Review Samsung Galaxy S10+: no limite da tecnologia
Galaxy S10+ é sonho de consumo com tela impecável, desempenho de sobra e câmeras excelentes
Galaxy S10+ é sonho de consumo com tela impecável, desempenho de sobra e câmeras excelentes
A Samsung costuma reservar suas maiores novidades em smartphones para o Galaxy S de geração par. Na décima, a linha de celulares premium chega inicialmente ao Brasil em três modelos, sendo que o mais completo é o Galaxy S10+. Ele traz um design renovado, bateria maior e tela gigante, além de tecnologias novas para um flagship da marca, como o leitor de impressões digitais sob o display e uma câmera ultrawide, que serve para mais do que apenas tirar fotos com maior campo de visão.
Será que ele é bom mesmo? Vale a pena gastar milhares de reais no lançamento da Samsung? A bateria de 4.100 mAh é muito melhor que a do antecessor? O sensor biométrico embutido na tela é confiável? E a câmera, é tudo isso que a empresa fala na propaganda? Eu usei o Galaxy S10+ como meu smartphone principal por uma semana e respondo tudo nos próximos minutos.
A Samsung parece que até tentou resistir, mas no final acabou se rendendo ao notch para aumentar o aproveitamento de tela. O Galaxy S10+ tem um entalhe em formato de pílula no canto superior direito com as duas câmeras frontais: a principal de 10 megapixels para tirar selfies e a secundária de 8 megapixels para detectar profundidade. O alto-falante ficou bem escondido no topo, enquanto o leitor de íris foi aposentado em toda a linha.
De cara, na primeira vez que peguei o Galaxy S10+ na mão, eu fui surpreendido pela leveza dele (e outros colegas relataram a mesma sensação). Colocando em números, a versão com traseira de vidro tem 175 gramas, abaixo da faixa dos 200 gramas que eu espero de um celular com uma tela grande de 6,4 polegadas e uma bateria nada humilde de 4.100 mAh. É um grande feito de engenharia, a ponto de me deixar incomodado em quão trambolho é o Galaxy Note 9.
Pessoalmente, o aparelho é mais bonito que nas propagandas da Samsung, trazendo uma borda de alumínio bem acabada e uma traseira de vidro que passa uma sensação de robustez. Tudo é muito bem encaixado. A versão branca tende a um tom meio azulado e tem a vantagem de não deixar as marcas de dedo tão visíveis. Procurando muito, só consegui encontrar um defeito: o botão liga/desliga ficou em uma posição muito alta, o que dificulta pressioná-lo com uma mão só, principalmente para quem é canhoto.
Todo mundo que acompanha meus reviews sabe que eu nunca gostei do sensor biométrico na traseira, já que ele te obriga a levantar o aparelho da mesa sempre que precisar desbloqueá-lo, o que também atrapalha o carregamento sem fio. Não é muito ergonômico: o leitor atrás só funciona bem para quem deixa o celular no bolso, enquanto na frente funciona para todo mundo. A Samsung resolveu o problema com um leitor de impressões digitais ultrassônico que fica sob a tela. É bom? Mais ou menos.
A precisão do leitor de impressões digitais sob a tela foi igual ou melhor que a de um sensor convencional, especialmente em situações mais complicadas. Sabe quando sua mão está suada e você não consegue desbloquear o celular com o dedo? O Galaxy S10+ não parece sofrer do mesmo problema: eu até molhei meu dedão de propósito, e ele ainda assim conseguiu reconhecer minha impressão digital.
O problema é que, diversas vezes, o Galaxy S10+ tentou desbloquear enquanto estava no bolso da calça. Como o sensor biométrico fica na tela, ele tentou ler as digitais… na minha coxa. Então, eu sacava o celular do bolso e precisava digitar a senha porque supostamente teria feito 40 (!) tentativas de desbloqueio.
