O desafio da Huawei: lançar o Mate 30 com Android, mas sem apps do Google
Huawei deve disponibilizar algum meio para que os próprios usuários instalem serviços do Google
O Huawei Mate 30 e sua provável versão Pro estão vindo aí, mas as vendas desses smartphones podem ficar abaixo do que se espera para topos de linha. Isso porque a própria companhia chinesa já sinaliza que os novos aparelhos vão ser revelados sem uma característica importante à maioria dos usuário de Android: o ecossistema do Google.
A explicação está no embargo comercial imposto em maio pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos que proíbe empresas do país de fecharem negócio com a Huawei.
Sob o argumento de proteger os interesses dos consumidores americanos, o órgão concedeu uma carência de 90 dias para certas companhias, incluindo o Google. Isso permitiu que negociações com a Huawei pudessem ser mantidas durante esse prazo. O problema é que essa carência expirou em 19 de agosto.
Um prazo de mais 90 dias, com expiração em 19 de novembro, foi concedido pelo Departamento de Comércio, mas ele é bastante restritivo. No que diz respeito a smartphones, essa carência adicional só permite que atualizações de software sejam concedidas a aparelhos lançados antes do embargo.
É o caso do P30 Pro. Na IFA 2019, a Huawei chegou a anunciar uma versão repaginada do modelo justamente para aproveitar o caminho livre que essa linha tem (pelo menos por enquanto).
Mas a situação da linha Mate 30 é diferente, afinal, ela vai ser lançada com o embargo comercial já em andamento. Os novos aparelhos devem vir com o Android baseado no AOSP, programa que disponibiliza versões do sistema operacional em código aberto (não afetadas pelo embargo, consequentemente), mas sem o ecossistema do Google.
Isso é um problemão. No mercado chinês, os serviços do Google não estão disponíveis, razão pela qual as restrições não devem afetar as vendas do Huawei Mate 30 por lá. Mas, no resto do mundo, lançar um smartphone Android sem Play Store, Gmail, Maps, Drive, Google Search e outros vai ser um desafio.
Para disponibilizar esses recursos, a Huawei precisa fechar um contrato de licenciamento para obter o Google Mobile Services (GMS), mas as sanções dos Estados Unidos impedem o acordo.
É por isso que a Huawei está estudando saídas. Uma delas é oferecer ferramentas alternativas, mas essa é uma tarefa delicada: substituir o app do Gmail é relativamente fácil, mas serviços como Drive e Google Fotos, não. Outra consiste em implementar no Mate 30 alguma funcionalidade que permita ao usuário instalar os aplicativos do Google com certa facilidade, pelo menos aqueles que são mais conhecidos.
Só que esse também é um trabalho delicado. Por um lado, a Huawei não poderá automatizar, mesmo que parcialmente, a instalação de nenhuma dessas ferramentas. Por outro, é preciso garantir que o usuário não sinta que não está conseguindo aproveitar bem o seu celular por conta de limitações de software.
Além disso, o Android tem grande integração com a Play Store, mas o usuário precisa de licença para ter acesso a esse serviço. Normalmente, essa licença só é disponibilizada para dispositivos que saem de fábrica com a Play Store pré-instalada.
Embora alguns executivos da Huawei tenham comentado o assunto na IFA 2019, a empresa vem mantendo o máximo de discrição a respeito porque não há solução fácil para esse imbróglio.
Até existe alguma esperança de que os Estados Unidos flexibilizem as sanções, mas o governo Trump não está se mostrando disposto a negociar, por isso, há boas chances de que o Mate 30 seja o smartphone que realmente mostrará os reais impactos do embargo comercial americano sobre as operações da Huawei.
Seja como for, o Huawei Mate 30 deve vir com o novíssimo processador Kirin 990 e ser apresentado no próximo dia 19, em Munique. O Tecnoblog estará por lá para trazer todos os detalhes.