Discos de vinil: uma paixão antiga agora por LPs novos
Brasil ainda tem fábricas de discos de vinil em atividade que produzem juntas centenas de milhares de novos LPs e Compactos
Brasil ainda tem fábricas de discos de vinil em atividade que produzem juntas centenas de milhares de novos LPs e Compactos
O bolachão, conhecido apenas como vinil, Long Play ou, ainda, abreviado, para a sigla LP, nasceu na década de 40 e viveu tempos áureos até ser substituído completamente pelo CD em meados dos anos 90. Contudo, erra quem pensa que este é o fim da história. De lá para cá, muita coisa mudou — da fábrica ao disco.
O disco de vinil ou famoso bolachão ainda é celebrado no Brasil, em 20 de abril, “Dia do Disco”. E, mais do que isso, ainda é fabricado no país. Encontrei duas fábricas dentro dos nossos limites fronteiriços e algumas pequenas oficinas.
De acordo com o Vinyl Pressing Plants, que é um site colaborativo, no Brasil, há cinco fabricantes de discos de vinil — duas fábricas no padrão industrial e três oficinas. A título de comparação, nos Estados Unidos, os registros contabilizam 81 locais voltados para o corte e/ou prensagem de LPs. No mundo, passam de 300, segundo a plataforma.
João Augusto, ex-diretor artístico de gravadoras e hoje dono da Deck (ex-Deckdisc) e consultor da Polysom — a maior fábrica de discos em atividade no Brasil — recorda que havia dezenas de unidades fabris espalhadas pelo país. Um número que foi reduzido a zero, quando a própria Polysom, no Rio de Janeiro, fechou as portas no final de 2007.
Órfão da produção dos LPs, João topou reviver a fábrica para atender os artistas da Deck. Segundo o produtor, foram três anos de erros e acertos até ele ficar satisfeito.
“A Polysom foi reativada em 2009, por uma necessidade para os nossos artistas da Deck. Mas, no momento em que pegamos a fábrica, não tínhamos ideia de duas coisas: que o vinil viria a crescer tanto e outra que seria tão difícil fazer vinil”, conta.
A fábrica foi inaugurada em 1999, mas faliu em 2007. Em meados de 2008, João começou os estudos de viabilidade que resultaram na aquisição, que aconteceu oficialmente em 2009. Mas, foi só entre 2011 e 2012 que veio “o vinil de qualidade”, depois de rodar o mundo vendo como funcionavam antigas e novas fábricas de LPs.
“Essa pesquisa toda demandou viagens pelo mundo inteiro, ajudas de várias fábricas e de amigos que fizemos por esse caminho. Basicamente, nós tivemos esse apoio para aprender. Imagina eu, diretor e produtor artístico, tendo que aprender sobre química, mecânica e hidráulica?”, recorda.
Nessas andanças pelo mundo, João conheceu detalhes e processos novos. Um deles é o uso de software para gerenciar a minutagem de cada lado, com foco em aproveitamento, ajustando os sulcos para caber o total mais adequado de minutos.
O programa em questão é o Zuma Disk Mastering Computer. Na Polysom, porém, isso é confiado a quem chama de turma de mágicos: 14 funcionários entre veteranos e jovens.
“Talvez, eu nem gostaria de ter o Zuma. O nosso cortador, William Carvalho, tem uma capacidade intuitiva e um desenvolvimento técnico enorme. Está na mão dele fazer esse julgamento e eu confio demais nele nessa distribuição”, defende.
Sobre máquinas novas, a desconfiança impera. A sensação, segundo João, é de que elas não são resistentes o suficiente. Mais leves — diferente do ferro robusto das máquinas da década de 50 — parecem perecer mais rápido. Quando uma prensa bate, são 100 toneladas sobre a massa do LP. Além disso, confia mais no homem do que na máquina.
“Lá fora a maioria das fábricas são com prensas que chamam de automáticas, não tem operador colocando massa, pegando vinil. Isso é feito automaticamente.
