Review Galaxy S7 e S7 Edge: os smartphones quase perfeitos
Samsung corrigiu os poucos defeitos da geração anterior e melhorou o que era bom
Samsung corrigiu os poucos defeitos da geração anterior e melhorou o que era bom
Eu costumo dizer que o Galaxy S6 foi uma virada de página na Samsung. Os coreanos finalmente investiram em design, melhoraram a interface pouco amada e elevaram o nível das câmeras de smartphones. O hardware, que já era um ponto forte da empresa, se tornou mais poderoso, com direito a um processador bastante otimizado e uma tela de encher os olhos.
Por isso, não é de se espantar que o Galaxy S7 não tenha nenhuma grande novidade. Olhando friamente, ele é apenas um refinamento do modelo anterior: a Samsung melhorou alguns componentes, adicionou uma entrada de cartão de memória para agradar aos usuários avançados, mudou alguma coisinha no design e… é isso.
Será que essa geração de refinamentos fez bem ao flagship da Samsung? Eu utilizei o Galaxy S7 Edge como smartphone principal na última semana e conto minhas impressões nos próximos minutos.
O Galaxy S7 melhora o design do Galaxy S6. A Samsung continuou apostando na mistura de alumínio e vidro, mas aparou as arestas (literalmente). A traseira, que era plana, ganhou curvaturas nas laterais que encaixam bem na palma da mão. O vidro que recobre o painel tem bordas suaves que contribuem com o visual e agradam os dedos, principalmente ao fazer gestos a partir das laterais da tela.
A Samsung produz boas telas AMOLED para smartphones desde, pelo menos, o Galaxy S4 — e os novos Galaxy S7 e Galaxy S7 Edge continuam trazendo um display com altíssimo brilho, contraste forte, graças ao preto real e branco equilibrado, e cores mais saturadas, mas sem gritar nos olhos como nos AMOLEDs antigos. A principal característica do AMOLED, de acender apenas os pixels necessários, é aproveitada pelo recurso Always On Display, que comentarei adiante.
Mas o que me chamou a atenção foi que a Samsung aumentou a espessura em relação à geração anterior, indo na contramão do mercado (e talvez do pessoal do marketing). As medidas não ficam mais tão impressionantes na ficha de especificações, mas na prática a mudança foi ótima: o espaço adicional permitiu aumentar a bateria (o Edge foi o mais beneficiado, com capacidade 38% mais alta), adicionar a proteção IP68 para resistência contra água e, de quebra, diminuir o calombo da câmera traseira.
Eu sempre questionei a corrida desenfreada das fabricantes para ver quem conseguia produzir o smartphone mais fino do mercado, o que prejudicava a capacidade da bateria, a ergonomia ou até o visual do aparelho. Uma das limitações ao reduzir as dimensões dos celulares é o módulo da câmera, que não acompanha a evolução e acaba deixando lentes para fora da carcaça, criando calombos bizarros. É bom saber que alguém notou que não precisamos de aparelhos da espessura de uma folha de papel (olá, Apple).
Claro que nem tudo é perfeito. Por algum motivo, a Samsung removeu o blaster infravermelho, presente desde o Galaxy S4, que permitia controlar qualquer dispositivo, como seu ar-condicionado ou televisão. E o conector ainda é o velho Micro USB, que não suporta as novidades do USB-C, como os múltiplos tipos de sinais (inclusive vídeo), as taxas de transferência mais rápidas e a potência maior para carregamento. A Samsung é uma das poucas empresas no mundo que seriam capazes de puxar a adoção do USB-C para cima, mas infelizmente decidiu deixar para uma próxima.
De qualquer forma, o resultado final é um aparelho bem acabado, elegante e ergonômico, pelo menos até certo ponto, afinal, não dá para fazer milagres com telas tão grandes. O Galaxy S7 Edge, que tem display de 5,5 polegadas, compensa o tamanho maior pelas laterais curvadas e acaba tendo quase a mesma largura do irmão menor, logo, praticamente não há diferença na pegada.
O software da Samsung sempre foi alvo de controvérsias. Pelo menos para mim, ele tem melhorado a cada geração: o design agora está harmônico com os aplicativos do Android e não há uma sensação de trabalho mal acabado ou excesso de inutilidades da TouchWiz de três ou quatro anos atrás. Não é melhor nem pior que o Android puro, é apenas uma interface diferente.
Com a atualização para o Marshmallow, a Samsung aproveitou para dar um tapa na interface, adotando mais branco e jogando para escanteio o verde característico das versões anteriores. Praticamente todas as boas novidades do Android 6.0 estão presentes no Galaxy S7, com a triste exceção da função que permite utilizar um microSD como extensão do armazenamento interno — até dá para fazer isso, mas apenas com gambiarras pouco práticas.
