Moto Z: modular, com alguns comprometimentos

Smartphone da Lenovo troca ergonomia e capacidade de bateria pelo suporte aos módulos

Paulo Higa
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• Atualizado há 11 meses

O primeiro smartphone modular da Lenovo chegou ao Brasil. Com hardware de ponta, o Moto Z traz um design extremamente fino, bastante poder de processamento, 64 GB de armazenamento e suporte aos Moto Snaps, os módulos que se encaixam ao corpo do aparelho e adicionam novas funcionalidades.

Por 3.199 reais, o kit padrão do Moto Z já entrega uma traseira de couro ou madeira e até uma bateria externa de 2.220 mAh, para iniciar o usuário no mundo dos módulos. Mas será que o smartphone é bom? Como o corpo fino se comporta no dia a dia? A bateria consegue se virar sem o acessório? E a câmera, valeu essa protuberância enorme na traseira? Eu conto tudo nos próximos parágrafos.

Review em vídeo

Design

O design do Moto Z chama a atenção por ser extremamente fino. Enquanto um iPhone 7 tem 7,1 mm de espessura e um Galaxy S7 tem 7,9 mm de espessura (e eles já são muito finos), o smartphone da Lenovo possui apenas 5,2 mm. Isso acabou gerando um calombo bastante pronunciado na região da câmera traseira e também a remoção do conector de fones de ouvido de 3,5 mm — que talvez não coubesse no minúsculo espaço.

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No caso do Moto Z, acho que a espessura absurdamente fina vai além do marketing: ela foi uma condição para que o produto existisse. Como o Moto Z foi projetado para receber os módulos Moto Snaps, se o aparelho tivesse uma espessura “normal”, ele ficaria grosso demais com qualquer módulo, então faz sentido que o corpo seja bem compacto. Eu não me surpreenderia se o próximo Moto Z (que suportará os mesmos módulos, como promete a Lenovo) viesse ainda mais fino.

A Lenovo manda um kit padrão bastante atraente com o Moto Z, o que barra algumas críticas ao aparelho. O calombo na região da câmera, bem como a traseira metálica que adora impressões digitais, por exemplo, são facilmente deixados de lado com as Style Shells, capinhas traseiras de diversas cores e materiais, como manda o figurino da marca — tem couro, madeira e até nylon balístico.

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O modelo branco com dourado traz uma capinha de madeira, enquanto o preto vem com traseira de couro dentro da caixa. A bateria de apenas 2.600 mAh com autonomia mediana (falarei sobre ela adiante) recebe uma ajuda do módulo de bateria externa, também incluso no kit padrão. E se você é desastrado, tem até um bumper de plástico, que protege as laterais do Moto Z contra quedas.

O modelo que testei, com frente branca e traseira dourada, não me agradou muito. Os sensores de presença, do lado do leitor de impressões digitais, ficam bem visíveis e são meio tortos, com um alinhamento meio desagradável. Eles parecem botões, mas não são botões. E também contribuem para a base gigante do Moto Z, que prejudica bastante a ergonomia: às vezes é meio complicado alcançar todo o teclado, porque o Moto Z traz uma base enorme e uma barra de botões virtuais do Android.

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O leitor de impressões é bem eficiente e, assim como no Moto G4 Plus, não é pressionável. Mas ele reconhece a presença do seu dedo, portanto, basta encostá-lo ali para que a tela já ligue desbloqueada. Quando o Moto Z estiver ligado, coloque um dedo sobre o leitor de impressões digitais para bloqueá-lo novamente. Na prática, funciona como um “botão liga/desliga”.

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Para deixar o aparelho fino, a Lenovo tirou o conector de fones de ouvido e mandou um adaptador para USB-C na caixa. Eu achei bizarro o fato de que, num smartphone sem entrada P2, a empresa manda como acessório um fone… P2: você precisa ligar o adaptador para utilizar os fones originais (!). Acredito que a remoção do conector analógico seja uma tendência para os próximos anos, mas, enquanto isso, muita gente esquecida vai ficar sem ouvir música porque não levou o adaptador naquele dia. Inclusive eu.

Tela

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A Lenovo voltou a utilizar painel AMOLED. Deu certo. Tem gente que gostava das telas do primeiro e do segundo Moto X, mas eu achava elas muito estouradas; certos tons de cores ficavam gritando nos olhos devido à saturação exagerada de fábrica. A tela do Moto Z é mais equilibrada, lembrando mais o LCD do Moto X Style.