Além disso, tem um negócio curioso: se você mantiver o dedo ali no sensor, ele demora um pouco mais para desbloquear. Mas se você simplesmente der um toque rapidinho no lugar certo, a leitura é mais rápida. Só leva um tempo para pegar a manha.
A ideia de um leitor de impressões digitais embaixo da tela é ótima, mas a execução ainda precisa melhorar. E espero que uma futura atualização de software resolva os pequenos inconvenientes.
É chover no molhado falar que o Galaxy S10+ tem uma tela de excelente qualidade. Os celulares mais caros da Samsung ganham nota dez nesse quesito nos reviews do Tecnoblog desde, pelo menos, o Galaxy S6, lançado em 2015, quando os painéis Super AMOLED da empresa deixaram de ter cores estouradas, os cinzas perderam o aspecto de sujeira e os brancos ficaram mais puros.
No Galaxy S10+, temos uma tela Dynamic AMOLED de 6,4 polegadas com resolução de até 3040×1440 pixels, proteção Gorilla Glass 6 e definição impecável. Isso mesmo nas configurações padrão, com o software renderizando tudo em Full HD+, para não gastar bateria sem necessidade. Curiosamente, o aparelho veio de fábrica no modo de tela “Natural”, com cores menos saturadas e um ponto de branco mais quente, que me agrada mais (mas quem prefere tons mais vivos pode mudar isso).
O ângulo de visão já era perfeito nas gerações anteriores, enquanto o brilho e o contraste estão notavelmente mais fortes em ambientes com muito sol, portanto, você não deverá ter nenhum problema ao utilizar o Galaxy S10+ neste verão com calor ardente. O alcance dinâmico continua surpreendendo e até melhorou com a inclusão do padrão HDR10+, mas certamente precisamos de mais apoiadores do que só o Amazon Prime Vídeo para aproveitar todo o potencial do display.
Por fim, uma boa novidade do painel Dynamic AMOLED do Galaxy S10+ que não pode passar em branco, mas que é difícil de ser mensurada em um review, é que a tela emite menos luz azul nociva — aquela que interrompe a produção de melatonina e atrapalha o seu sono. Isso é feito sem alterar as cores do display e sem necessidade de ativar o filtro por software, então só existem vantagens aqui.
Os alto-falantes são estéreo e têm boa qualidade, dentro do que eu espero de um smartphone topo de linha. O alcance dinâmico é satisfatório para um celular, arriscando um pouco de graves e emitindo um som claro e aberto. O volume chega a níveis altíssimos, mas as frequências médias distorcem, então você não vai querer aumentar tanto o som.
Já os fones de ouvido são os mesmos que acompanhavam os Galaxy S e Note anteriores, com a marca da AKG, design intra-auricular confortável para os meus ouvidos e som de qualidade: os médios são bem representados, sem serem invadidos pelas frequências baixas, que também devem satisfazer os que gostam de graves com mais impacto. É um ótimo acessório, ainda mais se considerarmos que ele já vem na caixa.
O destaque do Android 9 Pie da Samsung é a nova interface, batizada de One UI. O visual anterior não era ruim, mas a repaginada nos aplicativos nativos fez muito bem para as telas gigantes de hoje: os botões quase sempre ficam na parte inferior, para serem alcançados facilmente com o dedão; e as listas de itens começam no meio da tela, não no topo, permitindo a navegação com uma mão só. Vendo em retrospecto, parece uma evolução tão natural que eu fico me perguntando por que ninguém pensou nisso antes.
Várias telas, como o gerenciador de aplicativos e a central de notificações, foram remodeladas para se adaptarem ao padrão do Android 9 Pie. Existem boas novidades vindas do Google, como o Bem-estar digital, que mostra o tempo que você gasta no celular, quantas vezes desbloqueou o aparelho e quantas notificações cada aplicativo enviou. Quem quiser pode programar para a tela ficar em escala de cinza em um determinado horário, para que seu cérebro não seja muito estimulado antes do sono.
