Dublagem remota: quando a tecnologia salvou o dia (e a voz)
A dublagem brasileira foi afetada pela pandemia, mais do que você imagina. Como a tecnologia ajudou profissionais da área?
A dublagem brasileira foi afetada pela pandemia, mais do que você imagina. Como a tecnologia ajudou profissionais da área?
Em um país onde pouquíssima gente fala inglês, dublagem é importante, necessária. Você pode não curtir, preferir as vozes originais – o que, aliás, é meu caso – mas é importante que produtos internacionais sejam lançados no Brasil com adaptações para o nosso idioma. E isso também engloba seriados, filmes, programas, tudo que é disponibilizado em streaming, mídia física, cinema, games e derivados.
Existem algumas pesquisas e dados que apontam para a dublagem como preferência nacional. Em 2015, o portal Filme B, que monitora o mercado de cinema no Brasil, divulgou um resultado que apontava o seguinte: em 2014, 59% das pessoas que foram ver filmes na “tela grande” assistiram dublado. Ainda segundo os dados, filmes estrangeiros no nosso idioma representavam, naquela época, 57% da renda total de bilheterias por aqui, contra 32% legendados e 11% de produções nacionais.
Apesar de ser uma pesquisa antiga, os números não parecem ter mudado tanto.
Em pelo menos duas ocasiões, a Netflix apontou resultado similar e até com porcentagens maiores. Em 2019 a empresa divulgou que o seriado 13 Reasons Why havia sido assistido por 84% do público com o áudio dublado em português, contra 16% legendado. Em House of Cards o cenário ficou dividido, 50/50, mas ainda com um grande número de assinantes conferindo o programa no nosso idioma falado.
Quer mais alguns poucos números? Bem rapidinho: vamos jogar nessa equação o fato de que o British Council, uma organização institucional do governo do Reino Unido, já elaborou uma pesquisa afirmando que apenas 5% da população brasileira fala inglês, enquanto meros 1% têm fluência.
Então, durante a pandemia, como os estúdios de dublagem conseguiram continuar seu importante trabalho, para não atrasar estreias e nem deixar profissionais fora do mercado ou o público sem conteúdo?
A pandemia no Brasil afetou diversas áreas, profissionais e pessoais, de maneira inesperada em muitos aspectos. Com mais pessoas em casa, em seus primeiros meses, o consumo de mídia via streaming aumentou.
De acordo com uma pesquisa divulgada no final de agosto pelo grupo Kantar Ibope Media, houve um aumento de consumo de streaming no País de 73%, somando todas as plataformas, entre conteúdo pago e gratuito, durante a pandemia.
Em outubro, a Globoplay divulgou que alcançara a marca de 20 milhões de usuários únicos e afirmou ser líder do mercado de streaming no Brasil – vale lembrar que a plataforma não oferece plano gratuito, mas tem alguns conteúdos de livre acesso.
Ainda assim, são números impressionantes. E com esse grande aumento, temos que sempre pensar em um ponto muito importante: a acessibilidade destas plataformas. E aí entra em cena a dublagem em português, para os programas estrangeiros.
A área de dublagem foi afetada de maneira pesada pela pandemia. Grandes dubladores e também iniciantes sofreram em proporções diferentes, mas pelo mesmo caminho. Houve quem perdesse papeis, ou quem precisou montar estúdios em casa, para continuar no isolamento.
Muitas séries, filmes e até games foram lançados sem a dublagem prevista, ou com troca de dubladores. Plataformas como Netflix e Apple+ exibiam avisos de que as vozes em português de determinado programa poderiam atrasar, por conta da questão de saúde dos profissionais envolvidos na produção. O jogo Overwatch lançou sua última personagem, Echo, com vozes em inglês, enquanto todos os outros falavam português.
Foi justamente para reconhecer e dar o devido valor a essa área de trabalho tão necessária que resolvi falar usar o tema “dublagem na pandemia” para este artigo. Mal sabia eu que alguns dubladores, em especial os iniciantes e os veteranos donos de estúdio, teriam receio de falar a respeito, devido a uma polêmica live realizada ainda no primeiro semestre de 2020, pelo apresentador e humorista Fábio Porchat.
