Nova carreira no velho continente
Mudança de lar: como os brasileiros de TI estão iniciando suas carreiras na Europa e adaptando-se à nova realidade
Mudança de lar: como os brasileiros de TI estão iniciando suas carreiras na Europa e adaptando-se à nova realidade
Já não é mais tão incomum encontrar profissionais que trabalham ou prestam serviços para empresas internacionais, mesmo vivendo no Brasil. E quando somente isso não é o suficiente? Seja com propostas de emprego ou aventurando-se nessas novas possibilidades, alguns escolhem se expandir e viver fora do Brasil. Na Europa, cidades como Berlim (Alemanha), Amsterdã (Holanda) e Dublin (Irlanda) são alguns dos grandes centros para profissionais de TI.
Rafael Tauil e Daniel Blei são dois profissionais brasileiros que escolheram o velho continente para exercer funções de TI, mas as histórias e motivos que os levaram são bem diferentes. Acompanhe abaixo todas as características dessa mudança, documentação, emprego, preconceito e diferenças culturais enfrentados para conseguir a adaptação necessária nessa nova vida.
Rafael Tauil, 38 anos, é um profissional de TI com uma carreira de mais de 10 anos no Brasil e hoje trabalha e habita em Amsterdam. Em entrevista ao Tecnoblog, ele conta qual foi o motivo de sair do país para dar prosseguimento a sua carreira no exterior.
“Era uma coisa que já estava nos planos, meu e de minha esposa. A qualidade de vida no Brasil é muito complicada e aqui temos muito mais oportunidades no mercado. Eu trabalhava em uma empresa americana, mesmo morando no Brasil, após seu fechamento comecei a procurar locais fora do país para buscar novas oportunidades.”
Não foi tão fácil assim. Rafael conta que fez uma viagem pela Europa para conhecer as principais candidatas: Amsterdã, Dublin e Berlim. O clima que agradou mais o casal foi Amsterdã. A facilidade de mudança veio pelo fato de Rafael ter cidadania italiana, reduzindo os problemas com a questão da imigração.
Destino escolhido, ele organizou currículos no Brasil buscando a mudança definitiva, com a esposa recém-formada, partindo para desbravar terras europeias. As oportunidades no mercado de TI são muito boas: em um período não muito longo já conseguiu arrumar trabalho e hoje está no seu terceiro emprego em Amsterdam. Sua esposa também conseguiu trabalhar como psicóloga dentro da Holanda.
A história de Daniel Blei, 32 anos, é um pouco diferente mas não menos interessante. Em entrevista ao Tecnoblog, Daniel conta como foi sua mudança.
“Eu sou formado em som pela Estácio e músico, quando me mudei para Dublin a ideia era melhorar meu inglês e continuar trabalhando com som, gravando minhas músicas. Trabalhava em um restaurante para me manter, mas vi que o mercado era tão fechado quanto no Brasil e tinha-se muito preconceito por minha nacionalidade”.
Daniel conta que seu visto de estudante estava no fim e já haviam se passado 2 anos e meio. Como não queria terminar sua experiência fora do país, buscou alternativas para ter permitida sua permanência. A solução foi encontrar na Irlanda o Higher Diploma, uma modalidade semelhante à pós-graduação para quem quer mudar de carreira.
Daniel se encaixou nos pré-requisitos por apresentar experiências anteriores em sua outra carreira tecnológica. A princípio, se inscreveu para ser programador, mas só conseguiu entrar para análise de dados. Foi um ano intenso, pois o curso tem o equivalente a uma carga horária de 4 anos em apenas 1.
“Para estrangeiro não é liberado o curso noturno, então tinha que fazer manhã/tarde e trabalhar no restaurante à noite, foi cansativo. A maior parte dos meus estudos foi dentro do trem, indo e voltando nos trajetos”.
Após a conclusão, Daniel conseguiu seu visto de trabalho e ingressou no mercado de TI. Hoje trabalha na mesma área que sua esposa irlandesa e segue vivendo no país que adotou.
Quando pensamos em diferenças culturais, segundo Rafael Tauil em entrevista ao Tecnoblog, o que mais chamou a atenção em Amsterdã foi a questão da pontualidade.
“8 horas são 8 horas, poderia estar tudo tranquilo, na hora marcada aparecia alguém para a reunião. Mas, da mesma forma que são pontuais para começar, também são para fechar o trabalho. Parece até funcionário público, às 17h todo mundo desconecta não importando onde parou. Não existe a cultura workaholic na Holanda”.
No quesito alimentação, Rafael conta que de fato são muito diferentes do Brasil. Porém, não chega a ser uma grande barreira, pois a comunidade é muito grande de brasileiros, tendo inclusive mercados com produtos de nosso país.
“Além dos mercados, muitos brasileiros ganham a vida preparando e fornecendo comida para a própria comunidade, de vez em quando dá pra matar a saudade de um salgadinho”.
Quanto a fazer amizades, na Holanda é mais complicado. As pessoas acabam se unindo pela característica comum, ser brasileiro, mas nem sempre funciona. O mais comum é criar alguns laços com colegas de trabalho que viram amigos, conta Rafael.
Daniel Blei não encontrou as mesmas dificuldades estando na Irlanda. Segundo ele, os irlandeses são até bem parecidos com os brasileiros, festivos, comunicativos e gostam de bebedeira.
“É comum, uma vez fomos ao pub e em menos de 2 horas já estávamos conversando com pessoas desconhecidas em nossa mesa, como se fossemos velhos amigos.”
A comunidade brasileira na Irlanda também é numerosa, segundo Daniel, mas pela característica dos próprios nativos é mais fácil se enturmar. A mesma facilidade não é encontrada quando o assunto é emprego, sendo estrangeiro, principalmente de fora da Europa, acabam sofrendo preconceito para trabalhar na sua carreira. “É uma barreira difícil de transpor, mas assim que demonstramos nosso valor tudo fica normal”, conta Daniel.
A maior prova de que é mais fácil se relacionar com os nativos da Irlanda é que Daniel conheceu, namorou e casou com sua atual esposa que é daquele país.
A resposta é positiva em ambos os casos. Tanto Rafael quanto Daniel concordam que mesmo pagando as taxas sobre o salário, que não são baixas, a sensação de ver que o dinheiro é empregado de volta na sociedade para o seu bem estar é perceptível.
Além disso, Daniel diz que na Irlanda o salário mínimo é por volta de 1.500 euros, e a locação de uma casa com 1 quarto, gira em torno de 1000 euros, dependendo da localização. Para os solteiros no início da aventura, um quarto dentro de uma casa pode ser alugado por 600 euros, é normal as pessoas morarem juntas para dividir as despesas. “É tranquilo viver de forma digna na Irlanda com o salário mínimo”. Os valores de salário normalmente variam pouco, mas todos conseguem viver de forma equilibrada.
Na Holanda, Rafael diz que com os salários médios se vive muito bem, apesar do aluguel ser bem mais caro — segundo ele, é o maior custo dentro do país.
As duas histórias dos profissionais de TI que atuam no exterior mostram que não é tão impossível e inimaginável trabalhar e viver em outros países trabalhando na sua área. A maior barreira é vencer a burocracia, que é grande quanto às documentações necessárias para iniciar uma nova vida no velho continente. Com pesquisas e fazendo um planejamento, é viável e promissor fazer sua carreira em outros países.