Stephen Elop fala sobre compra da Nokia, Microsoft Mobile, Android, apps favoritos e pizza

Ex-CEO da Nokia negou, mais uma vez, ter sido um cavalo de troia

Paulo Higa
• Atualizado há 8 meses

O antigo CEO da Nokia e atual vice-presidente executivo de dispositivos da Microsoft, Stephen Elop, participou de uma sessão de perguntas e respostas com os usuários na manhã desta segunda-feira (28), três dias após a conclusão da aquisição da fabricante de celulares finlandesa pela Microsoft. Elop comentou sobre a continuidade da marca Nokia, deu satisfação aos fãs do falecido Symbian e negou que tenha sido um “cavalo de troia”.

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Microsoft Mobile e nova marca

Os mais atentos perceberam que o site da Nokia, inclusive no Brasil, no rodapé da página, passou a mostrar o nome Microsoft Mobile. Este nome, no entanto, foi criado apenas para fins legais. “Não é uma marca que será vista pelos consumidores. A marca Nokia está disponível para ser usada pela Microsoft em seus celulares durante um período de tempo, mas a Nokia como marca não será usada por muito tempo para smartphones”, diz Elop.

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A Microsoft fechou um acordo para usar a marca Nokia nos celulares simples durante 10 anos, algo importante quando vemos a força da Nokia nos países menos desenvolvidos (o que inclui o Brasil). O próprio Elop admite: “Nokia e Microsoft são empresas globais, mas acontece que as nossas forças são complementares. Nós temos uma grande força nos mercados emergentes, enquanto a Microsoft tem mais força nos mercados desenvolvidos.”

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E qual será a marca usada pela Microsoft nos novos smartphones? O executivo apenas se limitou a dizer que a empresa está trabalhando para criar uma nova marca, sem informar quando começaremos a ver Lumias sem a marca da Nokia. Bem humorado, Elop só garantiu que não teremos um aparelho com nome ridiculamente longo, como a Microsoft costuma fazer. Nada de “Nokia Lumia 1020 with Windows Phone on the AT&T LTE Network”.

Nokia X, Android e Microsoft

Alguns podem achar estranho uma empresa da Microsoft continuar vendendo smartphones com Android, como será o caso da linha Nokia X. Mas Elop deixa mais claro o que nós sabíamos: a ideia não é fortalecer o Android, mas o ecossistema da Microsoft. Além de destacar que o Nokia X usa a nuvem da Microsoft, não do Google, ele garante que a empresa tem percebido “dezenas de milhares” de novos assinantes nos serviços do pessoal de Redmond.

Brincamos com o Nokia X em Barcelona, na Mobile World Congress
Brincamos com o Nokia X em Barcelona, na Mobile World Congress

Um Lumia com Android pode parecer um sonho de consumo para muitas pessoas: teríamos um smartphone com excelente qualidade de construção somado a um sistema operacional já estabelecido, com um ecossistema mais desenvolvido. Pelas declarações de Elop, a Nokia até pensou em adotar o Android, mas preferiu focar no Windows Phone porque, mesmo em 2011, a Samsung já estava estabelecida no mercado — talvez a Nokia não tivesse tanta chance assim.

Os dados da Localytics reforçam isso: no Android, nenhuma empresa além da Samsung tem participação de mercado relevante. A sul-coreana responde por nada menos que 65% das vendas de aparelhos com Android. Em segundo lugar, a LG amarga uma fatia de apenas 7%, seguida por HTC (6%), Sony (5%) e Motorola (4%) — e olha que essa última vem produzindo ótimos smartphones. Elop diz que a empresa está usando o AOSP (Android Open Source Project) no Nokia X de forma a beneficiar a Microsoft e a linha Lumia, e continuará fazendo isso.

Cavalo de troia

A trajetória de Elop na Nokia foi um pouco estranha. Vamos relembrar? Em setembro de 2010, ele saiu da Microsoft e assumiu o cargo de CEO, sendo o primeiro não finlandês a comandar a Nokia em 145 anos de existência. Pouquíssimo tempo depois, em fevereiro de 2011, a Nokia fechou uma parceria com a Microsoft para, entre outras coisas, adotar o Windows Phone em seus smartphones.