Ainda em março deste ano, mais ou menos no início da pandemia por aqui, o dublador Wendel Bezerra, a voz do Goku, de Dragon Ball Z, publicou um vídeo em seu canal do YouTube para falar sobre o impacto do Coronavírus em sua área de atuação.
Segundo Bezerra, a dublagem parou totalmente não só no Brasil. “Por exemplo a dublagem tá parada na Itália, na Espanha, México e Argentina estão parando… Nas Filipinas também tem dublagem, e lá pararam”, disse.
Em tese, todos os estúdios pararam e fecharam suas portas. Ainda em uma época onde a pandemia despertava um verdadeiro pavor na maioria dos brasileiros, muita gente se isolou de verdade e empresas que não trabalham com serviços essenciais à vida tiveram que pausar por, pelo menos, algumas semanas.
No mesmo vídeo, o “Goku brasileiro” também explicou o que muita gente pode não saber: dubladores são freelancers. Dificilmente existe um dublador com contrato de trabalho garantido. Trabalham por demanda. E por isso passam o dia indo de um estúdio a outra, por toda a cidade – às vezes até em outras cidades – para poder realizar os trabalhos.
Ele também lembra e alerta para o fato de que dubladores são atores e que, além disso, o trabalho não é feito apenas com o ator no estúdio, há, pelo menos, um diretor, técnico de som, edição, entre outros componentes.
Por isso, estúdios fecharam assim que a quarentena foi decretada em diversos locais do País. Mas a retomada não demorou muito.
Com coisa de dois meses depois do início da quarentena no Brasil alguns estúdios de dublagem estavam começando a retomar suas atividades. Seguindo, sempre, os “protocolos de segurança”, ou o que se sabia sobre eles.
Foi sobre essa época que eu conversei com algumas pessoas, entre dubladores profissionais e outros que ainda estão começando. Entre eles, Ricardo Juarez, a voz de Kratos, da saga God of War, no Brasil.
Juarez tem um estúdio em casa, montado há quatro anos, muito antes de sequer cogitarmos a possibilidade de uma pandemia em 2020. Com este estúdio caseiro, seu foco era a locução, trabalho que muitos dubladores também desempenham, mas veio a calhar para a época em que vivemos.
“Eu só fiz algumas adaptações no estúdio. Coloquei um monitor novo, coisa bem pontual, bem rápida. Meu estúdio é uma cabine feita de madeira, do tamanho de um elevador. Tem luz interna, monitor, teclado, mouse, mesinha de áudio, microfone. O computador, por questão de ruído, fica do lado de fora”.
Ricardo Juarez, dublador do Kratos
Mas imprevistos acontecem e nem com todo o isolamento acústico do mundo é possível segurar alguns tipos de barulhos. “Meu tratamento acústico é muito bom. Mas, mesmo se você for em um estúdio profissional, se tiver um barulho muito alto, pode vazar barulho externo”, disse.
O ator lembrou de um caso que aconteceu no antigo estúdio Herbet Richers, que fechou as portas em 2009, no Rio de Janeiro. “Aquilo era um bunker! Era blindado, tinha várias portas, fundo, mesmo assim, nem sempre adiantava. Uma vez, um caminhão meteu a buzina no último volume, na rua, e o áudio vazou na gravação”, diz Juarez ao Tecnoblog.
E foi justamente por conta destes imprevistos que o isolamento do ator não pôde durar tanto. “Eu fiquei 55 dias sem botar o pé para fora de casa”, contou. Segundo Juarez, uma obra em sua vizinhança o impedia de trabalhar, mesmo de casa, por conta do barulho altíssimo, ao ponto de vazar qualquer tipo de isolamento que havia montado.
Mas Ricardo Juarez garantiu que compareceu a estúdios para trabalhos presenciais com todos os cuidados possíveis. Se deslocou apenas de Uber, evitando transporte público, e, no estúdio, seguindo todas as precauções possíveis e imagináveis. Hoje segue um meio termo, mas continua trabalhando em casa, usando seus equipamentos e também atuando com locução.
Mas Ricardo Juarez é um dublador estabelecido no mercado, com grande currículo e produções importantes em sua carreira de mais de 30 anos. Muitos, por outro lado, estão começando agora – alguns começaram no meio da pandemia, praticamente.