Outro ponto que ainda precisa de refinamento é o problema da duplicação de aplicativos. Por que colocar um cliente de email próprio se o Gmail já oferece suporte a qualquer servidor? Para que serve o navegador da Samsung se o Chrome já vem pré-instalado no smartphone? E qual a vantagem em utilizar o Galaxy Apps no lugar do Google Play? São tentativas (falhas) de tentar prender o usuário ao ecossistema (inexistente) dos coreanos.
O Always On Display, que mantém a tela sempre ativada, mostrando um relógio, um calendário ou uma imagem aleatória, junto com o número de chamadas perdidas e mensagens não lidas, é uma boa novidade de software, mas ainda exige melhorias. Seria legal uma abordagem como a da Motorola, que permite visualizar prévias de notificações de aplicativos de terceiros, para que você realmente não precise ligar a tela. No Galaxy S7, o recurso não é muito mais do que um relógio bonito.
No caso do Galaxy S7 Edge, há uma função para aproveitar a curvatura da tela: deslizando o dedo a partir da lateral direita da tela (é possível trocar o lado se você for canhoto, como eu), você tem acesso a painéis com atalhos para contatos favoritos, aplicativos, tarefas (“tirar uma selfie” ou “ligar alarme”, por exemplo), índices financeiros e notícias do Yahoo. Esses três últimos são novidades da Edge UX.
Outra novidade do software do Galaxy S7 é o Game Launcher, que centraliza os atalhos para os games e adiciona truques novos, como a possibilidade de gravar um vídeo de gameplay ou desabilitar todas as notificações enquanto estiver na jogatina. Por enquanto, acaba sendo mais uma função para promover o aparelho (hey, temos uma GPU boa!) do que algo realmente útil.
Um componente que a Samsung acertou em cheio no Galaxy S6 foi a câmera. No Galaxy S7, a empresa fez uma mudança que, assim como o aumento da espessura, não deve ter sido bem recebido pelo pessoal do marketing: diminuiu a resolução do sensor traseiro, de 16 megapixels para 12 megapixels. O que isso significa? Primeiro, que o consumidor leigo vai achar estranho e talvez torça o nariz. Segundo, que o sensor está com pixels maiores (o tamanho físico do componente também aumentou, para 1/2,5 polegada) e pode se dar melhor em condições mais desafiadoras de iluminação.
E a câmera realmente cumpre o que promete. As fotos do Galaxy S7 são simplesmente sensacionais. Em boas condições de iluminação, não há tanto destaque: as fotos ficam bonitas, com exposição equilibrada, boa definição e pouquíssimo ruído, como em praticamente todo smartphone acima dos 2.000 reais. É nas fotos noturnas e em ambientes escuros que o aparelho mostra seu potencial: as imagens saem com nitidez acima da média, ótimas cores e pouquíssimo ruído.
Eis as fotos de exemplo (o modelo que testei possui sensor Sony IMX260; alguns modelos trazem um componente da própria Samsung):
Ou seja, a lente com abertura maior, de f/1,7, realmente faz diferença. Em comparação com a lente f/1,9, 25% mais luz penetra no sensor, e os resultados são notáveis: nenhuma das fotos que tirei durante a semana de testes (foram cerca de 150, em condições variadas de iluminação) saiu tremida ou com ruído alto. Além disso, a câmera é rápida para focar e não demora para começar a trabalhar: basta dar um duplo-clique no botão de início e o aplicativo da câmera abre quase instantaneamente.
A câmera frontal, com resolução de 5 megapixels, também possui abertura de f/1,7. Os resultados são bons, inclusive em ambientes internos:
O Galaxy S7 tem a melhor câmera de smartphone que eu já utilizei.
O modelo que será vendido no Brasil tem processador Exynos 8890, da própria Samsung, enquanto alguns poucos mercados receberão uma versão com Snadpragon 820. O chip da Samsung tem características interessantes, como uma espécie de “turbo”, bem parecido com o dos processadores da Intel, para dar um gás momentâneo em situações específicas.
O chip octa-core da Samsung tem dois grupos de núcleos, como de costume. Há quatro Cortex-A53 de 1,6 GHz que gastam menos energia e serão ativados em tarefas mais simples. E há outros quatro Exynos M1, desenvolvidos pelos coreanos, que teoricamente possuem frequência de 2,3 GHz — no entanto, para rodar melhor os aplicativos mal otimizados para multicore, eles conseguem atingir 2,6 GHz quando até dois dos quatro núcleos estão operando.
