Polícia de São Francisco é autorizada a usar robôs com “licença para matar”

Projeto polêmico foi autorizado após críticas; robôs podem usar explosivos como arma, o que traz mais riscos para inocentes

Felipe Freitas
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Robô antibombas Talon é usado pela SFPD (Imagem: Divulgação/QinetiQ)
Robô antibombas Talon é usado pela SFPD (Imagem: Divulgação/QinetiQ)

A cidade de São Francisco, Estados Unidos, por meio da sua câmara de supervisores, aprovou o uso de robôs armados pela polícia. Agora, o Departamento de Polícia de São Francisco (SFPD, na sigla em inglês) poderá usar o equipamento para matar ou ferir suspeitos em situações de perigo à vida. Entre as polêmicas do caso, está a escolha da arma.

A proposta para o uso do “Robocop” garante que ele só será usado como último recurso. O principal exemplo usado em favor do robô foi o caso de um atirador que matou cinco policiais e dois civis em Dallas, Texas. A polícia da cidade texana usou um robô antibombas para levar uma bomba até o local onde o atirador estava.

Robô policial, o drone amigo da vizinhança

Se você já assistiu The Wire (você é meu amigo), deve lembrar da cena em que James McNutty, em um momento de “epifania” comenta com um de seus colegas que sente falta da época do “policial da vizinhança”, que conhecia os moradores pelo nome. 

A chegada do robô policial com “permissão para matar” leva aos cidadãos de São Francisco algo que eles só veem pelo noticiário: drones usados em guerras. Claro, dada as devidas proporções. Não estamos falando de um MQ-9 Reaper com míssil Hellfire, mas sim de um robô com uma granada ou escopeta — sim.

Conforme explica o Ars Technica, alguns robôs antibombas usam escopeta para “desarmar” a bomba, outros explosivos mais leves. Robôs armados não estão longe da população, mas o seu uso em operações de “combate” da polícia ainda é novidade.

A SFPD usa o robô Talon para situações antibomba. O robô é fabricado pela QinetiQ, empresa que também desenvolveu o MAARS, a versão “Rambo” do Talon.

Robô armado MAARS é fabricado pela QinetiQ, fornecedora do robô antibombas Talon (Imagem: Divulgação/QinetiQ)
Robô armado MAARS é fabricado pela QinetiQ, fabricante do robô antibombas Talon (Imagem: Divulgação/QinetiQ)

Um dos argumentos contrários ao uso dos “robôs policiais” (que não se chamam Murphy) é que não há necessidade da instalação de armas letais, pois a vida dos policiais não estará em risco — a operação dos robôs será feita remotamente. 

No caso em Dallas, ocorrido em 2016, a polícia usou o robô “adaptado” como último recurso — inclusive foi especulado que a bomba usada era do kit de desarme. Afinal, cinco policiais e dois civis foram mortos. Para garantir o seu uso como “última medida”, a legislação de São Francisco garantirá que somente um número limitado de oficiais de alto escalão autorizem o uso do robô como força letal.

Bombas aumentam risco de efeitos colaterais

O uso de um robô não garantirá o fim das falhas nas abordagens — ele ainda será controlado remotamente. Além disso, a opção da SFPD é, em um primeiro momento, usar “robôs-bombas” — que aumenta o risco de acertar civis.

O problema de efeitos colaterais com drones levou as Forças Armadas a desenvolver o Hellfire R9X, míssil antipessoal sem nenhum explosivo. Se o objetivo desses “robocops” são finalizar uma situação extrema sem colocar em risco a vida de policiais e civis, o uso de armas não letais nos robôs também é possível. Mesmo que alguns estados americanos tenham pena de morte, o papel da polícia (em qualquer país democrático) ainda é garantir o devido processo legal.

No fim, a “estreia” de uma legislação do tipo para polícias é também a evolução de algo natural na segurança pública: a adoção de tecnologias e estratégias de guerra nas operações cotidianas. E o “mantra” atual de desenvolvimento tecnológico em Forças Armadas é precisão e eficiência (Ucrânia que diga), algo difícil de se atingir com “robôs-bombas”.

Com informações: Ars Technica e Associated Press

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Felipe Freitas

Felipe Freitas

Repórter

Felipe Freitas é jornalista graduado pela UFSC, interessado em tecnologia e suas aplicações para um mundo melhor. Na cobertura tech desde 2021 e micreiro desde 1998, quando seu pai trouxe um PC para casa pela primeira vez. Passou pelo Adrenaline/Mundo Conectado. Participou da confecção de reviews de smartphones e outros aparelhos.

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