Pouco tempo após a entrada de Stephen Elop, a Nokia fechou uma grande parceria com a Microsoft
Pouco tempo após a entrada de Stephen Elop, a Nokia fechou uma grande parceria com a Microsoft

Como o Android já era o número um no mercado mundial de sistemas operacionais móveis, parecia uma escolha óbvia partir para o robô verde — aliás, foi o que praticamente todas as concorrentes da Nokia fizeram. Elop foi acusado de aceitar o Windows Phone só porque ainda mantinha lealdade com a Microsoft. Os números divulgados posteriormente não ajudaram o executivo: quase dois anos depois, a Nokia perdeu a liderança do mercado de celulares, que mantinha há 14 anos.

O resto você lembra: os rumores de uma possível venda foram crescendo e, no final, a divisão de dispositivos e serviços da Nokia foi vendida para a Microsoft por US$ 7,2 bilhões, um valor que parecia baixo para uma empresa com tanta tradição — ainda mais quando vemos compras bem maiores, como a da Motorola pelo Google (US$ 12,5 bilhões, em 2011) e do WhatsApp pelo Facebook (US$ 16 bilhões, em fevereiro).

Elop negou mais uma vez que tenha sido um “cavalo de troia” enviado à Nokia pela Microsoft. “Só trabalhei em nome e para o benefício dos acionistas da Nokia enquanto estive na Nokia. Além disso, todas as decisões fundamentais de negócios e estratégia foram feitas com o apoio e a aprovação do conselho de diretores da Nokia, do qual eu era membro”, disse.

Um pouco sobre o futuro e as tristezas do passado

Por serem empresas de capital aberto, Nokia e Microsoft não podem comentar detalhadamente sobre o que planejam para o futuro, mas Elop deu algumas dicas sobre o que veremos por aí.

Primeiro: a Microsoft, que tem um design mais sério e conservador, deve adotar o espírito colorido da Nokia. Particularmente, eu duvido que chegaremos ao ponto de ter um Xbox amarelo e um Surface verde-limão, mas o primeiro comercial da Nokia como empresa da Microsoft destaca justamente as cores. Roda o vídeo, produção:

Segundo: a Nokia continuará apostando em qualidade de câmera como diferencial. Nós testamos o Lumia 1020, com câmera PureView de 41 megapixels, e as fotos realmente são impressionantes.

Terceiro: a compra da Nokia não significa uma mudança de rumo no Windows Phone; a Microsoft continuará incentivando outros fabricantes a produzirem smartphones com o sistema.

Para quem ainda sente falta do Symbian, uma resposta de Elop: “Eu sei que há muita emoção em torno de algumas decisões difíceis que tivemos de fazer. No final de 2010 e 2011, avaliamos cuidadosamente o estado dos esforços internos da Nokia em sistemas operacionais. Infelizmente, não conseguimos enxergar uma maneira de o Symbian conseguir se tornar competitivo, por exemplo, com o iPhone, que foi lançado três anos antes! […] Tivemos de tomar uma decisão enérgica para dar a Nokia a oportunidade de competir novamente.”

Nokia 808 PureView: o último com Symbian
Nokia 808 PureView: o último com Symbian

Duas curiosidades

Nem todo mundo sabe, mas Elop também é piloto de avião nas horas vagas. Um de seus aplicativos preferidos para Windows Phone é a ferramenta de aviação ATIS, que mostra informações meteorológicas de aeroportos. Como uma pessoa que viaja muito, ele também gosta do Uber, um serviço de motorista particular.

E para quem quiser saber, Elop gosta de pizza com cogumelos, tomate, pimentão e prosciutto, uma espécie de presunto envelhecido e temperado, com uma tonalidade mais rosada.

Todas as perguntas respondidas por Elop estão na íntegra no Conversations, em inglês.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.