It Takes Two mostra que certas fórmulas, ainda que pareçam batidas, podem render bons momentos e situações que vão além da mera jogabilidade. Envolvendo bastante sentimento, o game de PC, PS4, PS5, Xbox One e Xbox Series X|S. Pode parecer piegas, mas é sempre importante lembrar em como uma mídia tão interativa ainda pode emocionar bastante, mesmo após inúmeros jogos “apelarem” para o recurso.
O mais curioso é que, no caso de It Takes Two, estes momentos emotivos venham de uma das mentes mais polêmicas e inusitadas da indústria, de acordo com alguns. O produtor Josef Fares ficou famoso após lançar o elogiado Brothers: A Tale of Two Sons, mas só atingiu estrelato mundial após xingar o Oscar, da Academia de Cinema, durante a premiação The Game Awards, em 2017, enquanto preparava o lançamento de A Way Out.
Com It Takes Two, Fares e sua equipe seguem a mesma fórmula que já deu certo nos dois anteriores: um game focado em cooperação, sempre com dois personagens em tela. Sim, é necessário jogar com outra pessoa, seja online ou de maneira local. Este é um game que não te dá muitas escolhas neste sentido, mas é pelo melhor, te garanto.
História simples e cativante
Contar uma história boa é para poucos e contar isso em pouco tempo é para ainda menos pessoas. It Takes Two se passa nos dias atuais e mostra como uma possível separação de um casal, Cody e May, pode afetar a vida de sua filha. Enquanto tenta reverter a situação, algo mágico acontece e seus pais são transformados em bonecos de pano – e agora precisam trabalhar juntos para voltar a serem humanos e conquistar a confiança da filha.
O mais impressionante, contudo, é que a situação é completamente explicada nos primeiros cinco minutos de jogo.
E não é uma explicação qualquer, é algo com detalhes, que te faz se importar com os personagens, que cria ligações de sentimento entre o jogador e o game, que te coloca em uma situação de empatia em relação ao que acontece na tela. Em meros cinco minutos. Isso é algo que poucos narradores conseguem em obras de entretenimento, mas aqui acontece – e funciona.
“História simples e cativante” é até uma grande simplificação. It Takes Two te joga em um redemoinho de emoções constante, ao longo de sua aventura, com a narrativa se desenvolvendo conforme as fases avançam e conforme descobrimos mais da vida do casal protagonista e de sua filha.
Quase natural
Uma coisa que quero destacar com bastante veemência nesta pequena opinião sobre It Takes Two está na jogabilidade. Ela não é tão simples quanto parece, mas, ao mesmo tempo, é simples o suficiente para deixar os jogadores satisfeitos.
It Takes Two é amigável a qualquer tipo de jogador, de qualquer nível de habilidade. Ter uma segunda pessoa ao lado pode ajudar na hora de trocar dicas e tudo o mais, em especial por conta de quebra-cabeças que surjem pelo caminho – e que precisam ser resolvidos pelos dois usuários, em conjunto. Tudo começa muito simples, mas a curva de dificuldade sobe rápido e o game passa a exigir uma maior habilidade, e agilidade, em muitos casos.
Mesmo assim, mecanicamente, It Takes Two facilita a vida de quem joga. Seus comandos não são mais variados do que correr, pular, dar pulo duplo ou agarrar coisas, por exemplo. Chega a ser um pouco natural fazer tudo isso depois de um tempo e ficará fácil para que os jogadores se sintam no corpo dos próprios bonecos enquanto fazem piruetas pelo ar ou tentar resolver um obstáculo junto.
Enquanto isso, o game alterna entre momentos de ação com outros mais calmos e até mesmo alguns recheados de bom humor. Um personagem que toma a forma do livro do amor ensina os jogadores o que eles devem fazer em cada cenário e desafiam as pessoas a concluírem seus objetivos dentro das fases.
Tudo isso é regado por gráficos que estão bem acompanhados para o que o jogo propõe. Há um ar meio “Pixar” por aqui, ainda que não seja exatamente realista ou extremamente detalhado. Os bonecos de pano que servem de personagens funcionam muito bem e os efeitos visuais, ao menos na nova geração, ficaram muito bonitos.
Joguei todo o game no PS5, acompanhado no cooperativo local e também por meio do cooperativo online – e as duas funções se comportaram muito bem. Jogar online talvez funcione melhor para algumas pessoas, já que localmente a tela fica sempre dividida, o que incomoda quem não está acostumado com este tipo de visualização.
Porém, no multiplayer online, o jogo funciona sem engasgos e se comporta como um título de cooperação em tempo real deveria se comportar. Fluído, amigável e eficaz.
O Passe de Amigo
Por fim, outra novidade que It Takes Two apresenta e pode ser bem interessante: citamos o multiplayer online, que normalmente necessita que cada jogador compre uma cópia do game, mas aqui existe algo chamado de Passe de Amigo.
Com o Passe de Amigo você pode convidar qualquer pessoa na sua lista de amigos do console ou plataforma no PC para jogar online. A pessoa convidada vai baixar uma “cópia inicial” do game e vai poder jogá-lo inteiro com você, que comprou. Se nenhum dos dois usuários tiver comprado o game, é possível jogar a primeira fase e experimentar, como se fosse uma demonstração.
É uma solução inteligente e interessante, para quem espera jogar sem gastar tanto e poder contar com amigos para isso – dá até para dividir o custo, se assim desejar.
Vale a pena?
Muito. It Takes Two é sensível, diferente, único e bonito. Vale muito a pena conferir o que a EA, o estúdio Hazelight e o produtor Josef Fares trouxeram aos jogadores desta vez. Quem já gostou de Brothers e de A Way Out vai se sentir em casa em termos de jogabilidade, mas aqui o clima é outro, mais dramático em termos familiares e com muitos quebra-cabeças para resolver em cada fase que bem pela frente.
It Takes Two merece sua atenção e pode ser uma boa pedida para quem quer um jogo para aproveitar no bom e velho conforto do sofá, especialmente em uma época em que não estamos podendo sair de casa.