No Moto Z, são 2560×1440 pixels espalhados em 5,5 polegadas. O painel tem brilho satisfatório, que não deve gerar problemas com a luz do sol. Além disso, o contraste é infinito, com preto de verdade, e o ângulo de visão não decepciona.

No modo normal de cor, que é o Intensidade, as cores ficam vivas e são mais frias, gerando tons de cinza meio azulados. Normalmente as pessoas gostam de cores mais frias; se você não é uma delas, basta trocar para o modo de cor Normal, que exibe cores mais realistas. Nem sempre o realista é melhor (fones de ouvido “realistas” não têm muita graça para mim), então é bom ver que existem as duas opções.

Software

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O Android 6.0.1 Marshmallow do Moto Z é aquele que já estamos familiarizados na linha Moto. Ele praticamente não traz modificações na interface e também não possui aplicativos inúteis pré-instalados.

Os diferenciais de software do Moto Z ficam concentrados no aplicativo Moto. Ele suporta alguns gestos úteis: agite duas vezes para ligar a lanterna; deslize a partir da parte inferior para reduzir o tamanho da tela; ou gire o aparelho para abrir o aplicativo de câmera. Certas funções comuns em concorrentes, como a possibilidade de manter a tela ligada enquanto você estiver olhando para o aparelho, também estão disponíveis no Moto Z.

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O Moto também reúne outras duas funções: o Moto Voz e o Moto Tela. Com o Moto Voz, o Moto Z te escuta mesmo enquanto estiver em standby: basta dar o seu comando de voz personalizado (como “Ok Moto Z”) e a tela ligará. Já o Moto Tela mostra prévias de notificações com o aparelho bloqueado e permite que você interaja com elas. São recursos que surgiram com o primeiro Moto X, foram aprimorados com o tempo e continuam muito bacanas.

Eu fiquei um pouco decepcionado com o fato da Lenovo não se comprometer mais com atualizações de segurança mensais do Android. Esses patches não alteram a versão do Android, mas corrigem falhas de segurança graves (e ultimamente isso tem sido mais importante do que nunca). O primeiro sinal da nova política já apareceu durante os meus testes: enquanto o Galaxy S7 Edge está com o patch de agosto, o Moto Z ainda está com o patch de julho. Outros smartphones da linha Moto também deixaram de receber atualizações com a mesma frequência. Bola fora da Lenovo.

Câmera

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Com relação à câmera, a Lenovo fez um bom trabalho no Moto Z. Não é a melhor, mas certamente é uma das melhores câmeras de smartphone que você vai encontrar no mercado.

As fotos de 13 megapixels têm boa definição mesmo em condições de baixa iluminação, e o sensor recebe uma pequena ajuda da lente com abertura f/1,8, bem generosa. Em fotos noturnas, o ruído é mais alto que a média, especialmente próximo a focos de luz — entretanto, isso parece mais uma questão de equilíbrio no pós-processamento, já que o nível de detalhes é muito bom.

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Para uma câmera de smartphone, o alcance dinâmico também é satisfatório; você não vai ter problemas em cenas de grande contraste. Com boa iluminação, as cores agradam, a definição é boa e as imagens têm algum ruído, mas nada além do normal.

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Já a câmera frontal de 5 megapixels é “padrão”, e faz o que esperamos de um smartphone topo de linha, com boas cores nas selfies e nível de detalhes satisfatório. Um ponto bacana é que a Lenovo colocou um flash LED na câmera frontal, assim como no Moto X Style, o que pode ajudar bastante se você estiver em ambientes mais escuros.

Há câmeras melhores que a do Moto Z, especialmente considerando a faixa de preço altíssima, mas as fotos não devem decepcionar a maioria dos usuários.

Hardware e bateria

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O Moto Z tem tudo o que você precisa: Snapdragon 820 (de 1,8 GHz), 4 GB de RAM e 64 GB de armazenamento. Se o espaço não for suficiente, há como colocar um microSD. Infelizmente, a bandeja tem o incômodo design compartilhado: ou você coloca um chip e um microSD, ou coloca dois chips e nenhum microSD. É algo que está virando padrão em todos os topos de linha com suporte a dois chips; não tem muito como fugir disso.