Nós não, nós temos o operador fazendo tudo isso.
O que faz a gente ganhar um pouquinho em qualidade, porque o operador, só olhando, já identifica se tem algum problema no disco ou não”, conta.
Para João, a discussão é supervalorizada. Excetuando produções incomuns da década de 70 — quando durante a Crise do Petróleo, por falta de matéria prima, produziu-se discos com 100 gramas e aspecto mole como papel — hoje, é mais uma questão tátil.
A rigor, é a profundidade e a largura dos sulcos que, quando corretas, garantem qualidade. O que muda o som ou o nível (volume) de uma gravação, é o maior afastamento entre sulcos para permitir modulações maiores, não exatamente ou só sua gramatura. A Polysom, para atender a demanda dos clientes — que por razões diversas optam por LPs com 140 ou 180 gramas — produz e aceita encomendas de ambos.
“Hoje coloca-se o vinil de 180 gramas como se fosse o disco ideal. O ideal para mim é 140 gramas. Gasta menos petróleo e também consome menos energia. As pessoas cismaram com discos de 180 gramas, o que é bobagem. Um disco de 140 gramas quando bem feito é muito equilibrado em todos os sentidos”, explica.
Discos equilibrados, não necessariamente mais leves, acabam beneficiando a produção em escala industrial já que, embora a diferença na prensagem marque segundos, para uma fábrica operando no limite, dá mais agilidade. Com massas mais finas, gasta-se menos material, tornando o disco mais leve e um pouco mais barato, resfriando o PVC mais rápido. Antigamente, somado a isso, a produção era mais veloz porque também era mais descompromissada. Focada em quantidade, não exatamente em qualidade.
Mas, sendo vinil uma experiência visual, auditiva e também tátil, o LP pesado atrai.
A Polysom tem uma série que vende no Brasil e no exterior chamada Clássicos em Vinil. A fábrica licencia obras de gigantes da música brasileira e prensa cópias usando os áudios originais. As tapes de ¼ de polegada, no entanto, da forma que saíram do estúdio, soariam desatualizadas para o ouvido dos fãs que já se acostumaram aos CDs.
Para solucionar a questão, as tapes são remasterizadas, numa transformação do analógico para digital — com uma taxa de conversão muito alta, de 96 quilo-hertz — antes de serem gravadas nos discos. O resultado é ter de novo a chance de comprar a cópia reeditada de Previsão do Tempo (1973) ou Vento Sul (1972), de Marcos Valle.
As capas são reproduções das originais. E, embora os fotolitos já tenham se perdido ou não estejam mais disponíveis, um scanner de alta precisão é responsável por reproduzir da maneira mais fiel possível as impressões dos envelopes nas dimensões de 31×31 cm.
“Esse é talvez um dos trabalhos mais árduos. Porque, na verdade, a gente depende dos colecionadores emprestarem os discos e são discos raríssimos.
Alguns ficavam muito grilados de emprestar, a gente tinha que pegar e devolver na mesma hora, às vezes o cara tinha que ir junto… ele tem como uma relíquia.
É pegar, fotografar e devolver”, detalha.
As histórias são ótimas… Teve gente que desistiu de emprestar em cima da hora, outro cobrou aluguel por uma cessão temporária. Coração de colecionador é muito sensível.
“Mas, grave mesmo foi que, uma vez, nós pegamos um que extraviou no caminho. Até hoje não sabemos onde foi parar. Não era um disco muito raro, era um disco do Tony Bizarro. O disco era do [Rodrigo] Gorky, produtor da Pabllo Vittar.
Ele é um querido. Até hoje a gente pede desculpas por perder o disco”, lembra.
Fui atrás do Gorky e ele confirmou a história! O álbum era o “Nesse Inverno” (1977). O produtor conseguiu outro LP, mas não com a capa perfeitinha como estava. O exemplar era parte da coleção de um jornalista, que pouco o manuseava. Na época, a CBS usava um papel fino para envelopar os discos, poucos resistem ao tempo. João foi perdoado!
