Gear S3 Frontier: um toque esportivo no pulso

Relógio da Samsung é elegante e monitora seus exercícios físicos por um preço alto

Paulo Higa
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• Atualizado há 10 meses

Quando a Samsung apresentou seu novo smartwatch, muita gente ficou impressionada. Não por alguma função de outro mundo ou recurso inovador, mas por causa do design. Disponível em duas variantes, uma clássica e uma esportiva, o Gear S3 é um belo relógio de luxo que, por acaso, também possui tela, processador, GPS e sensor de batimentos cardíacos.

Cobrando R$ 2.199, a Samsung quer atender ao público que compraria um relógio elegante, mas oferecendo um produto capaz de fazer mais do que apenas exibir as horas. Será que consegue? Eu testei o Gear S3 Frontier por três semanas e conto minhas impressões neste review.

O design é certamente um dos fatores mais importantes na escolha de um relógio (e talvez o mais importante para muita gente). O Gear S3 não decepciona: tanto o Classic quanto o Frontier impressionam pela elegância, lembrando um relógio tradicional de luxo, de alguns milhares de reais. O modelo padrão do Gear S2, que parecia até bonito na época do lançamento, fica parecendo um brinquedo ao lado do modelo novo.

Mas vale ressaltar que, seguindo a tendência dos relógios normais, o Gear S3 é grande, com 46 mm de diâmetro — provavelmente ele ficará estranho em pulsos mais finos. A estrutura robusta que prende as pulseiras e a volumosa borda giratória também contribuem para essa sensação. Ainda assim, não chega a ser um trambolhão da Fossil e nem pequeno demais para quem prefere os relógios grandes.

É um design bem funcional: ele tem resistência à água (IP68), encaixe padrão de pulseiras (basta comprar uma de 22 mm no relojoeiro) e uma borda giratória que torna a usabilidade muito melhor que em qualquer relógio com Android Wear. Dá para atender ligações, rolar páginas e navegar entre widgets e notificações sem melecar a tela com impressões digitais que prejudicam a visibilidade do display. Controles físicos tendem a ser mais rápidos que controles de toque, o que é verdade especialmente em dispositivos com tela de 1,3 polegada.

Aqui, é importante dizer que, além da navegação mais eficiente por causa da borda giratória, o Tizen se mostrou um sistema operacional muito superior ao Android Wear em quase tudo. Os botões virtuais são bem localizados e as interfaces dos aplicativos organizam melhor as informações, jogando o que é mais importante para a tela principal. Ou, melhor ainda, exibindo tudo em widgets acessíveis a um giro de distância, algo que o Android Wear não suporta até hoje.

As faces de relógios são bem desenvolvidas e esteticamente agradáveis, embora o trabalho fique muito dependente da própria Samsung, já que são poucas as boas opções de terceiros no Galaxy Apps. A maioria dos mostradores suporta complicações, como previsão do tempo, número de passos, frequência cardíaca, horário do nascer do sol ou pressão atmosférica. Todas as informações da face, incluindo os segundos, são exibidos a todo momento no visor do relógio.

O Tizen também agrada pelo bom gerenciamento de energia. Eu fiquei em dúvida se apontaria a duração de bateria como ponto positivo do Gear S3, já que ela ainda fica abaixo do que eu gostaria para um relógio — o ideal seria de pelo menos uma semana, como cumpre o moribundo Pebble. Mas a autonomia é notavelmente melhor que os smartwatches da mesma categoria, com Android Wear ou watchOS.

Em todos os dias, fui capaz de encerrar o primeiro dia (das 7h às 23h) com pelo menos 55% de carga, mesmo com a tela sempre ligada. Nas mesmas condições, não sobra uma gota de combustível no ZenWatch 3. Em média, consegui manter o Gear S3 Frontier funcionando por dois dias completos — dá para estender a bateria para a manhã do terceiro dia, mas é mais seguro simplesmente deixar o relógio descansando no carregador magnético na noite anterior.

Os aplicativos que poderiam consumir muita energia se fossem mal programados também são econômicos, como o S Health. Mesmo depois de uma trilha de 13 km em Cusco, no Peru (disclaimer: viajei com um grupo de jornalistas a convite da Samsung), com 5h16min de medição de batimentos cardíacos, rastreamento de GPS e tela ligados o tempo inteiro, além de algumas verificações no barômetro e notificações respondidas, eu terminei o dia com 32% de bateria.

A Samsung divulga que a bateria aguenta até quatro dias, mas eu desconsidero essa informação porque ela leva em conta que o usuário deixará a tela desligada, ligando somente com o movimento do pulso. Isso é uma gambiarra inventada pelas fabricantes para tentar esconder a baixa autonomia dos smartwatches — é um movimento artificial inconveniente que ninguém faz quando está vestindo um relógio de verdade e que, portanto, também não farei nos reviews de smartwatches.

