YouTuber brasileiro teria sido pago por vídeos contra vacina da COVID-19
YouTuber brasileiro conhecido por paródias foi contratado por agência de marketing com sede na Rússia para fazer vídeos questionando eficácia da vacina da Pfizer
YouTuber brasileiro conhecido por paródias foi contratado por agência de marketing com sede na Rússia para fazer vídeos questionando eficácia da vacina da Pfizer
Uma agência de marketing com sede no Reino Unido e na Rússia teria pago o YouTuber brasileiro Everson Zoio, com quase 13 milhões de inscritos no YouTube e mais de 3 milhões de seguidores no Instagram, para espalhar informações falsas relacionadas à taxa de mortalidade de vacinas contra a COVID-19. No caso, o influenciador foi contratado para divulgar uma tabela que insinuava que o imunizante da Pfizer tinha uma letalidade 3 vezes maior quando comparada à vacina da Oxford AstraZeneca.
Segundo uma apuração do jornalista investigativo alemão Daniel Laufer, o YouTuber brasileiro aceitou uma oferta de valor desconhecido feita pela Fazze para publicar conteúdo falso sobre a vacina da Pfizer.
Em um e-mail enviado a outro YouTuber — o francês Léo Grasset — a agência exige que o influenciador mostre ao público uma tabela de casos de morte após uso de imunizantes; Grasset deveria, então, apontar que a incidência de mortes de pessoas que tomaram a vacina da Pfizer é 3 vezes maior do que a da Oxford AstraZeneca.
Everson Zoio mostrou o mesmo material em um de seus vídeos. O conteúdo destoa do que geralmente é postado em seu canal, como pegadinhas e paródias de músicas.
O jornalista alemão confrontou Everson e o YouTuber indiano Ashkar Techy — que também aceitou a oferta da Fazze — com a informação. Eles apagaram os vídeos, e não responderam às perguntas de Laufer.
Em outro vídeo, o YouTuber brasileiro não faz críticas à Pfizer, mas sim à AstraZeneca. Ele afirma que a eficácia do imunizante é de 70%, e diz que “as outras são elevado (sic) a pelo menos a 90(%). Superior, né?”
Na verdade, a vacina da Oxford AstraZeneca oferece proteção a variante Delta do coronavírus, causa de preocupação mundial, de até 67% após as duas doses; a do imunizante da Pfizer reduz em até 88% o desenvolvimento de sintomas da doença, segundo estudo do New England Journal of Medicine.
O imunizante da AstraZenca, entretanto, é 100% eficaz ao tratar de casos graves da COVID-19, segundo a Universidade de Oxford, no Reino Unido. Ambos os imunizantes são suficientes para controlar a pandemia, segundo especialistas.
Em um e-mail enviado a um YouTuber francês, a agência diz que o influenciador deve mostrar uma tabela e apontar que a incidência de casos de pessoas que tomaram o imunizante da Pfizer é 3 vezes maior do que a vacina da Oxford AstraZeneca.
A tabela incluída no e-mail da Fazze compila artigos suspeitos e dados de vacinação de diversos países tirados de contexto.
Por exemplo, a tabela mostra o número de mortes de pessoas após tomarem a vacina da Pfizer, mas que podem ter morrido por outra causa, como um acidente de carro. Além disso, são dados extraídos de países onde a maior parte da população foi imunizada com as doses da Pfizer, portanto, é de se esperar que a taxa de óbitos seja proporcional.
Mesmo com dados errados, a Fazze ofereceu 2.000 euros para que Leo Grasset divulgasse a informação falsa. Ele expôs a oferta em sua conta no Twitter. Desde então, todos os artigos linkados no briefing da empresa foram apagados.
O Tecnoblog tentou contato com a Fazze. A reportagem achou o email de uma consultora da empresa, chamada “Ariana”. Ao enviar e-mail para ela, a correspondência é bloqueada por um endereço de vendas de uma agência de marketing chamada Adnow.
Segundo a BBC, a Fazze faz parte da Adnow, que tem sedes no Reino Unido e na Rússia. Contudo, o Tecnoblog apurou que dois terços dos funcionários moram na capital Moscou, e em Novosibirsk, terceira maior cidade do país.
A agência tem um funcionário no Brasil que se declara como gerente de conta da Adnow no país. Ele não respondeu às perguntas do Tecnoblog sobre a operação da empresa russa em território nacional.
A BBC entrou em contato com o diretor da Adnow no Reino Unido, Ewan Tolladay. Ele afirma que, à luz dos recentes escândalos envolvendo a empresa no pagamento a YouTubers para divulgarem fake news, a operação da filial britânica será encerrada.
Um dos sócios da Fazze seria o russo Stanislav Fesenko e outra pessoa, cuja identidade é desconhecida.
Autoridades da França e da Alemanha — um YouTuber alemão também foi abordado pela Fazze com a proposta de espalhar desinformação — foram acionadas e devem investigar o caso.
O porta-voz para assuntos internacionais do Partido Verde alemão sugeriu que a conexão da Fazze com Moscou deve ser o alvo do inquérito:
“Falar mal de vacinas no Oeste mina a confiança em nossas democracias e confere mais crédito às vacinas da Rússia. Há apenas um lado que se beneficia disso: o Kremlin.”
Em comunicado, a embaixada da Rússia em Londres negou envolvimento do país com o marketing de fake news e disse que trata a pandemia de COVID-19 como um “problema global e, portanto, não está interessado em minar esforços para combatê-la”. Os embaixadores russos afirmam que a vacina da Pfizer é uma das formas de controlar o vírus.
O Tecnoblog tentou contato com Everson Zoio, e perguntou se o YouTuber havia sido de fato contratado para falar mal da Pfizer ou da AstraZeneca, mas não obteve resposta até a publicação da matéria.
Com informações: BBC