Outras dificuldades encontradas para reeditar LPs antigos na séries de clássicos, envolvem a ausência de máquinas (tapes) para tocar determinadas mídias e recuperar o áudio na melhor qualidade possível e a falta de autorização de gravadoras ou mesmo da família de músicos e fotógrafos — muitos porque já morreram ou estão fora do país.
A Polysom trabalha com várias frentes: a linha de Clássicos em Vinil, que já lançou mais de 200 títulos licenciados, lançamentos a pedidos de gravadoras, lotes dos clubes de vinil — Noize e Três Selos — e LPs prensados para gravadoras e artistas independentes.
Todos esses clientes disputam vagas na linha de produção da fábrica, que cresceu 26% em 2020. Por ano, a Polysom se consolida com mais de 150 mil discos feitos. O que é pouco, comparado a fábricas da Europa, que fazem, por mês, esse mesmo montante.
“Aqui é uma manufatura.
Somos um grupo de artesãos fazendo vinil com qualidade, mas muito mais demorado. Hoje são três máquinas para LPs e uma para compacto”, aponta.
Modéstia parte, João opera milagres. O LP é uma soma de vários processos para chegar a um resultado completamente analógico. Em todas as etapas, envolve acústica, química, mecânica, hidráulica, embalagem, comercial e marketing. É muito detalhe e, quando se tem uma fábrica em funcionamento há 12 anos, isso é sinônimo de sucesso.
Michel Nath, músico, DJ e dono da Vinil Brasil, caiu nas garras do disco em 2014. A data coincide com o ano de lançamento do seu próprio álbum, Solar Soul, quando identificou uma necessidade de ter um fábrica de discos no país, mais precisamente em São Paulo.
“Eu acreditava que o Brasil era carente desse serviço e que tinha uma demanda muito maior do que a que a única fábrica na época tinha capacidade de suprir”, diz.
Ele assume que, em nenhum momento, porém, sentou-se para traçar um plano de negócios ou estudar as tendências de mercado ou da indústria de discos. Num belo dia, no café da manhã, decidiu que ia abrir uma fábrica de vinil e assim aconteceu mesmo.
Quem chegou a circular pelas antigas fábricas de LPs — como a Continental e a RCA — lembra que os parques de máquinas abrigavam dezenas de prensas ou, até mesmo, mais de cem delas. A Vinil Brasil é dona de sete, mas só duas estão em operação.
“Eu encontrei essas prensas no ferro velho.
E isso foi o ponto de partida para eu entender que, talvez, com essas prensas velhas, eu tivesse a oportunidade de montar uma fábrica”, recorda.
Do encontro das máquinas no ferro velho até prensar discos, foi um longo caminho. Foi preciso um ano de ensaios e testes até começar. Entre 2015 e 2016, a tarefa foi uma só: tirar as máquinas de um coma profundo e estudar para aprender como se fazem LPs.
“Eu era apenas um músico, um poeta, um compositor, um DJ e sempre tive uma relação profissional e afetiva com a música e com o objeto do disco de vinil.
Eu encontrei as prensas, mas não tinha o conhecimento que hoje tenho, depois de seis anos cuidando da fábrica, do ponto de vista técnico, administrativo e humano, cuidando do pessoal”, pontua.
A fábrica começou a prensar em 2016, depois foram mais alguns meses de lapidação. Uma coisa é conseguir prensar alguns LPs com qualidade, outra é fazer milhares de LPs com a mesma qualidade e constância. Marco que chegou no ano de 2017 e se manteve.
“A terceira prensa vem aí”, promete.
Há dificuldade em encontrar profissionais para as demandas da fábrica, que reúne um time de 15 pessoas — um misto da velha guarda que trabalhou na indústria fonográfica nos anos 90 e que ainda está na ativa, pessoas do mundo fabril tecnológico que não necessariamente trabalharam na área de disco e novos profissionais que estão vindo.
