Bot no Twitter expõe empresas que celebram Dia da Mulher, mas pagam mais aos homens

Gender Pay Gap Bot expõe entidades que celebram o Dia Internacional da Mulher, mas pagam a elas menos do que aos homens

Pedro Knoth
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Hoje, no Dia Internacional da Mulher (8), um robô no Twitter está compartilhando publicações de entidades que simpatizam com a data e mostram iniciativas de combate à desigualdade de gênero. Mas há um detalhe: o bot republica os posts com uma legenda que revela a diferença dos salários entre homens e mulheres que trabalham naquela companhia, expondo dados que contrariam o discurso.

Como em todo 8 de março, diversas das empresas, ONGs e faculdades fazem postagens declarando seu apoio ao movimento feminino. Mas o Gender Pay Gap Bot está atento para desmascarar postagens com emojis de rosas e hashtags bonitinhas.

Quando o bot é ativado, significa que existe dentro da empresa uma diferença no salário pago por hora entre homens e mulheres. Em alguns casos, empresas de tecnologia, como a McAffe, pagam 29,7% a menos para funcionárias do que para funcionários. A exemplo de uma escola britânica, esse percentual pode chegar a 81%.

O Gender Pay Gap Bot não faz distinção: por enquanto, o programa questionou a diferença salarial de gênero em posts de bancos, delegacias de polícia, gravadoras de música, caridades, partidos políticos, veículos de imprensa; é uma lista extensa. Algumas chegaram a deletar seus tweets devido à exposição.

A Vice entrevistou as pessoas por trás do Gender Pay Gap Bot. Francesca Lawson, gerente de mídias sociais, e Ali Fensome, desenvolvedor de software, criaram o robô no meio da pandemia, em 2021, como um “projeto do isolamento”. Ele foi programado uma semana antes do Dia Internacional das Mulheres do ano passado.

Entre 2021 e 2022, Lawson e Fensome aperfeiçoaram o código e captação de dados do robô, que usa uma base de informações compiladas pelo próprio governo britânico para chegar à diferença de salários entre homem e mulher em empresas do Reino Unido.

Em 2017, o governo britânico determinou que companhias com mais de 250 funcionários divulgassem informações sobre remuneração por gênero. O site é público, mas o bot torna os dados mais acessíveis para uma audiência de 120 mil seguidores — só no dia de hoje, a conta ganhou mais de 60 mil usuários.

“Se nós não confrontarmos os dados e agirmos sobre eles, então o problema só vai durar para sempre”, disse Lawson. “Nós criamos o bot para ter certeza de que isso não seja esquecido — para que fique em evidência. Ao falar sobre a desigualdade salarial, podemos começar a fazer pressão nas empresas para que mudem suas práticas de contratação, pagando mais a todos”. Ela completa:

“Não é apenas o caso de ter mais mulheres em cargos de liderança. Isso tem que vir junto com a certeza de remuneração correta e justa aos outros cargos ocupados por elas dentro das organizações.”

Como funciona o bot que denuncia desigualdade salarial

O Gender Pay Gab Bot toda vez que uma entidade publica um comemorando o Dia Internacional da Mulher. Lawson explica que há um código que procura o nome da empresa na base de dados do sistema do governo britânico, e tenta comparar a informação com o nome de usuário no Twitter. A partir de um resultado positivo, o robô analisa palavras-chave e tenta descobrir se aquele post celebra a data.

Os dados do governo britânico sobre desigualdade salarial são comparados pelo bot em uma planilha no formato CSV; lá estão informações que datam desde a criação da página.

Mas nem tudo é negativo: o bot também analisou tweets de entidades que pagam aproximadamente o mesmo salário para homens e mulheres, como no caso da Brigada de Incêndio de Londres — a diferença é de 2,7%.

Lawson se diz surpresa com a fama de sua criação:

“Obviamente, estou satisfeita com as pessoas divulgado o bot e usando-o como uma forma de desmascarar comemorações fajutas do Dia Internacional das Mulheres. É ótimo ver tanta gente engajando com o programa e sentindo que ele pode servir para o bem.”

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Pedro Knoth

Pedro Knoth

Ex-autor

Pedro Knoth é jornalista e cursa pós-graduação em jornalismo investigativo pelo IDP, de Brasília. Foi autor no Tecnoblog cobrindo assuntos relacionados à legislação, empresas de tecnologia, dados e finanças entre 2021 e 2022. É usuário ávido de iPhone e Mac, e também estuda Python.

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