Não tenho muito o que falar do desempenho do Moto Z. Ele roda basicamente qualquer coisa, com fluidez. Tudo abre rapidamente, os jogos têm gráficos bons e rodam com boa taxa de frames. Você não deve sofrer com problemas de lentidão por um bom tempo.

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Mas a bateria decepcionou um pouco. Ou melhor, ela ficou totalmente dentro das minhas expectativas, o que é… ruim. A capacidade de 2.600 mAh permitiu que eu sempre chegasse em casa com algo entre 15% e 25% de bateria, após 2 horas de streaming de música no 4G e aproximadamente 1h30min de navegação, também pela rede móvel, com brilho no automático e 14 horas de uso (das 9h às 23h). É uma autonomia apenas “ok”, e vários usuários vão precisar recarregar a bateria antes do final do dia.

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Um lado positivo é que a Lenovo manda um módulo de bateria de 2.220 mAh, que permite ao smartphone chegar até a metade do dia seguinte com um pé nas costas. No entanto, o Moto Z acaba ficando bem grosso com o módulo. O aparelho já não é muito ergonômico sem a bateria; com a bateria, a utilização fica bem ruim. Ele acaba conquistando pela praticidade: basta encostá-lo na traseira e o Moto Z já começa a carregar, sem necessidade de manter cabinhos de baterias externas pendurados.

Conclusão

Sim, o Moto Z é um smartphone caro. Mas até que o preço me agradou, especialmente com o kit padrão, que já traz bateria externa de 2.220 mAh. Esse é talvez o único módulo que eu realmente compraria, se não viesse na caixa do aparelho.

Os concorrentes principais são o iPhone 7, o Galaxy S7 e o Galaxy Note 7. Falando especificamente de Android, considerando que o Galaxy S7 esteja no mesmo preço do Moto Z (o que é uma realidade no momento em que escrevo este parágrafo), minha escolha é o topo de linha da Samsung. Já comentei em outras ocasiões que, atualmente, eu não trocaria uma bateria melhor e uma câmera melhor pelo Android puro. Mas, para quem ainda tem aversão às modificações de fabricantes, o Moto Z pode ser uma opção.

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O Moto Z é um bom aparelho, apesar de algumas movimentações que não me agradaram. A preocupação com a ergonomia, bastante notável nos primeiros Moto X e Moto G, parece estar ficando de lado para seguir a mesmice do mercado de smartphones, com aparelhos cada vez mais finos e baterias medíocres. Em questão de ergonomia, o Moto Z perde muito com a base inferior que, além de visualmente desagradável, atrapalha na hora de digitar — ela é maior que a do iPhone 6s, que está longe de ser um bom exemplo de aproveitamento de espaço.

Os módulos do Moto Z, que comentarei num review separado (perguntem o que vocês querem saber!), parecem uma boa ideia para suprir nichos de mercado, mas ainda não mostraram a que vieram. Os alto-falantes, por exemplo, até emitem boa qualidade de áudio, mas deixam o aparelho bem grosso. O projetor é caro demais e não faz nada que outros mini-projetores já não tenham feito. Na prática, a Lenovo está apenas vendendo a praticidade de encostar os módulos e eles funcionarem, sem nenhuma configuração complicada. Em termos de funcionalidade, não há nada muito inovador.

De qualquer forma, o Moto Z é um aparelho que oferece excelente desempenho, boa câmera e ótima tela. Por enquanto, ele não fez nenhuma revolução no mercado de smartphones, mas pode ser um belo primeiro passo para as próximas gerações. O futuro vai depender da criatividade das fabricantes de módulos.

Especificações técnicas

  • Bateria: 2.600 mAh;
  • Câmera: 13 megapixels (traseira) e 5 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, Bluetooth 4.1, USB-C, NFC;
  • Dimensões: 153,3 x 75,3 x 5,2 mm;
  • GPU: Adreno 530;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 2 TB;
  • Memória interna: 64 GB;
  • Memória RAM: 4 GB;
  • Peso: 136 gramas;
  • Plataforma: Android 6.0.1 (Marshmallow);
  • Processador: quad-core Snapdragon 820 de 1,8 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, bússola, giroscópio, impressões digitais;
  • Tela: AMOLED de 5,5 polegadas com resolução de 2560×1440 pixels.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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