Viagem ao tempo do double-deck
Minha sala de estar tem uma daquelas enormes estantes com rack que, além de abrigar TV, som, DVD player, etc, tem aqueles espaços para guardar coleção de CDs e DVDs. Esses espaços já estavam lotados faz tempo, mas não é por isso que os deixei de usar. É que comprar CD e DVD tem se tornado coisa cada vez mais rara, salvo um ou outro box de seriado ou sequências de filmes – a maioria, ganhos de presente.
Mas olhar aquele amontoado de coisas estava me incomodando mais a cada dia. Além de juntar poeira, já que eles nunca saíam dos seus nichos, estavam interferindo na decoração da sala. Por mais arrumadinhos que estivessem, iam contra meu senso de “clean”. Um belo dia, numa tarde de domingo, tirei tudo de lá (com direito a máscara, por causa da asma) e no lugar coloquei uns poucos objetos de decoração, porta-retratos, etc. Numa casa onde não há tapetes nem cortinas (apenas persianas), tive a sensação que desalojei de vez os últimos ácaros que coabitavam meu lar.
Olhei o aparelho de som. Ele tem uns 20 anos de uso, mas continua em excelentes condições. Na época em que foi comprado, era um arroubo de ousadia não vir com toca-discos. No lugar, ele orgulhosamente trazia uma enorme gaveta com capacidade para 5 CDs, para ouvir “horas de música ininterrupta sem repetição”. O supra-sumo da modernidade! Intimamente, dei risada. Estava com medo de apertar o botão do carrossel de CDs e uma aranha pular de lá de dentro. Hoje, praticamente só uso a saída auxiliar, devidamente ligada no computador-mediacenter.
Enchi um armário com os DVDs e CDs. Achei algumas coisas que nem lembrava mais que tinha. Filmes velhíssimos da Bette Davis e um do Rodolfo Valentino. (alguém conhece?) Discos do Legião Urbana. Trabalhos audiovisuais da época da faculdade de rádio e TV. Edição de colecionador de “Cantando na Chuva”, com pôster e tudo – presente do marido ainda quando nos conhecíamos. Uma coletânea “10 anos (!) sem Vinícius de Moraes”. DVDs de Cidadão Kane, O Iluminado e Um Estranho no Ninho, que já separei para rever na primeira oportunidade. Um CD do Netinho. (desculpem… é que ô-milaaaaaaa era música tema da minha turma nos tempos da faculdade de odonto).
Aquela faxina se transformou numa viagem no tempo. Boa parte do que eu mais ouvia em MP3 hoje eram coisas que já havia ripado desses CDs há muito tempo. Conversei com o marido, que já pretendia comprar um Time Capsule de 2 TB. Ele também tem uma biblioteca de mídia ótica respeitável. Agora reforçamos os planos e já o colocamos no orçamento para daqui uns meses. Aos poucos, converteremos tudo para digital e, excetuando-se as peças de valor sentimental (tipo o CD do Netinho 🙂 ), vamos nos desfazer de tudo. Talvez doando para alguma instituição ou biblioteca pública…
A idéia do Time Capsule é ter um super-roteador com armazenamento de sobra e, a partir de qualquer computador da casa, acessar todo o conteúdo que estiver lá. Além de servir de backup para nossas máquinas. Mas, muito mais do que isso, poderemos também viajar e acessar nossas coisas de qualquer lugar, via MobileMe.
Olho para o aparelho de som ligado ao mediacenter na sala e reflito o quanto as coisas mudaram em tão pouco tempo. Como tudo ficou mais fácil, instantâneo e também – por que não – descartável. Há 20 anos consumíamos bem menos mídia que hoje, mas selecionávamos melhor.
Atualmente, na minha sala, a única reminiscência visível do passado é o duplo-deck de fitas cassete do aparelho de som. Até isso se transformou num paradigma: esses tudo-em-um vendiam horrores, todo mundo copiava vinis ou duplicava fitas cassete, mas nenhuma gravadora reclamava disso, lembram?
É. Como o mundo mudou…