Fundação de Bill Gates financiará implante que previne o HIV
Pelo menos US$ 140 milhões serão repassados ao projeto
Pelo menos US$ 140 milhões serão repassados ao projeto
A Aids ainda não tem cura, mas os tratamentos disponíveis atualmente fazem a doença não ser tão letal como antes. Mesmo assim, a prevenção continua sendo imprescindível. Mas como evitar a disseminação do HIV em países que, de tão pobres, registram números altíssimos de contaminações pelo vírus? Para a fundação Bill & Melinda Gates, a resposta está em um pequeno implante.
Nos países cuja população possui risco muito alto de contaminação pelo HIV, a chamada Profilaxia Pré-Exposição (Prep) pode ter papel fundamental na prevenção da Aids. Trata-se, basicamente, da aplicação regular de medicamentos no indivíduo para que este tenha as chances de contaminação reduzidas drasticamente.
Pesquisas recentes indicam que as drogas Prep, quando devidamente ministradas, podem reduzir o risco de uma pessoa contrair HIV em relações sexuais em mais de 90%, para ser mais preciso. Mas há um problema: normalmente, a medicação precisa ser tomada todos os dias para ter efeito, mas países pobres podem simplesmente não ter recursos para oferecer doses diárias, sem contar o risco de esquecimento pelo paciente.
Na expectativa de evitar que esses problemas inviabilizem uma forma de prevenção que tem mostrado resultados tão relevantes, a Bill & Melinda Gates decidiu investir US$ 140 milhões em um implante desenvolvido pela empresa de biotecnologia Intarcia Therapeutics (que também trabalha em uma versão do dispositivo para tratamento de diabetes).
O dispositivo é diminuto, tendo mais ou menos o tamanho de um palito de fósforo. Por conta disso, ele pode ser implantado abaixo da pele com relativa facilidade — o procedimento pode inclusive ser realizado em ambulatórios ou consultórios médicos.
Depois de implantado, o dispositivo passa a atuar como uma pequena bomba que libera doses bem pequenas de medicamento Prep regularmente, evitando que o indivíduo esqueça de tomar a dose diária ou não o faça por outro motivo. O ponto mais interessante é que a bomba tem capacidade para fornecer as doses em períodos que vão de seis a 12 meses. Assim, a pessoa só precisa receber uma nova carga, digamos assim, uma ou duas vezes por ano.
Agora vem o “mas”: apesar de a bomba estar praticamente pronta e os testes mostrarem resultados animadores, deve demorar alguns anos para esse tipo de dispositivo chegar ao mercado. A Intarcia ainda precisa descobrir, por exemplo, qual droga Prep é mais adequada para o projeto.
O dinheiro da fundação Bill & Melinda Gates certamente ajudará nesse processo. O investimento, na verdade, é dividido em duas partes: um fundo de US$ 50 milhões que consiste em uma participação acionária na Intarcia Therapeutics; e outro, no total de US$ 90 milhões, que corresponde efetivamente a uma doação que será concedida se a companhia atingir determinadas metas de desenvolvimento.
Posteriormente, outros montantes poderão ser repassados ao projeto. O objetivo é disponibilizar o implante em larga escala prioritariamente em locais com índices de disseminação do HIV muito elevados: os países que compõem a África subsaariana.
É claro que o implante e os medicamentos Prep não visam substituir o preservativo nas relações sexuais — as drogas não podem prevenir o contágio por outras DSTs, só para citar uma limitação. Mas, como cerca de 70% dos casos de contaminação pelo HIV estão na África, faz sentido a elaboração de uma estratégia de prevenção focada exclusivamente na Aids.