Conversei com alguns dubladores iniciantes que preferiram não se identificar, mas que contaram diversas histórias similares. Pessoas que gastaram mais de R$ 3 mil em cabines personalizadas para dublar em casa, gente que teve que se mudar para realizar testes para papeis dos mais variados e até outros que aceitam tarefas bem pequenas, ainda que diretamente com estúdios, se arriscando no meio do isolamento, entre março e abril, quando a pandemia estava no ápice.
Foi comum saber de relatos de amigos que se uniram em uma mesma moradia para dividir os custos do estúdio caseiro. É um esforço que nem todos podem fazer, o que levou outros iniciantes a “dar seu jeito” na hora de criar uma forma de trabalhar de casa.
Um dos “iniciantes” que posso citar, mas que se manteve isolado, é Leonardo Camargo, ou Leo Kitsune, como também é conhecido. As aspas em “iniciante” têm um motivo simples: Kitsune é formado ator com DRT, o registro profissional, desde 2015, mas leva a dublagem como um trabalho secundário, como um sonho que ainda pretende realizar. Na pandemia, teve que se virar como pôde.
Kitsune é editor e tradutor de quadrinhos, responsável pela Marvel Comics no Brasil. Em 2019 esteve no elenco do filme My Hero Academia: 2 Heróis, no papel do herói Sero Hanta, seu primeiro papel oficial em uma grande produção. Em 2020 ele retornou para o mesmo papel na sequência, My Hero Academia: Ascensão dos Heróis, onde dublou de casa.
“Por conta do trabalho de tradução eu já tinha que trocar de computador há algum tempo. Aproveitei e resolvi investir não só em um ‘home studio’, mas em novos equipamentos para dublar de casa, no meio da pandemia”.
Leonardo Kitsune, editor Marvel Comics no Brasil e dublador de Sero Hanta
Kitsune comprou um novo computador, espumas para isolamento e melhor controle do som ambiente, microfone e seguiu. O investimento foi cerca de R$ 4.600, segundo o ator e editor. “Comprei um microfone Blue Yeti, que não é o top de linha, mas os outros eram muito caros, teve que ser ele”, lamentou.
Como ainda não tem muitos papeis disponíveis, e ainda mantendo o isolamento em casa, na medida do possível, Kitsune considerou os equipamentos um investimento, que ele espera recuperar no futuro, conseguindo outros trabalhos na dublagem. “É um investimento alto que pode não dar em nada. Eu tô começando, não sou requisitado. No fim das contas, comprei pra aproveitar”, adicionou.
Um outro ponto que Kitsune apontou durante a conversa é que ele contou com uma consultoria de uma amiga, Veridiana Benassi, também atriz e dubladora. Segundo Kitsune, Benassi era uma das responsáveis por um tipo de “comitê” que auxiliou dubladores que estavam em home office.
Em maio, um grupo de dubladores profissionais e altamente relevantes para o mercado decidiu, em reunião virtual, se manter em home office e, ao mesmo tempo, criar o que foi chamado de Comissão de Gerenciamento de Soluções da Dublagem. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos, para auxiliar iniciantes e veteranos que estavam passando pelo mesmo tipo de problema, não só para os artistas, mas também técnicos.
Um dos profissionais que participou da iniciativa é Fernando Mendonça, do Rio de Janeiro, que esteve recentemente no elenco da animação SCOOBY! O Filme, como Salsicha, e também possui um estúdio próprio, o Combo Estúdio, responsável por gravações de vozes originais, em produções próprias, como O (Sur)real Mundo de Any Malu.
Em um estudo, levantado pela organização, descobriu-se que 72,3% dos dubladores se consideram do grupo de risco ou vivem com alguém que seja. Para piorar, muitos deles não conseguiram qualquer amparo do auxílio emergencial oferecido pelo Governo Federal.
Mendonça conversou comigo e chamou a atenção justamente para estes problemas, mas em especial para os profissionais idosos. De uma outra época, que não acompanharam tão bem as evoluções tecnológicas.
“Dubladores que são mais idosos não têm acessibilidade para essa tecnologia e não sabem como investir, como se organizar e captar o som. A partir daí a gente criou um fundo no ‘projeto alô’ para arrecadar fundos a essas pessoas, que não conseguiriam gravar nem remotamente, nem presencial”.
