Armadilha da Microsoft pode prevenir surtos de zika

E de outras doenças transmitidas por insetos

Emerson Alecrim
• Atualizado há 1 ano e 7 meses

Prevenir surtos de doenças sempre foi um desafio. Mas, se aplicada de modo inteligente, a tecnologia pode ser de grande ajuda nessa área. Prova disso está no mais recente projeto da Microsoft Research: uma armadilha high tech que captura mosquitos e usa inteligência artificial para prever as chances de determinada região enfrentar epidemias de doenças como a zika.

Project Premonition

A ideia é uma extensão do Project Premonition. Apresentada há um ano, a iniciativa utiliza drones para capturar pequenos organismos com grande potencial de transmissão de doenças. Essas aeronaves apresentaram resultados interessantes, mas a equipe de Ethan Jackson, líder do projeto, precisava de um método de captura mais preciso, capaz de ignorar organismos inofensivos.

É aqui que a armadilha entra em cena. O equipamento livra entomologistas e outros profissionais do projeto da tarefa de classificar moscas, traças e outros insetos que não têm culpa de nada, mas acabaram sendo capturados. Como? Identificando apenas mosquitos que estão no alvo do rastreamento.

Além de apanhar o tipo certo de mosquito, a armadilha é capaz de determinar a hora em que a captura ocorreu, como estava a temperatura do ambiente, qual a velocidade do vento, entre vários outros fatores.

Eis o diferencial da armadilha: a capacidade de coletar dados para análise. Um sistema de aprendizagem de máquina é usado para cruzar todas as informações colhidas para identificar padrões que indiquem que aquela área está prestes a ter um surto de zika ou de qualquer outra doença transmissível.

Inteligência artificial

Se, por exemplo, o número de mosquitos aumentou significativamente após um período de chuvas e elevação da temperatura, a tecnologia poderá indicar que uma região que passa por condições climáticas muito parecidas terá grandes chances de enfrentar uma epidemia similar à do primeiro local examinado.

Mas esse é um exemplo bastante simplificado. A variedade de dados coletados para a análise é imensa. Tudo começa com o processo de captura: a armadilha pode atrair insetos voadores de vários tipos, mas só pega aqueles que apresentam determinado padrão de batidas de asas — o modo de voo varia de espécie para espécie. Cada compartimento da armadilha confina apenas um mosquito, logo, as chances de erro acabam sendo pequenas.

Para fazer seu trabalho, a armadilha conta com dois pequenos processadores alimentados com baterias. Os dados podem ser enviados em tempo real para as nuvens. Esse é outro diferencial: em vez de semanas ou meses, as análises podem ser realizadas em poucas horas. Quanto antes um risco de surto for identificado, mais eficazes tendem a ser as medidas de contenção.

É importantíssimo que não haja falhas na captura dos mosquitos. Para isso é que serve o sistema de aprendizagem de máquina: cada inseto capturado serve de treino, logo, a armadilha fica mais precisa com o passar do tempo.

Mas não é só na armadilha que há sofisticação. Os mosquitos são enviados ao laboratório e, ali, os pesquisadores fazem análises para identificar qual tipo de vírus eles carregam, por exemplo. Posteriormente, os dados de cada análise são filtrados por um sistema que faz classificação das características analisadas de modo semelhante ao trabalho que os buscadores realizam para listar páginas.

Desse modo, fica relativamente fácil saber que tipo de vírus está mais presente em cada região e quando os insetos mais perigosos começaram a aparecer, por exemplo. Dá até para saber de quais animais os mosquitos se alimentaram: cientistas desconfiam que pássaros podem estar ajudando a disseminar o vírus do Nilo Ocidental em Houston; esse é o tipo de informação que poderá ser obtido com o Project Premonition.

Pode mesmo?

Só testando para termos certeza, é lógico. Mas não demorará muito: a Microsoft iniciou um projeto piloto neste mês em Houston para avaliar a armadilha em condições reais, isto é, fora dos limites do laboratório.

O plano é espalhar várias armadilhas em pontos estratégicos. Para isso, a Microsoft Research cogita até usar os drones do projeto, afinal, essas aeronaves são um meio fácil e barato de levar armadilhas para locais de difícil acesso.

Ainda que esteja cedo para termos certeza sobre a eficácia do projeto, é inegável que abordagem do Project Premonition é inteligente. Primeiro porque a tecnologia poderá ser utilizada para rastrear vários tipos de doenças, conforme a necessidade. Segundo porque a iniciativa se foca em uma necessidade mais imediata: em vez de acabar com a doença, alertar autoridades para impedir que um número elevado de pessoas seja infectado.

Erradicar a Zika e outras doenças é importante, claro, mas essa é uma meta a ser perseguida no longo prazo. Praticamente todo organismo vivo desenvolve estratégias de adaptação às adversidades. Com mosquitos e vírus não é diferente. Esse é apenas um dos fatores que dificulta — ou impossibilita — a erradicação. Assim, enfraquecer focos de propagação acaba sendo a estratégia mais eficiente para o agora.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.