Apple perde US$ 70 bilhões em valor de mercado após vendas fracas de iPhone

Apple passa por "tempos difíceis", diz CEO Tim Cook; empresa não vai usar forças externas como desculpa

Felipe Ventura
• Atualizado há 3 anos
iPhone XR (imagem: André Fogaça/Tecnoblog)
iPhone XR

A Apple despencou cerca de 10% na bolsa de valores nesta quinta-feira (3) após confirmar que o iPhone teve vendas fracas no final do ano. Ela perdeu mais de US$ 70 bilhões em valor de mercado. O CEO Tim Cook diz em carta aos funcionários que a empresa passa por “tempos difíceis”, mas que não vai usar fatores externos como desculpa.

Como nota o TechCrunch, as ações da Apple caíram 38% desde outubro. Seu preço já vinha em uma trajetória de queda: a empresa deixou de valer US$ 1 trilhão após divulgar os resultados financeiros do terceiro trimestre, em que as vendas de iPhone estagnaram. Hoje, seu valor de mercado está em cerca de US$ 675 bilhões.

A Apple deixará de informar o número de unidades comercializadas do iPhone — mas não poderia esconder a situação ruim. Cook adiantou que, no quarto trimestre, a receita ficará abaixo do esperado: US$ 84 bilhões, contra a estimativa inicial de US$ 89 bilhões. O motivo? O iPhone vendeu menos que o esperado, especialmente na China.

Vendas do iPhone caíram em países emergentes

Cerca de 60% da receita da Apple dependem do iPhone, por isso qualquer oscilação nas vendas afeta fortemente a empresa. Cook listou alguns motivos para o resultado fraco:

  • “aumentos de preço devido ao dólar forte”: o iPhone está muito caro em alguns países;
  • programa de substituição de baterias: clientes da Apple em países desenvolvidos trocaram a bateria de seus iPhones a um preço reduzido, o que restaura o desempenho do processador e desmotiva upgrades;
  • China: a economia do país está desacelerando, e deve ser afetada pelas tensões comerciais com os EUA.

O desempenho da Apple em outros países emergentes já não estava bom: Cook mencionou no ano passado que as vendas de iPhone não cresceram na Índia e até caíram no Brasil; a demanda também enfraqueceu na Rússia e na Turquia.

Ações AAPL caem quase 10% na bolsa de valores Nasdaq

Na carta aos investidores, o CEO mencionou algumas notícias positivas sobre a Apple. As categorias fora do iPhone — Serviços, Mac, iPad e Wearables — cresceram quase 19% em um ano. Os Serviços (como App Store e Apple Music) chegaram a um faturamento recorde de US$ 10,8 bilhões, em parte devido à maior base instalada de dispositivos ativos.

Os wearables cresceram quase 50% em um ano, graças à demanda forte pelo Apple Watch e AirPods; a receita da divisão Mac cresceu com os novos MacBook Air e Mac mini; enquanto as vendas do iPad cresceram em dois dígitos após o lançamento do novo iPad Pro.

Tim Cook diz que Apple passa por “tempos difíceis”

O CEO também escreveu uma carta aos funcionários, à qual a Bloomberg teve acesso. Cook diz que as vendas do iPhone ficaram abaixo do esperado “devido a uma série de fatores”, mas que não vai usar forças externas como desculpa.

Ele afirma que a Apple passa por “tempos difíceis”, mas que “este momento nos dá a oportunidade de aprender e agir”. E, apesar de tudo, o executivo está orgulhoso “das inovações que estamos oferecendo aos nossos clientes com o iPhone XR, iPhone XS e iPhone XS Max”.

Foto por Mike Deerkoski/Flickr

Tim Cook

Eis a carta na íntegra:

Equipe,

Feliz Ano Novo – espero que todos tenham descansado e aproveitado o tempo com seus entes queridos durante as festas de fim de ano.

Esta tarde, emitimos uma carta aos investidores da Apple explicando que estamos revisando nossas orientações financeiras para o quarto trimestre. Eu peço que você leia. Como você verá, nosso déficit de receita no primeiro trimestre é por causa do iPhone, principalmente na China.

Embora estejamos desapontados por estarmos aquém da nossa meta de receita trimestral, nosso primeiro trimestre fiscal também foi recorde para a receita da Serviços, Wearables e Mac. A receita do iPad cresceu dois dígitos em relação ao trimestre do ano anterior, e as ativações do iPhone nos EUA e no Canadá estabeleceram novos recordes do Dia de Natal.

Esperamos estabelecer recordes históricos de receita nos principais mercados, incluindo EUA, Canadá e México, países da Europa Ocidental como Alemanha e Itália, e países da região Ásia-Pacífico como a Coreia do Sul e o Vietnã. Nossa base instalada global de dispositivos ativos também atingiu um novo recorde, refletindo a lealdade de nossos clientes e a apreciação deles pelo trabalho que você faz.

Estamos extremamente orgulhosos das inovações que estamos oferecendo aos nossos clientes com o iPhone XR, iPhone XS e iPhone XS Max. Estes são, sem dúvida, os melhores iPhones que já fizemos. Nós não estabelecemos um novo recorde para as vendas do iPhone no primeiro trimestre, no entanto, devido a uma série de fatores – alguns macroeconômicos, e alguns específicos da Apple e da indústria de smartphones.

Forças externas podem nos empurrar um pouco, mas não vamos usá-las como desculpa. Nem vamos apenas esperar até que elas melhorem. Este momento nos dá a oportunidade de aprender e agir, de nos concentrarmos em nossos pontos fortes e na missão da Apple – entregar os melhores produtos do mundo para nossos clientes e fornecer a eles um nível incomparável de serviço. Nós gerenciamos a Apple para o longo prazo, e sempre saímos mais fortes de tempos difíceis.

Com isso em mente, por favor, junte-se a mim para uma reunião geral na manhã de quinta-feira às 9h30. Confira o AppleWeb para mais detalhes. Devido à construção do Apple Park, nós vamos nos reunir no Town Hall no campus do Infinite Loop. Junte-se a nós pessoalmente ou através de transmissão ao vivo pela AppleWeb. Terei mais detalhes sobre o trimestre e aguardo suas opiniões e perguntas.

Espero ver você lá.

Tim

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.