Fernando Mendonça, dublador do Salsicha em SCOOBY!
O projeto foi lançado com o nome de “Alô, Quem Fala?” e tirou vantagem de mais uma solução tecnológica, o financiamento coletivo online. Hospedado no Catarse, o projeto oferecia ligações telefônicas de vozes famosas, além de outros benefícios, em troca de apoio em dinheiro dado pelos fãs, com contribuições a partir de R$ 10.
O dinheiro arrecadado serviria para criar um fundo de auxílio emergencial para dubladores, técnicos e outros profissionais da área, para cobrir eventuais despesas médicas, de alimentação, produtos de higiene, entre outras necessidades básicas.
O Alô, Quem Fala? desenvolveu sua campanha ao longo de agosto e arrecadou pouco mais de R$ 63 mil. Grandes nomes se engajaram na causa: Flora Paulita (Ariana Grande), que co-organizou a campanha, Guilherme Briggs (Superman), Fábio Lucindo (Ash de Pokémon), Mauro Ramos (Pumba e Shrek), Angélica Santos (Cebolinha), entre outros.
Com isso, a dublagem poderia ter um certo alívio, enquanto todos poderiam continuar normalmente dublando de casa, ajudando uns aos outros, certo? Nem tanto.
A Uber nasceu como uma solução tecnológica elogiadíssima pelo público, ainda que já tenha perdido boa parte do seu “glamour” inicial. Com o tempo, porém, não faltaram polêmicas envolvendo seu funcionamento, principalmente acusações de taxistas e de outros profissionais dos transportes, sobre como o aplicativo de motoristas poderiam causar uma precarização generalizada de profissões.
Ao que parece, preocupação similar nasceu com a dublagem neste período da pandemia.
“Como tudo que acontece hoje em dia, houve uma polarização. Alguns dubladores ficaram uns contra os outros, pois, em teoria, quem estava indo presencial estava tirando o trabalho de quem estava em casa. Outros falavam que dublar de casa poderia abrir precedentes para termos pessoas sem formação realizando o trabalho”.
Fernando Mendonça
“Eu considero algo sem fundamento. Não senti queda no número de trabalhos que fazia, eu tô dublando muito de casa! Isso tem sido bom, pois assim não gasto com transporte, os estúdios de dublagem ficam espalhados pela cidade”, disse. “Eu acho que, como qualquer outra tecnologia, a gravação remota veio para complementar. Quando chegou o rádio as pessoas achavam que ia acabar o jornal impresso, quando veio a TV acharam que ia acabar o rádio. As pessoas têm medo, mas tudo se complementa”, adicionou Mendonça.
O dublador também acha que a dublagem remota não deve acabar após a pandemia. Pelo contrário, ele pensa que pode ganhar ainda mais força. Em nossa conversa, lembramos o exemplo bem conhecido da atriz Fernanda Baronne, com quem infelizmente não consegui contato.
Contudo, é sabido que Baronne morou um bom tempo na Europa, de onde dublava a série The Big Bang Theory, na personagem Penny, sem qualquer tipo de impedimento para realizar o trabalho e sem o cenário de pandemia que vivemos hoje.
Ou seja, a dublagem remota nem mesmo é uma novidade exclusiva de 2020.
Falei bastante a respeito de cenários e situações que os dubladores passaram durante a pandemia e isolamento, mas ainda deixei em branco o espaço sobre “como funciona”, em termos técnicos. O processo de dublagem remota é bem simples, na verdade. Tendo os equipamentos certos, ele funciona como quase qualquer outro trabalho home office.
No mínimo três pessoas são necessárias: o dublador, diretor e um técnico. De sua casa, o dublador abre um link que o conecta com um programa – Source Connect é o mais usado –, que exibe imagem do que está sendo dublado, áudio e o texto diretamente na tela.
De outro ponto, o diretor acompanha tudo enquanto está sendo gravado, enquanto o técnico de som recebe os áudios e, com o OK da direção, realiza os ajustes necessários – de qualidade, de velocidade, de encaixe, entre outros possíveis.
É claro que o processo envolve também uma série de repetições, como qualquer trabalho que conte com atores e atrizes. Raramente uma gravação é aprovada de primeira e ajustes e reajustes sempre rolam.
