou.
Ou seja, o iPhone XS Max definitivamente não é amigável para usar com uma mão só. Isso, ou sou eu que estou usando errado. Mas fora isso, é um aparelho lindo, com cara de premium mesmo, graças à tela enorme e as laterais brilhantes. Ele vai tentar fazer amizade com calçadas por aí, mas é uma troca que se faz: você abre mão da usabilidade para ter uma tela que salta aos olhos, ou abre mão da tela, para ter mais segurança na pegada.
Higa: Mesmo sendo menor, a tela de 5,8 polegadas do iPhone XS também impressiona. O brilho é muito forte, em linha com o que a gente encontra nos smartphones mais caros da Samsung; o contraste é infinito, com os pretos perfeitos do OLED; e as cores me agradam bastante. Elas são visivelmente mais saturadas que nas telas LCD dos iPhones antigos, mas não a ponto de perder detalhes dos tons.
Higa: Claro que o iOS não é perfeito. Existem várias coisas nele que me incomodam, como o gerenciamento de arquivos. Por exemplo, baixar e compartilhar um documento em PDF entre um aplicativo e outro é muito mais trabalhoso e menos intuitivo do que deveria, já que o iOS não tem um sistema de arquivos como no Android.
Mas, no geral, o iOS ainda é um sistema que eu prefiro em relação ao Android. Todos os apps têm interfaces consistentes e caprichadas, e existem alguns que eu gosto muito e são exclusivos da plataforma. Destaque para o Tweetbot, cliente de Twitter que é quase unanimidade entre usuários de iPhone; e o Ulysses, que eu uso para escrever textos, com formatação em Markdown, em uma interface sem distrações, com direito à modo noturno e sincronização com o meu Mac pelo iCloud.
Sem contar que a Apple melhorou vários aspectos do iOS nas últimas versões. Minha maior reclamação era a central de notificações, que sempre foi muito inferior à do Android. Agora, ela agrupa as notificações dos apps, deixa limpar tudo de uma vez só e permite que certos apps menos importantes mandem notificações “em silêncio”. Assim a tela não fica ligando o tempo todo.
Mobilon: Com o passar do tempo, o iOS tem ficado mais aberto e a usabilidade melhorou. Nessa última atualização, por exemplo, liberaram a integração de apps gerenciadores de senha com o sistema. Isso é ótimo para quem usa um iPhone com Face ID. Quando você acessa a página de login de um site, o próprio Safari já se oferece para preencher o formulário com uma senha que você tem no 1Password, por exemplo. Você só toca na sugestão e ele já faz a autenticação com o Face ID.
O uso da tecnologia vai ficando mais transparente com esses recursos, porque você não precisa fazer nada; já está olhando para o aparelho e ele te reconhece sozinho.
Higa: Este é o primeiro iPhone com Face ID que eu uso no dia a dia, e a tecnologia é muito melhor do que eu esperava. Ela funciona bem e rapidamente em qualquer condição: com óculos; sem óculos; com o cabelo na frente do olho; na rua com o sol batendo na tela; deitado na cama no breu total, sem me preocupar em acertar o ângulo da câmera ou algo do tipo — é tudo muito natural.
Mobilon: Comigo funciona bem também, mas não é o sistema perfeito. Se você está deitado na cama e recebe uma notificação, precisa levantar a cara do travesseiro para ele revelar o conteúdo. Tem horas que ele me reconhece nos ângulos mais inesperados e tem horas que ele não reconhece mesmo estando quase de frente.
Enfim, não chega a ser um defeito, mas acho que o Touch ID complementaria bem o uso nas situações em que só quero ver o conteúdo das notificações. Não precisaria retirar o aparelho da posição que ele está (tipo na mesa) e apontar para minha cara.
Mobilon: O primeiro detalhe que notei na câmera foi logo na tela de configuração do Face ID: os iPhones aderiram ao infame efeito de embelezamento.
É nítida a diferença entre uma selfie tirada com o iPhone X e outra com o iPhone XS Max. No novo aparelho, a pele fica mais clara, alisada e até as rugas estão mais sutis. E o efeito fica mais forte com baixa iluminação, talvez pela maior dificuldade em identificar as linhas do rosto. O efeito não está exagerado, mas um controle de intensidade não faria mal.
Higa: Eu sinto falta do modo manual no app de câmera, pelo menos para filmagem. Qualquer Android tem isso. Eu sei que a Apple tem essa história de deixar as coisas o mais simples possível para que qualquer pessoa consiga tirar uma boa foto sem ser um profissional, mas dá para atender bem os dois públicos ao mesmo tempo.
De qualquer forma, as fotos tiradas pelo iPhone XS têm qualidade incrível em qualquer condição de iluminação, como você poderia esperar de um smartphone tão caro. A definição das imagens é muito boa, e eu percebo que a Apple tem um filtro de nitidez mais suave que o do Galaxy S9, por exemplo, o que deixa a foto com um aspecto mais “natural”.
À noite, as fotos do iPhone XS têm definição muito boa, quase nenhum ruído e uma temperatura de cor bastante acertada. Isso mesmo com a lente teleobjetiva, com zoom de 2x, que tem uma abertura menor (f/2,4): os detalhes se mantêm, e o ruído não aumenta consideravelmente.
