Bem-vestido no metaverso: a indústria trilionária da moda e os wearable NFTs
Metaverso e mercado da moda convergem, criando os wearable NFTs, roupas digitais que podem ser usadas no metaverso e em realidade aumentada
Metaverso e mercado da moda convergem, criando os wearable NFTs, roupas digitais que podem ser usadas no metaverso e em realidade aumentada
Com a popularização do metaverso, os NFTs, ou tokens não fungíveis, vêm ganhando cada vez mais espaço no mercado. É através dessa tecnologia que podemos comprar, vender e autenticar posses nesses mundos virtuais. Por isso, mais categorias de tokens estão surgindo, trazendo novos setores para o jogo. Um grande exemplo são os chamados “wearable NFTs”, ou NFTs vestíveis, que trazem a indústria da moda para o metaverso.
No início de dezembro, os analistas de mercado Matthew Kanterman e Nathan Naidu, da Bloomberg Intelligence, disseram que o metaverso promete construir um mercado de US$ 800 bilhões. Enquanto isso, a indústria da moda já é um setor avaliado em cerca de US$ 3 trilhões, de acordo com estimativas da Fashion United.
Juntando os dois, temos um novo mercado com um imenso potencial econômico e muita sinergia conceitual. Se dentro da moda a marca já é algo que valoriza assustadoramente uma peça de roupa, o mesmo pode ser aplicado aos NFTs. Além disso, esses ativos digitais também se prezam de sua colecionabilidade para agregar valor, outro aceno ao mundo da moda.
Já temos alguns exemplos dessa convergência. A grife Dolce & Gabbana lançou em outubro sua própria coleção de NFTs de moda digital, cada um custando os olhos da cara. Em um dos leilões, um conjunto de peça física e sua respectiva versão digital foi vendido por mais de US$ 1,2 milhão. No total, a coleção movimentou quase US$ 6 milhões.
Cinco das peças foram criações físicas, desenhadas e executadas pela Dolce & Gabbana e com modelos e iterações virtuais para o metaverso. As outras quatro peças eram exclusivamente digitais. Com base em esboços dos designers Domenico Dolce e Stefano Gabbana, os modelos digitais e tokens não fungíveis foram construídos pela UNXD e registrados no blockchain da Polygon.
O mais interessante de toda essa história é que, mesmo com pequenas interações no ambiente virtual e quase nenhuma função prática, esses NFTs conseguiram arrecadar milhões. A escassez, exclusividade e a marca Dolce & Gabbana foram mais que o suficiente para elevar o preço dos ativos. No entanto, o mercado em ascensão de wearable NFTs vai além. Ele se vale de tudo isso em conjunto com as infinitas possibilidades de customização e interação no metaverso.
Estamos literalmente falando de NFTs vestíveis, que podem ser usados por avatares dentro de ambientes virtuais ou sobrepostos a você através da realidade aumentada. As possibilidades são infinitas e as marcas já entenderam o potencial dessa indústria.
Em entrevista ao Yahoo Finance, Megan Kaspar, um dos membros do grupo Red DAO que esteve por trás de lances vencedores para os NFTs da Dolce & Gabbana, compartilhou suas perspectivas para a chamada “moda digital”:
“A indústria da moda sozinha já vale US$ 2,7 trilhões e prevemos que esse valor no mínimo dobrará nas próximas duas décadas por causa da moda digital… Os wearables dão uma nova utilidade à moda em geral e levam esse setor a um nível inédito de sustentabilidade, onde toda peça que você veste, como os brincos que eu uso no mundo digital, não é produzida fisicamente.”
A visão de Kaspar vai muito além do que existe hoje em metaverso e toca na ficção científica. Imagine um futuro onde todos usam roupas físicas simples para que óculos de realidade aumentada sobreponham cada pessoa com wearable NFTs extravagantes.
Podemos pensar também em um cenário mais palpável, no qual o metaverso se tornou predominantemente usado para interações sociais e mais importa o que você veste digitalmente do que fisicamente. Pensando um pouco, essas ideias tiradas de história de ficção científica não são mais tão absurdas.
Claro que as empresas do mundo da moda já estão considerando tudo isso. Afinal, essa migração do físico para o digital significa abrir mão da matéria-prima e dos custos de mão de obra associados à produção de roupas. Marcas e designers além da Dolce & Gabbana já estão oferecendo esse tipo de produto.
A DressX, uma startup do mercado de wearables, vem trabalhando com designers para oferecer roupas 3D para realidade aumentada. Lançado ainda no ano passado, o projeto já atraiu milhões de dólares de investidores. A empresa possui um aplicativo que permite aos usuários “experimentar” diferentes roupas digitais.
Mais recentemente, a DressX fechou uma parceria com a plataforma de Farfetch para permitir que influenciadores promovam roupas digitalizadas das últimas coleções de Off-White, Balenciaga, Dolce & Gabbana e outros. A cofundadora da companhia, Natalia Modenova, conversou com o Yahoo Finance sobre o assunto.
Ela destacou que os wearable NFTs voltados para personagens de jogos e avatares de metaversos são os exemplos mais reais que temos hoje de moda digital. Esses ativos já movimentam muito dinheiro dentro de mundos digitais, como The Sandbox, por exemplo. No entanto, Modenova acredita que esse conceito já pode ser aplicado para a realidade de quem trabalha home office.
“Todos nós temos nossos próprios corpos e não precisamos que nenhum tipo de avatar apareça na tela. Todos temos algum tipo de dispositivo que vai nos ajudar a nos mostrar na tela e é por isso que essa tecnologia abre a maior das oportunidades”.
Quer dizer, através da tecnologia que já existe da DressX você pode estar de pijama em casa e aparecer na chamada de vídeo com uma roupa completamente diferente, sobreposta a você.
A moda digital mal nasceu e já promete ser uma força descomunal. No entanto, seu apelo parece ser totalmente estético e sem funções práticas para o consumidor, com NFTs vestíveis e colecionáveis voltados exclusivamente para a customização da nossa aparência no digital.
Já temos exemplos relativamente próximos disso tudo no universo de games, com ou sem NFTs. Ultimamente, todo jogo vende roupas para personagens, seja no formato de DLCs ou em lojas in-game. Basta entrar em qualquer MMORPG que você verá um desfile de moda digital.
No final das contas, comprar roupas físicas sempre será necessário (ninguém vai andar por aí pelado), enquanto as roupas digitais e os wearables NFTs chegam mais como uma grande oportunidade para empresas lucrarem sobre produtos muito mais baratos de se produzir.
Com informações: Yahoo Finance, The New York Times