“A maioria desses técnicos pararam de trabalhar com isso nos anos 90 e já eram senhores. Fui procurar essas pessoas e elas faleceram”, lamenta.
Sobre talentos, ele aponta nomes.
“Temos hoje na fábrica alguém importante que é o nosso cortador de acetato. Um amigo querido, o Arthur Joly, que tem um conhecimento, carinho e relação com a música enorme”, disse.
Nath vê a fábrica como um grande desafio em vários aspectos: tecnológico, econômico, humano e cultural. Usando as suas palavras, é uma equação muito louca. Dentro de um universo muito mais complexo do que as pessoas imaginam, aponta que a conta de se importar equipamento, trazer e montar uma fábrica do zero não fecha — por questões como altas taxas de impostos e total ausência de assistência técnica desse maquinário.
“A Vinil Brasil só existe porque tem uma pessoa como eu que é maluca e apaixonada por música e vê nisso uma missão pessoal. O amor é o que me move a cuidar da fábrica de discos, mas cuido também com muito pé no chão.
A gente tem consciência de que está fazendo história”, reconhece.
Perguntei ao Nath sobre quantos vinis a fábrica vem entregando ao longo dos anos e a resposta foi uma história curiosa. Em 2018, um ano depois que a produção engrenou, o proprietário do imóvel onde ficava a Vinil Brasil moveu uma ação de despejo. A ordem foi para a Justiça e a mudança efetivada em 2019. Foi um ano operando num endereço e remontando a fábrica em outro, no Bom Retiro, onde estão num edifício próprio.
Ao ter que trocar os pneus com o carro andando, a produção oscilou. Já bem instalados, foi a pandemia que trouxe desafios. Contudo, a Vinil Brasil estima que, em condições normais de temperatura e pressão, está apta a produzir 10 mil a 12 mil discos por mês.
A marca Vinil Brasil, além de dar nome à fábrica, também abriga um selo independente, uma loja de discos (os mesmos que fabricam), além de um clube de LPs por assinatura.
Nem só de prensa vive o mundo do vinil. Existe um método ainda mais artesanal, em que os discos são cortados individualmente, um a um: o Lathe Cut. O formato pode ser Hi-Fi ou Lo-Fi, mas bastante diferente do processo dos bolachões industriais na prensa.
Esse tipo de gravação é chamada Lathe Cut (Corte com Tornos). Ela não chega a ser uma ameaça às fábricas ou substituta direta ao vinil industrial prensado. É o que muitos chamam de “vinil arte”. No caso de uma gravação de 5 minutos, 5 minutos também será o tempo de produção necessário de cada unidade/lado — fora outros processos de entrega. Sendo assim, cada cópia demora para ser feita o mesmo que a cópia anterior.
Você deve estar se perguntando quais são os benefícios. Certamente, a exclusividade está no topo da lista, dado que a quantidade mínima pode ser de apenas uma unidade e usando diversos materiais. São infinitas as oportunidades de criação no um para um.
É o caso de outras duas oficinas de discos também citadas no mapa da Vinyl Pressing Plants: a Mammoth Green Studios (SP) e a Vinyl-Lab (SP) que contaram suas histórias.
A Vinyl Lab teve origem em 2012, com Giordano Bruno (o Bruno NGS), também conhecido DJ Niggas, com uma Neumann de 1957. Na época, ainda tratava-se de uma máquina de corte comum, focada em trabalhar com acetatos. Depois de muito bater cabeça procurando técnicos, chamou Arthur Joly, que investiu como se o projeto fosse dele — vendeu 30 sintetizadores, viajou, fez cursos e colocou a máquina para rodar.
A ideia inicial era fazer dubplates. Ou seja, trabalhar com o corte direto no acetato. A técnica atual é parecida com o dubplate, mas direto no PVC, na mídia permanente. Ele conta que a dupla pulou toda a história do acetato e resolveu fazer o corte direto no disco de vinil — e funcionou! Isso faz cada LP ser ligeiramente diferente um do outro.
