A gente quer o Orkut de volta? Sim, mas pelos motivos errados

O qUe DiZeR dEsSa ReDe SoCiAl qUe Eu jÁ cOnSiDeReI pAcAs?!

Ana Marques
Por
• Atualizado há 11 meses
A volta do Orkut (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)
A volta do Orkut (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Há pouco mais de uma década, o Orkut perdia o topo para o Facebook — e todos nós sabemos exatamente onde isso foi parar nos anos seguintes. Mas agora, uma nova esperança surge no horizonte: o criador da rede social mais amada pelos brasileiros no início dos anos 2000 atualizou o Orkut.com e prometeu o retorno da plataforma.

*OmG!!1ONZE Finalmente, nature is healing *-* , tudo o que faltava… certo? CERTO?

Bom, talvez não seja bem assim.

O Orkut já “voltou” antes, lembra?

Na verdade, foi um clone, lançado em 2017 por um fã da rede social. O site — que não tem vínculo nenhum com o Orkut original — mantém a interface em tons de azul, com um layout semelhante. E praticamente todas as características que amávamos estão lá: scraps, depoimentos, comunidades. Falta, é claro, o essencial: a gente.

Isso porque mesmo após o lançamento de um app para Android, o clone do Orkut não vingou. E sem uma base de usuários ativa relevante, rede nenhuma vai à frente.

O próprio criador do Orkut tentou emplacar uma nova rede social em 2016, a Hello, com uma cara mais moderna, uma mistura de Instagram com Pinterest. Eu nem preciso dizer que ela também não funcionou, né?

Talvez seja mais fácil depositar esperanças em uma máquina do tempo…

Ampulheta (Imagem: Daniele Franchi/Unsplash)

O ritmo dos anos 2000 não vai voltar com o Orkut

Sim, a vida era mais simples antes. Se você tem aproximadamente a minha idade, há uma explicação fácil: a gente nem era adulto ainda! Mas até mesmo para quem já era crescidinho naquela época, as coisas eram um pouco menos corridas, menos imediatas.

Estar online era um evento. Você não vivia conectado.

“Ei, vai entrar na internet hoje?” — lembra disso?

Por que tudo mudou? Há um conjunto de razões, é claro. Mas eu posso pegar um atalho com uma só palavra: smartphones.

Você pode fazer o teste: fique sem o seu celular por um tempo. Tente fazer todas as tarefas online apenas pelo computador por alguns dias. Mas não vale levar o notebook para a mesa do bar com os amigos, ok?

Ok?

Não.

Não faça isso.

Mantenha seu smartphone, ative os lembretes em sua agenda, use o app de meditação, leia as notícias importantes em tempo real, faça um Pix para pagar a conta do mercado, tire fotos incríveis e envie para seu amigo que está no Canadá no mesmo momento.

Aproveite a tecnologia que você tem hoje.

A sociedade mudou, e existem duas maneiras de encarar isso: numa boa, ou numa bad.

Até o finado orkut teria sido criado com base nessa teoria
Até o finado orkut teria sido criado com base nessa teoria (Imagem: Reprodução)

Não me entenda mal, eu também curto a nostalgia. Mas é preciso entender que não dá pra viver só de lembranças. Seria como estar preso para sempre em um show de Sandy & Jr — legal no início, cansativo depois de algumas repetições.

Há alguns dias, eu li que “a nostalgia é uma terceira via traiçoeira”. Faz sentido, se você parar para refletir — se apegar demais ao passado nos impede de ter novas experiências, que podem ser igualmente boas ou até melhores do que as de antes. Então, vamos, pense comigo:

É do Orkut que eu sinto falta? Ou sinto falta de como eu me sentia naquela época?

Terapias à parte, talvez você realmente sinta falta dos dois. Mas vamos pensar por outro ângulo…

E se o Orkut fosse invadido por fake news e anúncios?

Suponhamos que o Orkut volte mesmo. E que todo mundo decida migrar para lá (que plot twist seria, hein, Zuck?).

Como você acha que a plataforma evitaria os problemas que temos hoje? Teria espaço para anúncios? E publi de influenciadores?

Além dos problemas que conhecemos, há toda uma nova economia envolvendo criadores, marcas e usuários que teria que ser adaptada — e não extinta.

Se o Orkut voltasse, ele teria que se adaptar para ser popular.

Talvez o TikTok pudesse até dar algumas aulas de como bater de frente com gigantes. Talvez os erros do Facebook servissem como uma forma de guia do que não fazer. Quem sabe?

Se o Orkut voltasse e se tornasse popular, seria nosso papel cobrar medidas efetivas de moderação de conteúdo para evitar ainda mais problemas. Já pensou em uma rede de bots disparando fake news por depoimento? Comunidades cheias de contas falsas para espalhar a sensação de apoio a uma causa específica (e possivelmente mais delicada do que odiar acordar cedo)?

A volta do Orkut hoje pode significar o fim da mágica.

E é da mágica, das lembranças intocadas que a nostalgia se alimenta. Sem isso, o Orkut seria apenas a rede superada pelo Facebook na última década.

Então, lá no fundo, será mesmo que a gente quer o Orkut de volta?

Receba mais sobre Orkut na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Ana Marques

Ana Marques

Gerente de Conteúdo

Ana Marques é jornalista e cobre o universo de eletrônicos de consumo desde 2016. Já participou de eventos nacionais e internacionais da indústria de tecnologia a convite de empresas como Samsung, Motorola, LG e Xiaomi. Analisou celulares, tablets, fones de ouvido, notebooks e wearables, entre outros dispositivos. Ana entrou no Tecnoblog em 2020, como repórter, foi editora-assistente de Notícias e, em 2022, passou a integrar o time de estratégia do site, como Gerente de Conteúdo. Escreveu a coluna "Vida Digital" no site da revista Seleções (Reader's Digest). Trabalhou no TechTudo e no hub de conteúdo do Zoom/Buscapé.

Relacionados