Todos os dubladores com quem conversei relataram esquema similar ou basicamente idêntico para a gravação remota. Mas e os estúdios, como estão funcionando na pandemia, que, aliás, ainda não acabou?
O braço brasileiro do Keywords Studios, que fica em São Paulo, foi um dos que precisou planejar o retorno após o primeiro mês de quarentena. Cristiano Prazeres, diretor do estúdio, me explicou o motivo: “No primeiro mês foi home office total, mas depois de um mês começaram a pintar trabalhos que a gente precisava vir presencial, não por conta da qualidade, mas sim por serem processos muito grandes, que não eram possíveis de casa”.
O Keywords foi o responsável por dublar alguns jogos de videogame que saíram durante a pandemia, entre eles Crash Bandicoot 4: It’s About Time, Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 e Marvel’s Avengers – este último já estava 80% gravado antes de começarem todos os problemas envolvendo o Coronavírus.
Para retornar, e gravar estes e outros projetos importantes, Prazeres me contou que tipo de investimento a empresa fez:
“Na retomada a gente adotou o protocolo de saúde que a empresa estava seguindo internacionalmente, da Itália. Instalamos lâmpadas UV nas cabines, que a gente liga pra esterilizar o ambiente, todo mundo de máscara, bastante álcool em gel, ninguém fica muvucando dentro do estúdio…”.
Cristiano Prazeres, diretor do estúdio Keywords
Assim, o processo era bem simples: quando requisitado, o dublador comparecia ao estúdio e fazia seu trabalho, acompanhado de diretor e técnico de som, todos seguindo os cuidados necessários. Um intervalo de meia hora era realizado em cada gravação para a limpeza da sala e o texto ficava na tela e não mais no papel, como é comum em estúdios. Todos estes cuidados, segundo o empresário, fez com que os profissionais que trabalhavam com eles tivessem uma grande confiança para comparecer ao local.
Para saber se, de fato, os cuidados do estúdio pareciam adequados, consultei a infectologista do Grupo Pardini, Melissa Palmieri, que também é especialista em vigilância em saúde pelo Ministério da Saúde.
Um ponto que me intrigou foi a questão da luz UV. Segundo Palmieri, essa solução pode ser mais eficaz na hora de reduzir o risco de contágio e nem tanto com foco na limpeza do local. “Alta temperatura é um dos fatores desfavoráveis para a proliferação do vírus, assim como aumento dos raios UV. Talvez seja um artifício que pode apoiar a redução de risco. Todas as estratégias que você me falou parecem minimizar ao máximo a contaminação de pessoas que trabalham ali”, concluiu.
Mas ela também faz alguns alertas:
“O ideal é deixar o estúdio em descanso por umas quatro horas. Talvez fazer uma gravação de manhã e outra pela tarde. Quem estiver no estúdio, sem gravar, se manter o máximo de tempo de máscara, preferencialmente uma N95 ou máscaras cirúrgicas. E se a pessoa vai ter o trabalho pontual de locução, claro, é bom que ela se previna uns 14 ou 15 dias antes, e que o estúdio faça testagem dos seus profissionais 48 horas antes do trabalho ser feito (…) Não existe como deixar o ambiente 100% livre do vírus, são medidas de redução de risco”.
Melissa Palmieri, infectologista
De todos os profissionais que falei para esta matéria, sejam dubladores, donos de estúdio, novatos e veteranos, há um consenso: isso não vai passar tão cedo.
Por mais que estabelecimentos comerciais estejam reabrindo para funcionamento normal a cada dia, os cuidados precisam permanecer, já que também não temos uma previsão concreta da vacina eficaz.
A dublagem parece ter retomado os trilhos, em boa parte dos trabalhos. Programas já não estreiam mais sem o idioma em português e, mesmo estúdios que antes não aceitavam home office, passaram a aceitar por pressão de fãs, em casos mais raros.
Assim, o ideal é continuar se cuidando, seja em casa ou no estúdio, e torcendo para que o “novo normal” se torne o “bom normal”. Enquanto isso, dublagem e tecnologia continuam andando cada vez mais próximos, em uma relação simbiótica que atende todo o tipo de público.
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