Review: Um ano depois do lançamento, vale a pena comprar um Pebble no Brasil?
Smartwatch que bateu recorde no Kickstarter está sendo vendido há 1 ano.
Durante esse tempo, o Pebble ganhou atualizações e melhorou seu ecossistema.
O Pebble, no início do ano passado, quebrou vários recordes em sua campanha do Kickstarter. Mesmo na época, já existiam vários smartwatches, relógios de pulso que fazem mais que apenas mostrar a hora. Sua popularidade mostrou o quanto as pessoas queriam que um smartwatch se assemelhasse a um relógio comum, não exigindo recargas constantes e sem um design chamativo demais.
Ele emprega a simples filosofia de querer que você tire menos seu celular do bolso, algo que costumava ser trivial. Não era um gesto repetido diversas vezes diariamente, não éramos bombardeados por emails e notificações todo o tempo. Hoje, com celulares cada vez maiores, chega a ser um incômodo, além de gerar constantes interrupções. O Pebble lhe entrega suas notificações e lhe dá a liberdade de escolha.
Neste review, tento responder às seguintes perguntas: vale a pena comprar um Pebble no Brasil? Ele realmente ajuda no dia a dia ou é apenas um brinquedinho legal? Como ele se sai comparado à concorrência? Importei o relógio e o usei por uma semana, antes e depois da grande atualização que ele recebeu recentemente, tentando exaustar todos os seus recursos. O resultado você vê a seguir.
Design e tela
Quando vi o Pebble pela primeira vez em sua campanha, achei que ele chamaria muita atenção por parecer grande, fora dos padrões de um relógio comum. Mas depois de colocá-lo no pulso, é incrível como ele simplesmente desaparece. Não recebo olhares na rua por usá-lo, e ele realiza a função de mostrar as horas muito bem, com o display e-paper sempre ligado.
Entretanto, ele não é exatamente uma obra de arte. Considerado por muitos um patinho feio, o Pebble precisou redesenhar o relógio em uma versão premium para agradar aos que necessitam de um acessório mais alinhado. Falarei um pouco sobre essa versão, o Pebble Steel, posteriormente.
A moldura da tela tem um acabamento refletivo, segundo a Pebble com uma “camada anti-arranhões”. Essa camada é um dos defeitos principais do relógio, porque realmente não ajuda em quase nada na prevenção de danos. Qualquer esbarrão deixa uma cicatriz, e existem diversos relatos de consumidores com telas desfiguradas. Com isso em mente, tomei extremo cuidado, mas nem isso foi o suficiente para evitar pequenos arranhões em poucos dias de uso.
Sobre o display, muitos tinham a impressão com a campanha do Kickstarter que o smartwatch sairia de fábrica com uma tela de e-ink, como a dos leitores de livros digitais. Não foi o caso: o que o Pebble usa é um LCD de baixo consumo de energia, o que tem suas vantagens e desvantagens. Apesar de não ter um contraste tão bom quanto e-ink sob o sol, o LCD atualiza rapidamente, é muito mais responsivo que a tela de um Kindle, por exemplo.
Ele tem resolução de 144×168 pixels, somente preto e branco, sem escala de cinza. Os ângulos de visão poderiam ser melhores, e às vezes acho que a tela é pequena demais para a moldura. Há um certo esforço para a tela parecer que faz parte da mesma, mas não é perfeito, e seria bom aproveitar um pouco mais o espaço.
A pulseira que vem de fábrica não é muito adequada a um relógio de 150 dólares. Ela não é exatamente feia, mas aparenta ser de um produto de classe inferior, o mesmo problema do SmartWatch 2, da Sony. Felizmente, ela é facilmente trocável: comprei uma pulseira de metal por 10 reais e ele ficou com uma aparência bem melhor. É só pedir por pulseiras de 22 mm em qualquer relojoaria, e você terá um Pebble de cara nova.
Software
O Pebble saiu de fábrica com um software prematuro. Ele sempre possuiu grande potencial, mas os aplicativos desenhados para ele eram descentralizados, espalhados pela App Store, Play Store e os mais diversos sites, e os desenvolvedores não tinham acesso aos mais básicos instrumentos que ele oferece, como o acelerômetro.