Bruno já tem seis máquinas, incluindo duas da Vinyl Recorder e, atualmente, oferece o corte de vinil sob encomenda em São Paulo usando o seu próprio processo de gravação. Joly, hoje na Vinil Brasil, saiu da sociedade em 2015 e focou na masterização.
A Mammoth Green Studios (ou apenas MGS) é liderada por Vice Fiori, músico, luthier, técnico de estúdio e artesão do vinil. Ele conta que seus discos são cortados na máquina em que trabalha, totalmente feita à mão, e já entregue diretamente ao comprador.
A história é longa, começou em 2010, mas tomou corpo só em 2019. Nesses nove anos, Fiori recorda que foi enganado por scammers e nunca recebeu os primeiros aparelhos que comprou. Isso gerou dívidas e o músico teve que se desfazer do seu próprio estúdio em São Paulo, voltar a Piracicaba e recomeçar do zero. Desde criança louco por LPs, relata que assim como os colegas do Lathe Cut, fez muitos testes até dar certo.
O pontapé final ficou por conta de uma história triste. Com a promessa de fazer um disco para o irmão mais velho, se viu acelerando o processo em função da sua morte inesperada em 2019. O disco prometido foi entregue, e está em seus braços, enterrado junto ao irmão. A partir daí, reuniu forças para recomeçar e a MGS engrenou. Hoje, recebe encomendas online e cria verdadeiras “obras de arte que tocam música”.
Eles, porém, não são os únicos e certamente também tem mais oficinas de vinil por aí… A sugestão, como em qualquer serviço, é buscar recomendações de antigos clientes, ouvir discos cortados pelos fornecedores e já entregar o áudio masterizado para vinil.
Vale lembrar que todos foram muito enfáticos ao dizer que não produzem bootlegs — termo comum para se referir a cópias irregulares de registros não lançados, geralmente show ou programa de rádio de TV ou mesmo cópias de discos originais (aqui, classificadas como pirataria). Sendo assim, não adianta procurá-los para gravar faixas que não sejam autorais ou não contenham uma autorização da gravadora e/ou artistas.
No mundo dos processos manuais do Lathe Cut, é a alemã Souri’s Automaten, fabricante da Vinylrecorder T-560, que ganha destaque. Criada pelos irmãos Ulrich “Souri” Sourisseau e Fritz Sourisseau. Wesley Wolfe, parceiro da Souri’s nos Estados Unidos, conta que a primeira máquina feita pelos alemãs chegou no ano de 1998.
Contudo, sobre a quantidade de máquinas vendidas desde então, desconversa. “Menos do que você imagina, e mais do que você acredita”, se diverte, sem revelar. Especula-se, porém, que as vendas já tenham superado a casa dos milhares, nos últimos 20 anos.
Wolfe também acredita que todos os concorrentes que tentaram pôr no mercado uma máquina como a da Souri — incluindo a anterior Vestax VRX-2000 Vinyl Cutter Machine, com lançamento em torno de 2005 — falharam. A fábrica vende não só a máquina, mas também as mídias prontas para serem cortadas em três tamanhos (7”, 10”, 12” e 14″).
“Cada máquina é 100% fabricada em Hosskirch, na Alemanha. Cada pequena mola é feita à mão. É realmente impressionante, é como ser um relojoeiro de luxo”, diz.
Vinyl Recorders custam uma pequena fortuna: 3.200 euros, sem a vitrola (e impostos).
Comprar uma dessas não é fácil. Além do dinheiro, é preciso viajar, agendar o encontro, fazer o curso (sim, o curso da Souri’s) e comprá-la. Um processo longo que pode levar de seis meses a um ano. As máquinas compradas de segunda mão ficam sem suporte.
A contabilidade é confusa…
O Global Music Report 2021 da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês), aponta que houve um aumento de 23,5% na receita de vendas de vinil no mundo todo no ano passado. Os dados foram divulgados dentro de um cenário de queda de 4,7% nas mídias físicas em geral, puxadas pela baixa de 11,9% em CDs.