Outro recurso bacana são as Rotinas do Bixby, que automatizam tarefas: você pode programar para o Galaxy S10+ ativar o Filtro de luz azul, diminuir o brilho e silenciar as notificações na hora de dormir; ou deixar o Always On Display mostrando as horas quando o celular estiver carregando. E não dá para esquecer do tão esperado Modo noturno, que escurece as telas para não ofuscar sua visão — ele está integrado com o navegador da Samsung, inclusive, então qualquer site se torna mais agradável de ler.
Mas não é um software perfeito. O ponto de discórdia é a assistente de voz da Samsung, que ainda não entende português do Brasil, nem mesmo em estágio beta, dois anos depois do lançamento. Até o italiano e o alemão, que têm menos falantes, ganharam suporte na versão mais recente da Bixby. Com isso, o botão adicional do lado esquerdo do Galaxy S10+ acaba tendo utilidade limitada. É melhor você entrar nas configurações e trocar a função desse botão para algo mais interessante, como o aplicativo do Google.
Parece um detalhe bobo em um recurso pouco importante, afinal, quem liga para a Bixby? Na verdade, ela é parte de um ecossistema bem maior: a Samsung anda falando muito de internet das coisas e casa conectada no Brasil, mas ainda nem desenvolveu comandos de voz para o nosso mercado. Até a Apple, que detém 5% de fatia de mercado em smartphones no país (e não 50%), está mais preparada que os coreanos.
Falando de câmeras, o MyEmoji da Samsung ganhou novas roupas e acessórios e… ok, vamos para o que interessa.
Em um momento em que as empresas brigam para ver quem coloca mais lentes no mesmo celular, a Samsung conseguiu aproveitar muito bem a câmera traseira tripla do Galaxy S10+. Não existem muitas novidades no sensor principal, que permanece com 12 megapixels e lente de abertura variável (f/1,5-2,4), nem na câmera telefoto, que captura imagens com zoom óptico de 2x. Eles continuam tirando fotos de ótima qualidade, em qualquer condição de iluminação, como você esperaria de um modelo premium da marca.
A boa adição é a lente ultrawide, ótima para tirar fotos de paisagens, com um campo de visão mais amplo. Nas fotos, ela apresenta cores saturadas na medida certa e excelente definição. À noite, o ruído é maior que na câmera principal, mas ainda não chega a incomodar. Nos vídeos, a Samsung aproveitou o novo sensor para incluir um modo superestável, que funciona como o da GoPro Hero 7 Black, cortando as bordas da imagem para fazer uma estabilização digital em um nível bem impressionante.
Nas outras câmeras traseiras, o que eu tenho a dizer, além do óbvio, é que o alcance dinâmico deu mais um salto no Galaxy S10+. Tanto de dia quanto de noite, a Samsung merece aplausos por deixar todas as áreas de iluminação e de sombra bem expostas, sem exigir nenhum conhecimento de fotografia por parte do usuário. O aplicativo de câmera até dá dicas para nivelar o celular e obter um enquadramento melhor.
Para melhorar, só trabalhando no software. A Samsung já atingiu um nível de nitidez, exposição e cores impecável, mas o Google entrega resultados visualmente sensacionais com a ajuda de um pós-processamento mais inteligente nos celulares Pixel: o Night Sight parece fazer bruxaria com fotos noturnas. Eu já percebi um movimento tímido no Galaxy S10+: quem for mais atento vai notar uns raios de luz em fotos noturnas, que até então só seriam possíveis com uma abertura de lente muito fechada.
Nas câmeras frontais, que agora filmam em 4K, os resultados também são bons. O sensor de profundidade faz bem o trabalho de identificar o sujeito principal e desfocar o fundo. E os novos efeitos estão ótimos: um dos mais bacanas é o que deixa o objeto mais próximo colorido e o plano de fundo em preto e branco. Só não tem como fugir do filtro de embelezamento da Samsung: mesmo desativado, ele ainda vai tentar suavizar sua pele.