Com a recente loja de aplicativos, lançada logo depois do Pebble Steel, tudo isso mudou, e a suíte de desenvolvimento liberada para os programadores junto com ela deu muito mais liberdade. Agora é possível ter aplicativos como o Sleep as Android (Play Store, R$ 6,67), que utiliza dados do acelerômetro do relógio para identificar níveis de sono e descobrir a melhor hora para você acordar, além de gerar gráficos para te ajudar a descobrir como melhorar seu sono.
E todos esses novos aplicativos são fáceis de se encontrar. Apesar de ter uma seleção escassa, a nova loja do Pebble ajuda os donos a encontrarem o que transforma um relógio pouco útil em uma poderosa ferramenta de produtividade e entretenimento, que auxilia desde a prática de esportes até a busca por bons restaurantes.
A nova loja foi lançada na segunda-feira passada (3) para iOS, e ainda não possui uma versão para o público geral no Android. Testei a prévia da loja para Android, mas tanto nesta quanto na para iOS, ela é basicamente uma página web adaptada em um aplicativo. Isso não é novidade, mas é decepcionante o quão mal otimizada é a loja atualmente. Ela é lenta e trava muito, mesmo na versão “estável” para o iPhone.
Os menus do Pebble tomaram uma aula de design dos antigos Macs: como a tela não é capaz de mostrar cores diferentes de preto ou branco, o gradiente é feito com pontos pretos em diferentes densidades, e o efeito criado é bem engenhoso. É bacana ver tecnologias atuais tomando lições de antigamente.
Há uma escassez de aplicativos nativos do Pebble. Além de quatro watchfaces, imagens que mostram a hora e outras informações, há apenas um controlador de música e um gerenciador de alarmes, que permite somente quatro alarmes ao mesmo tempo.
Isso é sanado pelos aplicativos externos, mas na pequena memória interna do relógio só cabem oito aplicativos. Porém, vários destes, como o Glance for Pebble, realizam várias funções ao mesmo tempo. É decepcionante ver o Pebble sair de fábrica sem um cronômetro e um contador regressivo, algo que não deveria faltar em nenhum relógio.
Usabilidade
Ao tirar o relógio da caixa, qualquer botão pressionado irá ligá-lo. Depois de instalado o aplicativo, o reconhecimento do relógio é rápido e sem intervenção do usuário, que apenas confirma a conexão. Logo depois disso o relógio está pronto para recusar suas chamadas.
O principal emprego do Pebble são as notificações, e ficaria difícil defendê-lo se ele não tivesse um agrupamento das mesmas, uma central. Anteriormente à atualização, era isso que ocorria. As notificações apareciam uma vez e sumiam para sempre. Agora, podemos ver cada uma delas novamente no menu.
Elas chegam no relógio com uma leve (mas facilmente notável) vibração, e são primariamente ligações, SMS e emails. No Android há opções de Hangouts, WhatsApp e Facebook Messenger nas configurações, e para ir além disso é necessário baixar outro aplicativo. No iOS, todas as notificações são passadas, e se quiser abdicar das mesmas no relógio, também é preciso abdicá-las no celular.
Apesar de ser necessário baixar um aplicativo de terceiros no Android para ter mais notificações, eu prefiro esse método ao do iOS. Posso escolher exatamente o que quero no meu pulso e no meu celular, com poucos segundos de trabalho.
A bateria do meu Pebble durou 4 dias na minha primeira carga. É abaixo dos 5 a 7 dias prometidos, mas como estava avaliando o relógio, o uso foi significativamente mais pesado. Ainda é uma marca muito boa, bem acima do que o Galaxy Gear oferece.
Só é possível saber quanto de bateria resta quando ela fica fraca, e isso não me incomodou, pelo contrário. Como um jornalista disse sobre o Pebble em uma análise, o fato dele não mostrar a porcentagem da bateria é libertador no sentido de que a ignorância inibe o medo.
