Surgeon Simulator é o dinheiro mais bem gasto em games de 2013

Giovana Penatti
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• Atualizado há 11 meses

Esses dias, estava  pensando sobre o cenário dos games atualmente. Como os jogos de grandes empresas com orçamento milionário vêm tendo que dividir seu espaço com games menores, de produtoras independentes, e como isso tem mudado (e vai mudar ainda mais) o mercado. Os jogos AAA chegaram a um ponto em que vender alguns milhões de cópias não é o suficiente para cobrir os gastos, enquanto os de baixo orçamento focam na diversão para ganhar fãs. E ganham. Não é mais tão importante ter um jogo com gráficos ultrarrealistas, duração enorme ou uma história elaborada; é importante que ele seja divertido.

Talvez Surgeon Simulator 2013 marque uma virada na indústria dos games, já que tem recebido muita atenção da mídia especializada desde antes de ficar pronto, o que é relativamente incomum para jogos independentes. Seu lançamento foi aguardado, anunciado e celebrado internet afora. Os reviews chegaram com notas altas e cheios de elogios: o GameSpot, que deu nota 9 para Bioshock Infinite e 7,5 para Gears of War: Judgment, coroou Surgeon Simulator 2013 com 8. Todo mundo quer gravar um vídeo mostrando como mandou mal durante uma operação. De fato, o jogo  está coberto de hype. Mas, mesmo que não estivesse, valeria os 17 reais de investimento.

Para defini-lo em uma palavra, fico dividida entre “ridículo” e “maravilhoso”, porque ele é os dois. É completamente nonsense, despretensioso e só quer tirar umas risadas de você. Para isso, ele é ridículo. E, por isso, é maravilhoso.

Apesar de ter simulador no nome, ele se encaixa bem melhor na categoria zuera. O protótipo foi criado em apenas 48 horas, durante a Global Game Jam, e fez o maior sucesso na internet. Então, seus quatro criadores decidiram ver o que dava para fazer em 48 dias.

Em Surgeon Simulator 2013, você é um cirurgião que deve fazer alguns transplantes. São três no total: um de coração, outro de rins e o último, de cérebro. Pois é.

O game tem um quê de antigo, como se fosse aquele CD obscuro que seu primo tinha de um jogo que ninguém conhecia nos primórdios PlayStation 2. A trilha sonora é uma música eletrônica que estaria facilmente na abertura de um seriado dos anos 90. Os gráficos são bem simples, lembram o começo do 3D, com algum refinamento para não ter pontas quadradas. E por último, a jogabilidade é teoricamente simples.

“Teoricamente” porque os controles são muito difíceis de dominar, a ponto dos próprios criadores não jogarem “direito”. Cada um dos dedos é uma tecla (A, W, E, R e espaço – coloque os dedos em cima delas no seu teclado para ver qual é qual). O mouse é responsável pelo braço e pelo pulso: o botão esquerdo abaixa a mão e o direito, ao ficar pressionado e movimentar o mouse para os lados, rotaciona e mexe o pulso para cima e para baixo.

Sua mão virtual não tem nenhuma destreza para ir atrás dos objetos ou pegá-los; cabe a você fazer absolutamente todos os movimentos. A sensação é de estar controlando uma marionete e é impossível não dar risada com sua própria falta de habilidade.

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Aproveitando o screenshot, alguns achievements do jogo são obtidos ao brincar com os movimentos da mão. Esse aí de cima é o Surgery Horns, mas há outros. Sim, inclusive para aquele dedo.

Os achievements, aliás, dão uma boa ideia do que é possível fazer no game e do que ele espera que você faça, como terminar uma cirurgia após ser dopado e eletrocutado, perder todos os órgãos pela porta da ambulância, enrolar os intestinos do paciente no pescoço dele como um cachecol e vários outros.

O procedimento padrão é quebrar os ossos que estiverem no caminho, remover os órgãos e fazer a troca pelos novos. Há ferramentas suficientes para isso, como martelo, serra e uma serrinha elétrica rotativa (isso não é tão absurdo; na vida real, são utilizados aparelhos desse tipo). O que atrapalha é a falta de controle que você tem sobre os movimentos da mão e, consequentemente, sobre as ferramentas: ao relar nelas, se afastam lentamente, como se a gravidade não funcionasse direito. Não é difícil jogá-las longe sem querer e ter que improvisar com, digamos, uma caneca.

Depois de, com muito esforço, conseguir pegar uma serra de ponta-cabeça com o dedo anelar e o polegar, é preciso utilizá-la no paciente. Até dá para tentar serrar, mas é muito mais fácil na porrada (e acho que é só assim que dá certo). Eventualmente, os caquinhos de ossos deixam expostos os órgãos e é preciso cortá-los de seus nervos ou seja lá o que os prende no lugar com um bisturi ou o laser – que, ao ser largado pelo jogador, causa uma das gargalhadas mais incontroláveis e espontâneas do jogo.

No fim, todos os órgãos são removidos e, no lugar, é colocado o novo. Tcharam, cirurgia completada com sucesso!

Créditos: Lazygamer.net

O jogo dá uma nota para sua cirurgia de acordo com o tempo que você demora e o tanto de sangue que seu paciente perde. Se perder todo o sangue, claro, ele morre e é game over. Aliás, uma dica preciosa que ninguém te dá: a seringa de líquido verde controla a hemorragia dele. Mas causa efeitos colaterais no cirurgião se for usada indevidamente.

Assim como os tipos de operação, os ambientes mudam. Há a sala de cirurgia, uma ambulância em movimento e até uma estação espacial com gravidade zero. Mas, de modo geral, o jogo é bem curto. Depois de um tempo, fica repetitivo refazer as mesmas cirurgias. Esse é, provavelmente, o único defeito.

Como deve estar parecendo, é uma galhofa do começo ao fim. E é aí que fica o encanto de Surgeon Simulator 2013: ele foi feito só para divertir. Não é o jogo que vai mudar sua vida; no entanto, talvez marque o começo de grandes mudanças na indústria dos games. Mas esse é assunto para outro post.

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Giovana Penatti

Giovana Penatti

Ex-editora

Giovana Penatti é jornalista formada pela Unesp e foi editora no Tecnoblog entre 2013 e 2014. Escreveu sobre inovação, produtos, crowdfunding e cobriu eventos nacionais e internacionais. Em 2009, foi vencedora do prêmio Rumos do Jornalismo Cultural, do Itaú. É especialista em marketing de conteúdo e comunicação corporativa.

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