É assim que séries e filmes da Netflix e Amazon são pirateados

Mesmo com proteção de DRM, grupo consegue extrair vídeos de plataformas de streaming

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
pirataria

Até hoje, é muito comum que cópias piratas de filmes e séries sejam extraídas de mídias de DVD e Blu-ray. Mas há uma parcela importante de vídeos que, mesmo com todas as proteções disponíveis, são capturadas com sucesso de serviços como Netflix e Amazon Prime Video. A pergunta é: como?

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O TorrentFreak tratou de descobrir. Em um especial dividido em três partes, duas das quais já foram publicadas (esta é a primeira parte), o veículo revela como os piratas agem para burlar a criptografia dos serviços de streaming.

Para tanto, o TorrentFreak entrevistou, sob condição de anonimato, um integrante do The Scene, uma complexa organização (uma espécie de “grupo formado por vários grupos”) que atua na obtenção e distribuição de vídeos pirateados.

Convenientemente chamado de Fonte (Source) pelo veículo, esse integrante deu uma visão geral do processo. Ele começa explicando que, quando assistimos a vídeos de plataformas de streaming, baixamos blocos desse conteúdo para o computador (ou outro dispositivo). O que o grupo faz, basicamente, é capturar esses blocos e decodificá-los.

É óbvio que o processo envolve várias etapas. Começa pelos acessos a serviços de streaming, que são pagos com cartões de presente a partir de contas criadas com dados falsos, uma clara maneira de evitar rastreamento ou identificação dos responsáveis.

Netflix

Via de regra, o conteúdo baixado é codificado em contêineres MP4. A simples tentativa de reproduzir esses arquivos fora da plataforma de streaming fará uma tela em branco aparecer no player — é o mecanismo de DRM (Digital Rights Management) em ação.

Fonte diz que a tecnologia de DRM mais usada e difícil de quebrar é o da Widevine. Para conseguir burlar essa proteção, o The Scene desenvolveu ferramentas especializadas que só podem ser acessadas por alguns poucos integrantes do grupo.

Ainda de acordo com Fonte, algumas dessas ferramentas têm função tão crítica que, para garantir que não vazem, elas só funcionam em determinados servidores e são protegidas por hardware.

Provavelmente, tamanho cuidado é uma forma de evitar que o mecanismo de ação desses softwares seja descoberto. Um dos poucos detalhes que Fonte liberou a respeito é que as ferramentas fazem uma espécie de engenharia reversa da criptografia à medida que os vídeos vão sendo baixados.

Apesar da complexidade, a decodificação dos vídeos é um processo rápido, que exige apenas alguns minutos. O arquivo final é cerca de 30% menor em relação ao total do streaming, embora o TorrentFreak suspeite que essa informação seja equivocada e tenha pedido esclarecimentos.

Aparentemente, existe mais de uma ferramenta para decodificação porque elas lidam com plataformas diferentes. É o que dá para presumir da afirmação de Fonte de que ele está mais familiarizado com ferramentas baseadas no Windows e Google Chrome.

Captura de tela de uma suposta versão antiga de uma das ferramentas

Captura de tela de uma suposta versão de uma das ferramentas (Fonte só a liberou por ser antiga)

O trabalho de Fonte, segundo o próprio, não é o de lidar diretamente com essas ferramentas, mas desenvolver scripts que automatizam o download a partir de serviços protegidos pela tecnologia da Widevine.

A ideia é automatizar ao máximo o processo, desde a extração dos vídeos até o seu envio aos topsites — servidores de FTP altamente protegidos que armazenam o conteúdo. A partir dos topsites é que determinados grupos obtém filmes e séries para serem distribuídos ilegalmente.

É claro que o The Scene não é o único grupo que age em prol da pirataria a partir de streaming. Mas Fonte dá entender que o seu grupo é um dos mais importantes justamente por conseguir lidar com a proteção da Widevine.

Ele alerta, porém, que os próximos meses serão mais desafiadores: a Widevine deve atualizar em breve a sua tecnologia de DRM, o que pode exigir que as ferramentas do The Scene se tornem ainda mais sofisticadas e, portanto, restritivas.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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