Pesquisas que consideram vendas apenas com código de barras, como a Nielsen SoundScan, para os EUA e Canadá, ignoram as vendas em shows. E, os dados da IFPI, embora sejam confiáveis, não tem recortes locais ou consideram selos independentes.
No Brasil, não há uma contagem oficial de vendas de LPs. A Pró-Música — única entidade brasileira que coleta dados e estatísticas do mercado fonográfico local — não contabiliza mais as vendas de discos de vinil em unidades, com números baixíssimos.
O que temos é a produção anual, sendo números das próprias fábricas.
Todo o perrengue que envolve produzir vinil deveria ser compensado na hora de ouví-lo. Porém, pelo menos por aqui, não é bem isso que acontece. O disco está pulando? A rotação está mais lenta? Calma… o problema, boa parte das vezes, não está no disco.
Lembra do Joly?
Dele, de novo, há vários vídeos no YouTube, no seu próprio canal, explicando uma série de detalhes sobre toca-discos. Eu poderia ficar me alongando aqui, mas a explicação do Joly é absurdamente didática e indispensável para os novos colecionadores de discos.
E como escolher um bom toca-discos? Isso é papo para outro texto…
Se você chegou até aqui… viu que sim, discos novos tem qualidade. Mas, prensa velha é que faz bolacha boa. No geral, os LPs produzidos hoje são feitos em menor escala e com mais esmero do que quando eram mídias de massa e saiam aos milhões do forno.
Um disco de vinil novo, prensado num processo industrial, costuma custar a partir dos R$ 120 a R$ 130, dependendo do artista. Já um Lathe Cut pode sair pelo dobro ou mais.
Mas o custo de colocar uma fábrica de vinil em operação no Brasil de hoje, no entanto, parece incalculável e pode mudar a qualquer momento em função da importação dos insumos, da variação do câmbio, da necessidade de manutenção das máquinas e da dificuldade em encontrar mão de obra qualificada. É um jogo de tetris gigante e caro.
Honre o seu vinil novo, compre uma boa vitrola, um bom conjunto de caixas de som e esteja pronto para uma viagem sonora incrível. Não se esqueça, fuja das maletinhas!
Diante de um cenário tão fora do comum, quem não compra mais a ideia do vinil não perde a oportunidade de chamar os colecionadores de loucos. Com os fabricantes não é diferente. Mas, com o resgate do formato, os críticos já estão mudando de opinião.
“Quando eu peguei a fábrica, todo mundo me chamava de maluco. Depois de um tempo, começaram a me chamar de esperto”, diz João Augusto, da Polysom.
Embora em alta, assim como outros setores industriais, a indústria do vinil sofre durante a pandemia do novo coronavírus com o atraso na entrega de materiais importados, a falta de insumos, o câmbio do dólar e do euro, além da interrupção da atividade fabril. Mas, uma coisa todos eles prometem: não desistir do LP tão cedo.
Se depender dessa turma, vai ter disco de vinil sim!
Feliz Dia do Disco!
O “Dia do Disco” é uma homenagem a Ataulfo Alves, morto em 20 de abril de 1969. Quase uma década depois, em 1978, foi decidido dedicar a data ao compositor. No dia 12 de agosto, porém, comemora-se em muitos países do mundo. A data é considerada o anúncio oficial de Thomas Edison sobre a invenção do primeiro fonógrafo, em 1877.
A Polysom é a mais antiga fábrica de discos de vinil em operação no Brasil e fica no estado do Rio de Janeiro. Prensa compactos, LPs e também produz fitas K7. Aceita pedidos de orçamento online. O pedido mínimo para LPs e Compactos são 300 cópias e de K7 são 50.
Site: polysom.com.br
A Vinil Brasil é a segunda fábrica de discos de vinil em operação no Brasil que usa prensas e fica no estado de São Paulo. No site, também é possível pedir orçamento online. O pedido mínimo para LPs e Compactos também é de 300 unidades. A fábrica não trabalha com K7s.
Site: vinilbrasil.com.br