Gear IconX: os fones de ouvido com tudo integrado

Fone de ouvido Bluetooth da Samsung tem áudio satisfatório, sensor de batimentos cardíacos e preço alto

Paulo Higa
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• Atualizado há 10 meses

A Samsung parece bastante interessada no mercado de wearables. Depois dos smartwatches e pulseiras fitness, a empresa lançou o Gear IconX, um fone de ouvido wireless que faz mais do que apenas tocar música: com sensor de batimentos cardíacos, ele pode dispensar o seu smartphone nas suas corridas matinais.

Mas como o Gear IconX funciona? A qualidade de som é boa? A bateria dura bem? E o monitoramento de exercícios? Vale a pena gastar os 1.399 reais que a Samsung está cobrando? Eu conto os detalhes neste breve review.

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O Gear IconX causou sensações positivas nas duas pessoas a quem apresentei o produto, por um bom motivo: ele é extremamente simples de usar e tudo funciona praticamente sozinho. Não há botões para ligar os fones de ouvido: basta colocá-los na orelha e eles começarão a tocar música automaticamente. A bateria acabou? Largue-os no estojo (que possui uma bateria interna) e eles serão recarregados.

Os controles sensíveis ao toque, presentes nos dois lados, têm resposta imediata e adotam gestos conhecidos: basta tocar uma vez para pausar/reproduzir, duas para avançar de faixa e três para retroceder, assim como no botão multiuso dos fones de ouvido com fio. Há dois gestos novos: deslizar para cima ou para baixo para controlar o volume, e tocar e segurar para ativar modos específicos (treino e som ambiente).

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O modo treino é bom para se livrar do smartphone (ou qualquer outro dispositivo) durante uma corrida ou caminhada — seja porque os gadgets podem ser uma fonte de distração, seja porque nem sempre eles são práticos de levar (especialmente os smartphones com telas gigantes). O Gear IconX funciona de maneira independente do celular e pode reproduzir as músicas que estão salvas na memória interna de 4 GB.

Depois de ativar o modo treino, o Gear IconX faz uma contagem preparatória e começa a registrar seu trajeto, inclusive medindo constantemente os batimentos cardíacos. Quando terminar o exercício, basta sincronizar os fones de ouvido com o seu smartphone para ter acesso a gráficos bacanas que ajudam a entender melhor seus exercícios.

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Já o recurso de som ambiente capta o ruído externo pelo microfone e o retransmite pelo fone de ouvido. Ele pode funcionar para quem tem medo de ser atropelado ou atingido por uma escada no meio da rua: o isolamento de ruído passivo, justamente pelo fato de que o Gear IconX precisa ficar bem preso nos ouvidos, é muito bom. Não tanto quanto o meu xodó (um Etymotic hf5), mas melhor que a maioria dos fones intrauriculares do mercado.

Por fim, a integração do Gear IconX por software se mostrou boa. Você pode configurar para que notificações de determinados aplicativos sejam lidas em voz alta, fazendo o acessório funcionar como um smartwatch de ouvido (?). Isso já era possível em outros fones da linha Gear; é bom porque evita de sacar o smartphone do bolso só para ver quem mandou mensagem, por exemplo. No entanto, se você deixar todos os aplicativos enviarem notificações para o Gear IconX, vai ser bem chato ter sua música interrompida a todo momento.

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O Gear IconX é um pouco diferente dos fones tradicionais, mesmo os com Bluetooth, porque não existe nada ligando um lado a outro. Nenhum fio, nenhuma haste. Por isso, cada lado precisa ter sua própria bateria. Isso gera um inconveniente: às vezes, a bateria de um lado acaba antes do outro (!). No caso mais estranho, o fone esquerdo ainda tinha 10% de bateria, enquanto o direito desligou por falta de carga. E eu nem estava ouvindo Beatles em estéreo.

Mas o maior problema é que a autonomia do Gear IconX é frustrante. Eu não poderia esperar muito de apenas 47 mAh por lado, mas me decepcionei bastante com o fato de precisar de apenas 1h40min para esgotar a bateria. É muito pouco; regularmente gasto mais tempo que isso em deslocamentos. Isso limita bastante a utilidade do produto. Quer ouvir música durante um voo? No trabalho? Ouvir um podcast mais longo? Não rola: tem que ficar recarregando no meio do dia. E ninguém quer fazer isso.

Uma forma de aumentar a duração de bateria é utilizando o Gear IconX separado do smartphone, com as músicas armazenadas no próprio fone — nesse caso, a autonomia consegue ultrapassar 3 horas, o que já é uma marca decente. Entretanto, passar músicas para o armazenamento interno é um parto. Existem duas formas: pelo computador, por meio de um software proprietário da Samsung (e que só funciona no Windows) ou pelo smartphone.

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Mas não basta passar as músicas do smartphone para o Gear IconX por Bluetooth: você precisa colocar os fones no estojo e conectar um cabo USB entre o estojo e o smartphone, com a ajuda de um adaptador USB OTG incluso na caixa. É difícil entender por que não é possível simplesmente transferir arquivos por Bluetooth, algo que os relógios com Android Wear já possuem há anos.

Outra limitação está no ecossistema fechado do Gear IconX. É bacana ter um fone de ouvido tão tecnológico que consiga rastrear o trajeto da minha corrida, gerar um gráfico de batimentos cardíacos e enviar tudo para a nuvem, só que tudo isso fica preso no S Health, aplicativo de saúde da Samsung. Eu gosto do RunKeeper, há quem prefira o Endomondo, tem os simpatizantes do Nike+, mas… seus dados não serão enviados para nenhum serviço de terceiro, o que tira um pouco da graça do negócio.

E, não sendo um audiófilo, eu não tenho comentários muito detalhados a fazer sobre a qualidade de som — dá para dizer que ela é satisfatória para uma pessoa comum, como eu, o que é preocupante para um fone de 1.399 reais. Com graves tímidos e uma definição apenas ok, a impressão é que, desse preço, 100 reais são pela qualidade de som e 1.299 reais são pelo hardware, bateria, sensores e todo o resto do fone. Não é, definitivamente, um fone que vai impressionar pela qualidade sonora.

Vale a pena?

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Não.

O Gear IconX é um daqueles produtos que parecem ter sido lançados antes de seu tempo. A ideia da Samsung parece boa, mas as limitações tecnológicas tornaram o produto muito restrito: a duração de bateria fica muito aquém do desejável, o esquema de transferência de músicas é complexo e, obviamente, ele é muito caro sob qualquer parâmetro de comparação.

O fone de ouvido wireless da Samsung é um dos gadgets mais legais que testei no último ano, mas também um dos gadgets que eu menos recomendo a compra. Ele não consegue se apresentar como o produto ideal para nenhum público — se você quer aposentar seus fones com fio, talvez seja melhor procurar outro modelo, com som e bateria melhores; se você pratica corrida, um smartwatch pode ser uma opção mais interessante, exibindo todos os dados que você precisa diretamente no seu pulso.

Quem sabe no Gear IconX 2?

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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