Os sensores funcionam bem. O leitor de batimentos cardíacos monitora a frequência periodicamente e registra tudo num histórico do S Health. O barômetro, que calcula a pressão atmosférica, também serve para verificar a altitude, o que, além de atiçar a curiosidade em regiões muito altas, melhora a precisão do aplicativo de exercícios, já que 1 km de corrida na subida não é a mesma coisa que 1 km em terreno plano. Ele ainda registra o sono automaticamente, mostrando em quais momentos você estava dormindo de maneira leve ou pesada.

Por fim, há alguns detalhes que valem rápida menção: a tela AMOLED emite altíssimo brilho, permitindo boa visualização mesmo com sol forte; é possível atender ligações pelo relógio e conversar por viva-voz (funciona muito bem, mas eu tenho vergonha de fazer isso em público); e seus exercícios são detectados automaticamente, eliminando a necessidade de acionar o S Health (no entanto, se você quiser rastrear seu trajeto pelo GPS, é preciso iniciar uma atividade manualmente, por questões de economia de bateria).

O Tizen é o Windows Phone dos smartwatches: ele pode ser mais fluido, mais bem acabado e mais econômico que o Android Wear, mas sofre com a falta de desenvolvedores produzindo bons aplicativos. Ainda que o Tizen seja um sistema operacional de código aberto patrocinado por um conjunto de empresas, a Samsung é quem realmente investe na plataforma — o que não significa que os esforços estejam se transformando em resultados práticos para o consumidor.

Segundo a Samsung, mais de 10 mil aplicativos já estão disponíveis para o Gear S3. O problema é que nenhum desses 10 mil é o que você quer. Wunderlist? Todoist? Acostume-se com o aplicativo de lembretes da Samsung. Runkeeper? Endomondo? Não existe, tudo precisa passar pelo S Health. Citymapper? Google Maps? Também não tem. Inclusive, não fui capaz de encontrar um aplicativo de mapas realmente bom, o que é decepcionante para um smartwatch com GPS.

O suporte a aplicativos de terceiros, embora não seja um problema exclusivo do Tizen, também precisa melhorar. O grande problema dos smartwatches é que eles fazem a ponte entre o smartphone e o usuário por meio das notificações, o que limita demais as interações com os aplicativos. Se você receber uma foto no WhatsApp, por exemplo, precisa sacar o smartphone do bolso para vê-la, o que é contraproducente. O Wunderlist mandou uma notificação dizendo que há uma tarefa pendente? Boa sorte tentando adiar ou marcar como concluída.

O Gear S3 também chega incompleto ao Brasil, sem suporte de fábrica ao Samsung Pay. O smartwatch tem NFC para pagamentos por aproximação e MST para simular a tarja magnética, mas a liberação do recurso depende de uma atualização de software futura da Samsung, um problema que também existe nos smartphones da marca: até o Galaxy A9, posicionado uma categoria abaixo do Galaxy S7, ainda não está habilitado para funcionar com o Samsung Pay no Brasil.

Outro ponto que me incomodou foi o carregamento de bateria. Ainda que a autonomia seja decente, é decepcionante acompanhar a lentidão de quase duas horas para encher os 380 mAh do Gear S3 Frontier. Quando uma bateria de smartphone com capacidade dez vezes maior leva quase o mesmo tempo para ser carregada, mesmo pelo carregador sem fio, algo está errado.

Vale a pena?

Talvez eu mude essa pergunta nos próximos reviews de smartwatches porque, sendo franco, nenhum smartwatch “vale a pena”. Por um bom tempo (e talvez para sempre), relógios inteligentes serão gadgets supérfluos, devido ao custo altíssimo da miniaturização dos componentes e às limitações intrínsecas da tecnologia, que os tornam pouco úteis e muito caros para quase todo mundo.

Mas o melhor smartwatch compatível com Android que já testei até o momento, ironicamente, não roda Android Wear. A Samsung conseguiu fazer um belíssimo trabalho no Gear S3, tanto no hardware quanto no software.

O design do Gear S3 é o mais bonito entre os relógios lançados em 2016, atendendo bem o mercado de luxo, o que é muito bom estrategicamente. Quem gastaria alguns milhares de reais num relógio tradicional certamente pode levar um elegante relógio inteligente por R$ 2.199, ainda que os mais puristas jamais deixem de lado seus movimentos mecânicos sofisticados.

Outro público bem atendido são os praticantes de exercícios físicos, ainda que comprar um Gear S3 para isso seja matar uma mosca com um canhão — há opções bem mais acessíveis, como o Gear Fit 2, que também conta com sensor de batimentos cardíacos e GPS. Correr com o smartphone no bolso é incômodo, e a sensação de poder ouvir suas músicas e acompanhar seu ritmo por um fone de ouvido conectado ao relógio por Bluetooth é muito boa.

Para quem procura um relógio elegante e bem construído, que por algum acaso ou obra do destino também se conecta ao smartphone, o Gear S3 é a melhor opção disponível atualmente no mercado.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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