A função de despertadores, apesar de pouco customizável, é bem interessante. Acordo rapidamente com o Pebble, e tenho sono pesado. Tem também um ponto bacana que é lhe acordar sem necessariamente acordar seu parceiro, por não emitir um som alto para fora. As vibrações no corpo, porém, soam como um barulho para quem o usa.
No dia a dia, se eu tirasse o relógio da caixa e utilizasse somente os aplicativos que vieram com ele, eu não ficaria satisfeito. Mas a gama de possibilidades aberta por aplicativos externos faz com que eu possa fazer de tudo um pouco. Alguns aplicativos que instalei:
- pTOTP: funciona como o Google Authenticator para Android, faz com que eu possa acessar minhas contas que requerem verificação em 2 passos compatíveis com OTP facilmente. Utilizei o aplicativo inúmeras vezes para minha conta do Google e do DigitalOcean, e ele funciona mesmo sem o celular conectado.
- Sleep as Android: antes eu o considerava um aplicativo perigoso, porque requeria que eu deixasse meu celular em cima da cama, e eu com certeza o derrubaria. Em combinação com o Pebble, é possível, através do acelerômetro, gerar gráficos de sono baseados no movimento, e uma das funções mais legais disso é não deixar o despertador tocar quando você estiver em um sono pesado, ou seja, completamente parado. Ele também usa o vibrador do relógio para lhe acordar.
- Music Boss: o aplicativo nativo de controle de música, apesar de funcionar corretamente, tem poucas funções. O Music Boss lhe deixa mudar o volume, remapear os botões, dentre outras funções.
- Glance for Pebble: uma watchface altamente customizável com dados de previsão do tempo, número de emails e chamadas perdidas, além da função de achar o celular simulando uma ligação para ele. O relógio passa a avisar quando você esqueceu seu celular em algum lugar ao vibrar quando o Bluetooth é desconectado.
- Notification Center for Pebble: permite um melhor controle de notificações. Com ele, notificações removidas do celular são removidas do Pebble; qualquer aplicativo pode mandar notificações para o pulso; ele pode filtrar indesejadas; e ficar quieto quando você está dormindo, por exemplo.
Hardware
Todo o tempo que o Pebble salva lhe entregando suas notificações no pulso seria perdido se ele tivesse que ser removido sempre que for lavar as mãos, por exemplo. Ele, felizmente, é à prova d’água, até 5 atm, um ótimo valor mesmo para relógios comuns.
Ele não possui uma tela sensível ao toque, como seus concorrentes, mas isso não atrapalha a experiência do usuário. Os botões são responsivos, os menus são facilmente acessados. Quando experimentei o Galaxy Gear, foi difícil me acostumar com os gestos necessários para se navegar em seus menus. Com o Pebble, a aprendizagem foi instantânea. Tudo é intuitivo.
O smartwatch conta com um SoC ARM, um motor de vibração, uma bateria de 130 mAh, um chip Bluetooth 4.0 de baixa energia para se comunicar com o celular, e só. Não existe conectividade Wi-Fi, um microfone, uma câmera. Isso deixa a pequena bateria durar ainda mais, mas também deixa um buraco nas funcionalidades. Frequentemente eu simplesmente quero não só ver que recebi um email, mas retornar uma mensagem curta também. Um microfone e reconhecimento de voz seriam perfeitos, mas difíceis de serem bem implementados.
Seu cabo de recarga possui conexão magnética, extremamente similar ao MagSafe da Apple. Me pergunto até se a Pebble não está sujeita a algum processo por isso. Pode-se recarregar o Pebble com qualquer saída USB, e não é incluído um carregador de parede.
Demora menos de 2 horas para se carregar a pequena bateria. Por falar em bateria, o impacto do Bluetooth 4.0 rodando o tempo inteiro no meu celular não passou de 1% em nenhum momento, assim como todos os aplicativos que também rodam no fundo no meu celular. Não dá nem para perceber que existe algo conectado.
Pebble Steel
Recentemente, um novo modelo do Pebble foi anunciado na CES. Cada vez mais passando por um relógio comum, a nova iteração do Pebble não entrega componentes internos completamente remodelados, melhor bateria, ou algo do gênero. Ela foca no design, nos materiais empregados, e é incrivelmente semelhante com qualquer relógio de metal que vemos por aí.
