Mesmo depois de aposentado, o Office permanece entre nós
Microsoft decide descontinuar uma de suas marcas mais importantes; os programas que faziam parte dela, no entanto, não vão a lugar algum
Microsoft decide descontinuar uma de suas marcas mais importantes; os programas que faziam parte dela, no entanto, não vão a lugar algum
Há pouco mais de trinta e dois anos, a Microsoft teve uma baita ideia.
Era um período em que softwares de produtividade não vinham num pacote. Word e Excel, para citar dois dos mais conhecidos, tinham que ser adquiridos separadamente. Assim como seus concorrentes de outras empresas: o Lotus 1-2-3, por exemplo, era um programa de planilhas da Lotus; o WordStar, um editor de textos da MicroPro. E havia muitos outros.
Juntá-los numa única solução pode parecer uma obviedade hoje, mas não era durante os anos 1980. Havia uma concorrência maior entre empresas, e a Microsoft ainda não possuía o domínio que hoje possui. A ideia de criar uma suíte com os principais softwares da companhia foi um dos fatores que ajudou a consolidar esse domínio, aliás.
Assim, o Microsoft Office veio ao mundo em 1990 com sua trindade clássica: Word, Excel e PowerPoint. Do ponto de vista de mercado, fazia todo sentido. Os vários produtos da Microsoft eram enfatizados em conjunto, incentivando o usuário a se concentrar nas ferramentas de uma única empresa. Ainda não havia uma integração real entre os programas; isso só viria com o tempo. Num primeiro momento, o foco era negócio.
Deu mais do que certo. O bundle da Microsoft foi pouco a pouco ocupando os espaços da concorrência, até que a palavra Office se tornou sinônimo de suíte de produtividade. A marca se tornou uma das mais fortes da empresa, competindo com o próprio Windows.
Porém, trinta e dois anos depois, a Microsoft está pronta para seguir em frente sem ela. Quer dizer… de certa forma.
Neste mês de novembro, a Microsoft inicia a transição para aposentar a marca Office. Agora, todos os programas que antes faziam parte da suíte estarão dentro do guarda-chuva Microsoft 365. A decisão não é exatamente uma surpresa, até porque já estava em andamento.
O Microsoft 365 existe desde 2017 como um pacote amplo de soluções da empresa. Em sua versão para assinatura, o Office já fazia parte dele, através do Office 365. Agora, o nome “Office” deixa de ser usado para se referir ao conjunto de aplicativos de produtividade que faziam parte do pacote.
A decisão parece motivada pela ideia de unificar as diversas ferramentas da empresa num lugar só. Além de Word, Excel e PowerPoint – programas tão populares que cursos inteiros foram criados nos anos 1990 e 2000 para ensinar a usá-los –, a Microsoft foi aumentando sua família de soluções. OneDrive, OneNote, Teams: há uma vasta gama de aplicativos para os mais diversos fins.
Fica claro que a marca Office, muito identificada com Word, Excel e PowerPoint, ficava um tanto perdida em meio a esse contexto. Ao mesmo tempo, seus aplicativos são tão versáteis e difundidos que colocá-los lado a lado com os outros que fazem parte do Microsoft 365 parece fazer sentido.
Assim, o Office como o conhecemos deixará de existir, mas não os aplicativos que o constituíam. É uma situação um pouco diferente do que aconteceu com a linha Pentium, descontinuada esse ano. Ali também houve o fim de uma marca icônica, mas sem um legado ao qual os usuários continuarão tendo acesso.
Aqui, vai-se o Office, o todo; as partes dele, que também se tornaram marcas relevantes em si mesmas, permanecem.
Como vimos, o Office se tornou sinônimo de suíte de produtividade. Um dos fatores que levou à popularização do pacote foi certamente a própria difusão dos computadores pessoais – com o Windows instalado, é claro.
As ferramentas do pacote foram evoluindo, assim como o próprio sistema operacional. Com o Windows se tornando tão forte nos PCs, faz todo o sentido que o Office tenha acompanhado essa tendência – incluindo aí uma fatia importante das receitas da Microsoft.
Se pensarmos na coisa mais próxima de um concorrente para as ferramentas do Office, hoje, o que temos é o Google Docs. Sim, há outras suítes gratuitas e de código aberto, como o LibreOffice, mas é o Docs quem melhor se aproveitou da mudança de chave do trabalho local para o on-line e colaborativo.
Assim como a disseminação dos computadores impulsionou a adoção dos programas do Office – o sucesso do Word, por exemplo, só foi possível porque a ferramenta foi pensada para enfatizar o uso do mouse, e não do teclado, como seus concorrentes –, a maior presença da internet na vida das pessoas beneficiou o Google Docs.
A ferramenta pode não ser tão completa quando a da Microsoft, mas, para usuários mais leigos, que precisam digitar textos ou fazer planilhas simples, entrega o necessário. Além disso, o aspecto colaborativo está no DNA do Docs desde o início. Já a Microsoft teve que adaptar uma solução que nasceu offline para um novo ambiente, o que a deixa um pouco para trás nesse quesito.
É improvável, no entanto, que o Google Docs ocupe o espaço do Office. Os aplicativos de produtividade da Microsoft ainda tem um enorme peso, e o reconhecimento de décadas de melhorias e ao público. O Docs ainda teria que construir essa reputação – e, em se tratando de uma iniciativa do Google, nunca sabemos o que pode acontecer…
Se você também achou curiosa a estratégia da Microsoft de aposentar uma de suas principais marcas, não deixe de ouvir o Tecnocast 266, onde também resgatamos a história da mais conhecida das suítes de produtividade.