Mobilon: E, para fotos diurnas, o HDR melhorou bastante. Nesse ponto os Androids faziam um trabalho melhor até então (mesmo que um tanto exagerado em alguns casos). O HDR da Apple era sutil demais, ao ponto de comprometer os pontos com a iluminação mais extrema da imagem.
Com o upgrade, dá para tirar fotos contra o sol que ainda assim o assunto fica bem iluminado e o céu azul com nuvens bem definidas. O branco não estoura e a parte mais escura não fica parecendo que foi clareada ao máximo no app Snapseed.
Higa: O A12 Bionic é o melhor processador para smartphones disponível no mercado, então é quase chover no molhado ficar discutindo se ele entrega um bom desempenho ou não. Engasgos e lentidões são muito raros; e ainda nem existem games na App Store que consigam aproveitar todo o poder do chip gráfico.
A bateria é melhor que a de um iPhone não Plus, mas pior que a do iPhone 8 Plus que eu costumava usar. Com o iPhone 8 Plus, era fácil chegar até o final do dia com mais de 50% de carga. No iPhone XS, eu normalmente fico perto dos 40% em um dia intenso, com 2h de streaming de música no 4G e 1h30min de navegação e redes sociais, também pela rede móvel. Apesar de a capacidade de 2.716 mAh não ser nada impressionante na teoria, especialmente quando comparamos com os Androids, na prática o resultado é muito bom.
Mobilon: No XS Max, a bateria é um diferencial bacana. Em um de meus testes, o aparelho aguentou 15 horas fora da tomada, com mais de 8 horas de tela ligada. Joguei Kingdom Rush, naveguei nas redes sociais, além de usar bastante o Safari e apps de mensagens. Se você dorme 8 horas por noite, 15 horas é tempo o suficiente para sair e voltar para casa. Sem falar que o meu uso é intenso — a maioria não bate 8 horas de tela ligada no dia.
No quesito performance, como o Higa disse, por enquanto é um aparelho imbatível. A única coisa que me preocupa, no caso do XS Max, é como esse aparelho vai envelhecer, comparado com o XS e até o XR. Os três utilizam o mesmo chip, mas a tela do XS Max tem quase 600 mil pixels a mais do que a do XS, e mais de 1,8 milhão de pixels a mais do que o XR.
Em outras palavras: isso demanda um esforço maior do processador e da bateria. Não é à toa que, no Geekbench, o iPhone XR foi o campeão de performance entre os três e também registrou a melhor duração da bateria. A gente sabe que, em condições reais de uso, os resultados podem ser bem diferentes do que nos benchmarks, mas é um ponto a se observar.
Higa: Para quem tem um iPhone antes do X, o iPhone XS é um belo upgrade. Principalmente por causa da tela, que deve agradar tanto pela qualidade da imagem, melhor que o LCD das gerações anteriores, quanto pelo tamanho de 5,8 polegadas, que pode satisfazer até mesmo quem tinha um iPhone Plus, de 5,5 polegadas, mas agora em um corpo menor.
Em relação ao iPhone 8 Plus, eu não senti muita diferença no desempenho ou nas câmeras. Tirando a questão do visual antigo com botão Home, um ano ainda não foi suficiente para envelhecer tanto a geração passada. Mas, se eu tivesse um iPhone 7 ou um modelo anterior não Plus (e estivesse disposto a gastar o que a Apple pede), iria sem medo no iPhone XS, que tem boa duração de bateria, ótima qualidade de fotografia e o mesmo iOS de sempre.
Já para quem está em dúvida sobre um iPhone caro ou um Android caro, a questão que fica é: o iPhone XS é um smartphone muito bom, mas ele é quatro mil reais melhor que um Galaxy S9+ ou um Galaxy Note 9, por exemplo? Eu acho que não. A Samsung, que tem os melhores Androids à venda no Brasil hoje, definitivamente não perde em design, tela ou câmera. No final das contas, o que vai definir se você vai gastar um ou dois rins é a preferência de sistema operacional.
Mobilon: Eu também não recomendaria a atualização para quem tem o iPhone 8, a não ser que dinheiro não seja problema e você esteja insatisfeito com o design antigo, ou a bateria. Inclusive, para mim essa é a principal virtude daqui para frente: não dá mais para reclamar das baterias dos iPhones. Finalmente, né?
Já o upgrade incremental do X para o XS Max, considerando o preço, acho completamente desnecessário. Precisamos considerar que o custo médio dos iPhones subiu pelo menos 50% até nos Estados Unidos, então não dá para ficar com essa história de trocar de aparelho todo ano, a não ser em condições muito especiais.
O XS Max é a nova estrela da Apple. Ele entrega tudo o que a empresa tem de melhor no momento, e isso tem um preço. Seu principal diferencial é o tamanho da tela, mas até isso é debatível nessa geração: a tela do XS também é grande, por 300 dólares a menos e sem comprometer a usabilidade.
Por esse motivo, acredito que esse aparelho vai atender a um nicho muito específico do mercado: pessoas que amam telas muito grandes ou que buscam por uma forma de se diferenciar.
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