Por dentro, o que muda é somente uma memória interna ligeiramente maior, mas de fábrica ele não deixa as pessoas instalarem mais que 8 aplicativos. É especulado que uma atualização futura permita isso. Além da memória, um LED de notificação colorido foi adicionado, e ele pode ser controlado por desenvolvedores em seus aplicativos. Ele roda os mesmos aplicativos que a versão anterior.
O Pebble Steel vem com pulseiras de couro e aço inoxidável, nas cores prateado ou preto. Ele realmente parece muito mais profissional, o vidro frontal é Gorilla Glass e aparenta ser mais resistente e durável. Mas tudo isso tem um preço: 100 dólares a mais do que o já salgado Pebble de US$ 150. Custando US$ 250, a nova versão do smartwatch roda os mesmos aplicativos que a anterior, em um pacote muito mais refinado.
Como comprar
Atualmente, o único modo de se adquirir o Pebble oficialmente no Brasil é importando-o pelo site da empresa, GetPebble.com. Ele custa US$ 150, mais frete. Existe uma opção de frete gratuito, mas é importante notar que ele é altamente sujeito a extravios e demora meses. É similar a comprar algo da China. Ele oferece uma chance menor de serem incididos impostos sobre o gadget, mas eu não arriscaria.
O frete por courier é de US$ 25 e demora apenas 5 dias úteis, no máximo, para chegar. A Pebble declara o valor real para a alfândega, portanto a chance de sofrer cobrança de impostos é extremamente alta. Esse imposto é de aproximadamente 110%. Portanto, você paga US$ 367,50 pelo relógio, algo em torno de R$ 900. Não é um valor barato, mas parece quando se compara com o do Pebble Steel: R$ 1.450.
Não existem revendedores oficiais no Brasil, nem planos da empresa de vender o relógio por aqui. R$ 900 é um valor bem salgado para o smartwatch, mas sempre existem promoções como frete expresso grátis no site, e é esperada uma queda do preço a qualquer momento, porque revendedores começaram recentemente a oferecer descontos.
Além disso, quando o preço é comparado aos seus competidores, o Galaxy Gear e o SmartWatch 2, não faz tão feio. O valor sugerido para venda de ambos localmente é, respectivamente, R$ 1.299 e R$ 999. Eles são encontrados, no entanto, com um valor inferior a esses no mercado.
Pontos negativos
- Caro.
- Hardware limitado.
- Tela de baixa resolução.
Pontos positivos
- Leve, discreto, passa por um relógio comum.
- Bateria de longa duração.
- As funções de notificações e despertador são extremamente úteis.
- Compatível com Android e iOS.
Conclusão
Não é à toa que uma pequena startup conseguiu domar um mercado tão competitivo, inclusive pelos grandes nomes. O Pebble é um produto a se admirar, a servir de molde para futuros smartwatches. Ele é simples, e essa é a chave do seu sucesso.
Claro que ele, no preço atual no Brasil (ou até mesmo lá fora), não está na zona de compra de impulso. Como o Paulo Higa afirmou no review do Sony SmartWatch 2, se você não usa um relógio de pulso atualmente, talvez ele não seja para você, pois ele também está longe de ser indispensável.
Mas o que faz dele uma melhor escolha, na minha opinião, a relógios como o SmartWatch 2, é a grande comunidade de desenvolvedores, os inúmeros aplicativos, a possibilidade de escolher como ele mostra as horas, a navegação intuitiva e rápida. Ele não precisa de uma tela colorida, mas sim de não gerar preocupações, como ter que tirar ao nadar ou colocar na tomada todo dia, como se tem que fazer com o Galaxy Gear.
É difícil, no entanto, justificar o preço do Pebble. Os componentes por si só são bem baratos. Espero muito, pelo bem da empresa, que grande parte desse dinheiro esteja indo para pesquisa e desenvolvimento, porque vai ser difícil competir com os peixes grandes quando eles finalmente acertarem a receita. E eles irão, e logo.