Telegram obedece STF e oculta canais bolsonaristas no Brasil para evitar bloqueio
Canais ligados a Allan dos Santos são suspensos no Brasil após Telegram cumprir ordem do ministro Alexandre de Moraes; bolsonarista é investigado pelo STF
Canais ligados a Allan dos Santos são suspensos no Brasil após Telegram cumprir ordem do ministro Alexandre de Moraes; bolsonarista é investigado pelo STF
O Telegram vem aparentemente ignorando a Justiça brasileira há algum tempo: o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tentou entrar em contato com a empresa, mas sem sucesso. No entanto, o mensageiro resolveu acatar uma ordem do STF (Supremo Tribunal Federal) e ocultou três canais ligados ao bolsonarista Allan dos Santos. Caso não cumprisse a decisão do ministro Alexandre de Moraes, o app poderia ser bloqueado no país por 48 horas, além de levar multa.
A ordem foi emitida na última sexta-feira (25) e, de acordo com o STF, foi cumprida no sábado, dentro do prazo de 24 horas estipulado pela Corte.
De acordo com a Agência Brasil, o STF exigiu o bloqueio das três contas ligadas a Allan dos Santos ainda em janeiro. No entanto, como o Telegram mantém sede em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e não tem representação oficial no Brasil, a ordem ficou sem um destino claro.
Isso mudou em fevereiro, quando a notificação foi feita a um escritório de advocacia que é procurador do Telegram no Brasil. Com isso, a ordem foi cumprida, afetando os canais “Allan dos Santos”, “TV Terça Livre” e “Artigo 220”.
Vale notar que, há alguns dias, a Folha revelou que o Telegram possui um representante jurídico no Brasil desde 2015: trata-se de um escritório de advocacia contratado especificamente para lidar com o registro de marcas no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).
Também é importante observar que a suspensão dos canais ocorreu somente no Brasil: eles não foram removidos pelo Telegram e podem ser acessados em outros países. Ainda assim, o pesquisador David Nemer explica no Twitter que o alcance das mensagens foi bastante reduzido: “um post dele tem em média 11 a 15 mil visualizações; após o bloqueio, não chega a 1 mil”.
O blogueiro Allan dos Santos é investigado pelo STF, acusado de usar redes sociais para coordenar uma rede de notícias falsas, além de cometer crimes de incitação de ódio e violência.
Esta é a nota do STF na íntegra:
Em respeito à decisão judicial proferida pelo ministro Alexandre de Moraes nos autos da Petição (PET) 9935, o Telegram suspendeu três contas atribuídas a um dos investigados pela suspeita de liderar esquema de financiamento de milícias digitais no Brasil.
A suspensão das contas, devidamente cumprida pelo aplicativo de mensagens neste sábado (26), determinava o prazo de 24 horas para a retirada dos perfis, sob pena de se bloquear o aplicativo por 48 horas caso permanecessem no ar, além de multa de R$ 100 mil por dia em caso de descumprimento.
STF
Pavel Durov, CEO do Telegram, disse no último domingo que cogitava limitar os canais do aplicativo na Ucrânia durante a invasão da Rússia como uma forma de combater fake news. “Em caso de agravamento da situação, consideraremos a possibilidade de restringir parcial ou totalmente a operação dos canais do Telegram nos países envolvidos durante o conflito”, afirma o executivo em mensagem pública no app.
No entanto, Durov mudou de ideia: muitos usuários pediram para que os canais do Telegram não fossem desabilitados durante a guerra, por serem “a única fonte de informação para eles”, segundo o CEO. Ainda assim, ele avisa que as pessoas devem checar os fatos, e não devem acreditar cegamente em tudo o que aparece no mensageiro.
“Peço aos usuários da Rússia e da Ucrânia que suspeitem de qualquer dado distribuído no Telegram neste momento”, diz o executivo. “Não queremos que o Telegram seja usado como uma ferramenta que agrava conflitos e incita o ódio étnico.”
Atualizado às 11h38