O que essa salada de números significa? Que o Galaxy S7 roda muito bem qualquer coisa. Os aplicativos abrem instantaneamente, qualquer página da web é processada rapidamente e os jogos são ajudados pela Mali-T880MP12, a melhor GPU da ARM produzida até o momento. Títulos pesados, como Dead Trigger 2, Asphalt 8 e Real Racing 3 apresentaram bons gráficos e taxa de frames constante.
Durante as sessões mais intensas, eu fiquei bastante incomodando com a alta temperatura do Galaxy S7 Edge: pela minha experiência, ele esquenta até mais que os concorrentes da mesma categoria. A Samsung investiu num sistema de refrigeração baseado em vapor, o que provavelmente contribuiu para que eu não sentisse perdas graves de desempenho enquanto o aparelho estava quente, algo comum nos esquentadinhos smartphones com Snapdragon 810 devido ao estrangulamento térmico.
Uma coisa bacana é que o gerenciamento de memória ficou melhor, pelo menos em relação à experiência que tive com o Galaxy Note 5. Nos smartphones da Samsung com 3 GB ou 4 GB de RAM que testei no passado, os aplicativos eram misteriosamente suspensos para economizar memória mesmo quando havia bastante RAM disponível. O resultado era um smartphone que demorava mais que o normal para abrir e alternar entre aplicativos. O Galaxy S7 ainda tem um gerenciamento “conservador”, mas não chega a afetar o uso diário.
Eu não consegui fazer testes confiáveis de autonomia com o Galaxy S7 normal, mas a bateria de 3.600 mAh do Galaxy S7 Edge dá conta do recado, para qualquer tipo de usuário. Durante a semana de testes, sempre consegui chegar em casa com algo entre 40% e 60% de bateria restante, depois de um dia inteiro (das 8h às 23h30) com 2h30min de streaming no Spotify pelo 4G, 1h30min de navegação pelo 4G e brilho no automático. Com o meu perfil de uso, o smartphone da Samsung é capaz de durar dois dias — e aguenta um dia inteiro de trabalho mais pesado com um pé nas costas.
Mesmo com a volta do microSD, fica registrada a decepção com o armazenamento de somente 32 GB (dos quais apenas 24 GB estão disponíveis para o usuário). É verdade que o principal concorrente do Galaxy S7 (o iPhone 6s) ainda insiste nos 16 GB na versão de entrada, mas outras empresas já deram um passo adiante, inclusive cobrando menos: os últimos topos de linha da Motorola, como Moto Maxx e Moto X Force, já apostaram nos 64 GB.
O Galaxy S7 é, provavelmente, o melhor smartphone que o dinheiro pode comprar no momento. Embora não seja livre de defeitos, a Samsung continuou o ótimo trabalho que fez no Galaxy S6, ouviu os consumidores e melhorou o que já era muito bom. Ele tem a melhor tela, a melhor câmera e o melhor acabamento que já vi num smartphone, sem deixar a bateria de lado.
Dadas as circunstâncias, é mais fácil dizer para quem o Galaxy S7 não é. O primeiro fator que pesa contra o aparelho da Samsung é, claro, o preço alto. Assim como qualquer smartphone topo de linha, ele é caro demais e inacessível para quase todos os brasileiros, ainda mais considerando o valor de lançamento.
O segundo fator é que, no nosso grupinho restrito de pessoas que acompanham notícias de tecnologia, há uma ansiedade por receber atualizações de sistema rapidamente, o que em muitos casos significa ter “Android puro”. Além disso, o fato do Galaxy S7 nacional trazer um processador Exynos 8890 (e não um Snapdragon 820) significa que a oferta de ROMs personalizadas reduz drasticamente, o que é um ponto negativo para os fuçadores de celulares.
No entanto, esses dois pontos podem ser relevados se considerarmos que o Galaxy S7, de fato, entrega o que promete — e quem procura um smartphone topo de linha, por motivos óbvios, não está esperando um preço baixo. Sem contar que várias funções do aparelho, especialmente relacionados à câmera e ao Samsung Pay, que chega ao Brasil nos próximos meses, não poderiam ser entregues com um sistema puro. A TouchWiz deixou de ser um problema há bastante tempo, e nós aprendemos que interface pura não é garantia de atualizações rápidas (os usuários do Moto Maxx que o digam).
Vale a pena? Do ponto de vista do custo-benefício, é provável que você encontre aparelhos que entregam uma experiência um pouco inferior a do Galaxy S7 e custem muito menos (como é o caso do próprio Galaxy S6, com as promoções do varejo). Mas, se dinheiro não é problema, é difícil que alguém fique decepcionado com o lançamento da Samsung. Os coreanos quase não deixaram espaço para críticas.
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