Os relógios de pulso comuns, baseados na tecnologia de quartzo, são extremamente precisos: mesmo os modelos baratinhos variam cerca de 10 segundos a cada mês. Só que, na Europa, os relógios que equipam eletrodomésticos, como micro-ondas, já acumularam 6 minutos de atraso (!) desde janeiro. Por quê? Por causa de uma disputa política.
Antes, vamos explicar como esses relógios funcionam. Diferente do quartzo (e dos mecânicos), os modelos ligados à energia elétrica costumam se basear na frequência da rede para atualizar a hora. No Brasil, essa frequência é de 60 Hz (ou seja, a corrente alterna 60 vezes por segundo); no continente europeu, o padrão é de 50 Hz. Como a frequência é constante, essa é uma forma relativamente confiável de medir o tempo.
O problema é que houve variação significativa na frequência da rede elétrica na Europa. Como informa a ENTSO-E, agência que regula a transmissão de energia na União Europeia, a média desde janeiro de 2018 tem sido de 49,996 Hz. Parece algo pequeno, mas foi suficiente para causar o atraso nos relógios — se a frequência estiver acima dos 50 Hz, os relógios ficam adiantados; se estiver abaixo, eles atrasam.
A variação ocorreu devido a uma disputa entre a Sérvia e o Kosovo. O Kosovo declarou independência em 2008, mas ainda não é reconhecido como país pela Sérvia. Isso gerou brigas sobre quem ficaria com a infraestrutura já existente de telecomunicações e eletricidade. Sem acordo, em dezembro de 2017, algumas regiões do Kosovo (habitadas em sua maioria por sérvios) deixaram de pagar pela energia elétrica que utilizavam.
Isso desbalanceou o sistema, já que o Kosovo passou a gastar mais eletricidade do que gerava. A Sérvia poderia balancear a rede naquela região, mas decidiu não fazer isso devido à disputa política. Como os sistemas da União Europeia são interligados e necessitam de comunicação constante para manter os números estáveis em 25 países, o que não aconteceu, os relógios foram atrasando gradualmente nas últimas semanas.
Felizmente, os relógios vão parar de atrasar: o Kosovo vai pagar pela eletricidade consumida, está produzindo energia suficiente para servir a população e o sistema será novamente balanceado. A expectativa é que tudo volte ao normal dentro de algumas semanas — mas os europeus terão que adiantar seus relógios manualmente.
Com informações: Boing Boing.