Quem precisa gastar dinheiro com rede própria no futuro da internet fixa?

As redes neutras trazem desafios e oportunidades para o mercado de banda larga. Provedores regionais são destaque: somados, já são maiores que as três gigantes

Josué de Oliveira
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• Atualizado há 11 meses
Banda larga na era do compartilhamento (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)
Banda larga na era do compartilhamento (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

O assunto das redes neutras é um tanto curioso.

Estamos falando aqui do modelo em que operadoras e provedores alugam uma infraestrutura já instalada, e a partir dela oferecem seus serviços. A banda larga fixa é a principal modalidade. Um provedor local, por exemplo, pode ofertar pacotes numa determinada região; o cliente contrata o provedor, mas, na prática, estará usando a infraestrutura de outra empresa. Daí o aspecto de neutralidade.

Dadas essas características, pode ser difícil para o cliente entender quem de fato é o responsável por sua internet. É bem provável que a maioria jamais saiba que o provedor contratado não é o responsável pela rede, sendo apenas mais um locatário que compartilha da mesma.

O interessante é que, na prática, isso não necessariamente é um problema para o fornecedor da rede. O que importa de fato é que a infraestrutura seja robusta, de modo que os clientes — tanto os outros provedores quanto o usuário final — não tenham motivos se preocupar. No fim das contas, isso é o que garante o sucesso do modelo.

Redundância é a chave na rede neutra

A maior empresa de rede neutra do país é a V.tal, nascida da antiga divisão de fibra óptica da Oi. A provedora tem em seu favor toda a infraestrutura da antiga operadora nacional, com cerca de 400 mil quilômetros de fibra instalada. Rafael Marquez, diretor de marketing da V.tal, conta ao Tecnocast que é essa capilaridade que torna possível atender muitos clientes no país inteiro mantendo a estabilidade.

Isso significa que a rede precisa ser redundante, de modo que eventuais problemas em algum trecho — um acidente que danifique uma extensão da fibra instalada, por exemplo — possam ser resolvidos a partir de outros trechos.

A gente tem sempre uma redundância. Ou seja, tem pelo menos mais um trajeto para chegar no domicílio, para que se um tiver algum problema, o outro segura.

Rafael Marquez

A empresa também conta com equipes de campo para atuar na eventualidade de rompimentos maiores — embora estes sejam mais raros.

Uma oportunidade para quem é pequeno

Um dos pontos mais enfatizados quando se fala de redes compartilhadas são as oportunidades abertas para novos provedores. Sem a necessidade de construir a própria infraestrutura, mais players podem se arriscar no mercado. Nesse contexto, os provedores regionais se destacam.

Segundo Rafael Marquez, a fatia de mercado ocupada por provedores locais é maior do que a fatia dos grandes provedores tradicionais. Nesse sentido, tornaram-se protagonistas num país onde a inclusão digital ainda é um desafio enorme. A presença de uma rede neutra robusta e nacional oferece a estas empresas ainda mais oportunidades de crescimento.

É uma otimização sob a ótica de investimento, mas é também um acelerador de entrada em nossos mercados. Permite que um provedor do interior do Nordeste possa se lançar numa capital do Sul do país, sem precisar ter uma presença de rede regional, porque a nossa fibra compartilhada está em todos os estados do Brasil.

Rafael Marquez

Sob esse aspecto, o Brasil é um ponto fora da curva. Marquez aponta que, na maioria dos países onde o modelo de redes neutras é encontrado, sua implementação é resultado de intervenções do governo ou órgãos reguladores. No Brasil a história é diferente: as redes neutras se viabilizaram a partir de uma visão de mercado. A multiplicação de provedores locais mostra a necessidade por internet de alta velocidade.

A tendência, portanto, é que a modalidade neutra cresça cada vez mais. Novos players se apresentam, operando sobre a rede da V.tal, enquanto outras operadoras nacionais também se arriscam como provedores neutros.

Para Marquez, isso é esperado. Assim como a noção de posse foi substituída pela de compartilhamento em áreas como aplicativos de carona e coworkings, ele entende que a mesma lógica faz sentido no campo da banda larga.

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Josué de Oliveira

Josué de Oliveira

Produtor audiovisual

Josué de Oliveira é formado em Estudos de Mídia pela UFF. Seu interesse por podcasts vem desde a adolescência. Antes de se tornar produtor do Tecnocast, trabalhou no mercado editorial desenvolvendo livros digitais e criou o podcast Randômico, abordando temas tão variados quanto redes neurais, cartografia e plantio de batatas. Está sempre em busca de pautas que gerem conversas relevantes e divertidas.

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