Mas tudo isso são apenas detalhes: o Galaxy S10+ tem uma das melhores câmeras desta geração e, certamente, é a melhor que você vai encontrar em um Android no mercado brasileiro.
Diferente da geração passada, o Galaxy S10+ brasileiro é equipado com um processador Samsung Exynos 9820, fabricado em 8 nanômetros — a versão com o Snapdragon 855, da Qualcomm, ficou restrita a poucos países, incluindo os Estados Unidos. Tecnicamente, o Exynos é um chip inferior, mas isso só vai fazer diferença para quem se preocupa em exibir resultados de benchmarks. O modelo que eu testei veio com 8 GB de RAM e 128 GB de armazenamento interno, com possibilidade de expansão por microSD no slot híbrido.
O hardware não me decepcionou em nenhum momento. Não me deparei com engasgos em animações, travamentos em aplicativos ou lentidões no multitarefa. Tudo abriu rapidamente, de WhatsApp a Grand Theft Auto: San Andreas. E a GPU Mali-G76 rodou jogos pesados como Asphalt 9: Legends e Breakneck com gráficos impecáveis e taxa de quadros constante. É um conjunto muito bom, que deve aguentar vários anos.
Já a bateria foi bem, mas não surpreendeu para um componente de 4.100 mAh: na minha rotina, a autonomia não foi melhor que a de um iPhone XS, que tem apenas 2.716 mAh. O Galaxy S10+ deve durar o dia inteiro para boa parte dos usuários, mas quem joga ou gosta de assistir muitos vídeos no celular precisa levar uma power bank para não ficar sem carga.
Nos meus dias de teste, tirando o aparelho da tomada às 9h da manhã, ouvindo 1 hora de streaming de música no 4G e navegando na web por cerca de 2 horas, também pela rede móvel, sempre com brilho no automático, eu chegava ao final do dia com bateria por volta de 30%. É uma autonomia parecida com a do Galaxy Note 9 e ligeiramente melhor que a do Galaxy S9+.
Portanto, ele não tem bateria de sobra para você esbanjar e recarregar o celular de todos os seus amigos. Mas o recurso Wireless PowerShare, que transforma o Galaxy S10+ em um carregador por indução, é útil durante a noite ou em viagens: você pode deixar o celular conectado a um único cabo e abastecer algum acessório na traseira dele, como os fones de ouvido Galaxy Buds ou um smartwatch compatível com o padrão Qi.
Uma vantagem de ser uma gigante como a Samsung é poder fabricar quase todos os componentes de seus produtos. A empresa juntou seu melhor processador, melhor tela e melhor câmera com um software que deu um grande salto em relação à geração anterior. O resultado não poderia ser diferente: o Galaxy S10+ é um sonho de consumo e praticamente não tem defeitos. É difícil encontrar pontos de melhora no Galaxy S10+. Talvez a bateria possa durar mais — só que isso esbarra no limite da tecnologia atual.
Faz tempo que a Samsung acerta em cheio nos seus topos de linha, resolvendo os pontos negativos que atingiam os modelos passados. O design tinha um gosto questionável até o Galaxy S5, com aquela traseira de plástico parecendo um band-aid. O software sofria duras críticas, com razão, na época da TouchWiz coloridinha com tons estranhos de verde por todo lado. E as câmeras ainda não eram aquela coisa toda antes do Galaxy S7. Nada disso é mais um problema.
Para quem planeja um upgrade, o Galaxy S9+ e o Galaxy Note 9 ainda dão um belo caldo — e devem sobreviver por bastante tempo, principalmente com a interface One UI, que trouxe um novo fôlego aos aparelhos. Já quem tem um Galaxy S8 ou anterior pode começar a pensar na troca: os bons avanços nas câmeras, o aumento na bateria e a melhoria no hardware tornam o Galaxy S10+ uma atualização considerável.
Mas só começar a pensar na troca, claro, porque pagar milhares de reais em um celular não tá fácil para ninguém.