O que é skiplagging? [e porque as aéreas odeiam]

Saiba o que é skiplagging, uma estratégia de comprar passagens aéreas para "destinos ocultos" que está tirando as companhias aéreas do sério

Ronaldo Gogoni
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• Atualizado há 1 ano e 1 mês
JESHOOTS-com / garota em frente a painel de voos de aeroporto / Pixabay / skiplagging

Talvez a palavra skiplagging não signifique nada para você, mas ela anda tirando o sono de todas as companhias aéreas: trata-se de uma estratégia dos passageiros, que economizam em tarifas ao comprarem passagens para os chamados “destinos ocultos”.

O que é skiplagging?

O skiplagging funciona da seguinte forma: o passageiro comprar uma passagem para um determinado destino, mas fazendo uma escala no ponto onde realmente deseja desembarcar, para economizar tarifas. Você deve estar se perguntando: “como assim?”.

Digamos que você deseja sair de São Paulo para Brasília na sexta-feira, mas os preços das passagens são muito altos. Para contornar isso, compraria uma passagem de São Paulo para Teresina com escala em Brasília, que sairia mais em conta. Ao chegar na cidade de escala, bastaria desembarcar porque Brasília é o seu destino desde o início.

Dessa forma, o passageiro não faz o trajeto todo da passagem que comprou, mas ainda assim, os preços podem sair muito mais em conta do que simplesmente adquirir uma diretamente para a cidade que deseja ir. Claro que isso só funciona se o passageiro não despachar bagagem. Caso contrário, a mala será enviada ao destino final do bilhete.

Funciona porque as operadoras aéreas praticam preços diferenciados em trechos e, muitas vezes, viagens mais longas podem sair mais baratas do que outras mais curtas, dependendo da procura e do perfil dos usuários. Por exemplo, a Ponte Aérea (São Paulo/Rio de Janeiro) é um dos trechos mais baratos do Brasil quando comprado com antecedência, pelo grande fluxo de passageiros de todo tipo e poder aquisitivo.

Já o trecho São Paulo/Brasília é mais usado por políticos e empresários (clientes com maior poder aquisitivo), e um mais longo (por exemplo, Rio de Janeiro/Manaus) pode ser mais barato por atender mais turistas ou pessoas comuns, das classes C e D que também precisam viajar. Assim, faz sentido para a companhia cobrar menos no trecho mais longo e mais do trecho mais curto, ajustando preços com o seu público alvo.

E é assim que o passageiro se aproveita com o skiplagging.

Reação ao abuso das companhias aéreas

Claro que não há santos nessa história. Embora o skiplagging possa ser visto como um golpe e, portanto, envolve nisso um dilema ético, ele vem sendo adotado por um número cada vez maior de passageiros experientes em viagens. Principalmente, porque as companhias aéreas estão cobrando cada vez mais caro, e não é só no Brasil.

No mundo todo as empresas acumulam reclamações que vão desde preços abusivos a cortes de benefícios, além de uma prestação de serviços terrível ou à prática indiscriminada de overbooking (vender mais passagens do que a capacidade dos aviões ou da própria empresa), esperando que nem todos os passageiros apareçam, o que vira e mexe resulta em problemas quando todos os compradores surgem no terminal.

Aeroporto

De qualquer forma, o skiplagging é prejudicial a companhias, pois reduz o lucro de uma passagem, já que o passageiro se valeu de uma brecha para pagar bem menos do que o normal caso comprasse um ticket para seu destino original.

Companhias não estão nada contentes com o skiplagging

Em fevereiro de 2019, a Lufthansa processou um passageiro que praticou skiplagging e está no momento exigindo uma indenização de US$ 2 mil. Antes dela, a United já foi à corte contra clientes pelo mesmo motivo e, antes mesmo disso, em 2014, ela processou Aktarer Zaman, um jovem de então 22 anos por abrir um site chamado Skiplagged.com.

A plataforma de pesquisa de voos (que revela, neste caso, as suas escalas) ainda está no ar. “Encontre voos que as companhias aéreas não querem que você veja. Estamos expondo lacunas nos preços de passagens aéreas para economizar dinheiro”, afirmam.

Para o infortúnio da United, ela abriu o caso no estado de Illinois, enquanto o site é sediado em Nova Iorque, tecnicidade essa que acabou levando o caso a ser abandonado. Desde então a companhia não mais importunou Zaman e passou a processar os usuários. O que pode ser uma dor de cabeça e resultar em prejuízo.

Embora seja assustador, trata-se mais de um caso de pegar um usuário aleatório e usa-lo como “bode expiatório” para desestimular outros passageiros a usarem o skiplagging.

No entanto, se os preços das passagens e os serviços não melhorarem, a estimativa é que a prática continue a tirar o sono das companhias aéreas por um bom tempo.

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Ronaldo Gogoni

Ronaldo Gogoni

Ex-autor

Ronaldo Gogoni é formado em Análise de Desenvolvimento de Sistemas e Tecnologia da Informação pela Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo). No Tecnoblog, fez parte do TB Responde, explicando conceitos de hardware, facilitando o uso de aplicativos e ensinando truques em jogos eletrônicos. Atento ao mundo científico, escreve artigos focados em ciência e tecnologia para o Meio Bit desde 2013.

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