Elon Musk já arrisca quebrar cláusula de contrato de compra do Twitter

Tweet de Musk provoca onda de ódio contra alta executiva do Twitter e cláusula do acordo de compra determina que bilionário não pode "depreciar" a empresa ou funcionários

Bruno Ignacio
Por
Elon Musk, CEO da Tesla (Imagem: Oberhaus/Flickr)

A aquisição do Twitter por Elon Musk conta uma série de cláusulas estabelecidas no acordo entre o bilionário e os executivos da rede social. No entanto, ele parece estar à beira de quebrar uma delas (se ainda não a violou) que diz respeito a “não depreciação” da empresa ou de seus funcionários.

De acordo com um documento da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), o CEO da Tesla tem a liberdade de falar sobre transação. No entanto, a condição imposta é que ele não desrespeite ou deprecie o Twitter ou seus funcionários no processo.

“[Elon Musk] está permitido a publicar tweets sobre a fusão ou as transações aqui contempladas, desde que esses tweets não depreciem a empresa ou qualquer um de seus representantes”.

Cláusula no acordo de aquisição do Twitter publicado pela SEC

No entanto, Musk parece não conseguir se controlar muito bem. Algumas ações recentes do bilionário já podem ter arriscado essa cláusula em específico após ele ter desrespeitado uma alta executiva do Twitter em uma postagem na rede social.

Elon Musk incentivou ódio contra executiva do Twitter

Na última terça-feira (26), Musk respondeu a um tweet sobre uma reportagem do portal de notícias Politico, que afirmava que a advogada e principal executiva de políticas do Twitter, Vijaya Gadde, havia chorado durante uma reunião que discutia a compra de Musk.

O tweet original (agora deletado) também destacava o papel de Gadde no caso da intervenção do Twitter na disseminação de uma reportagem do New York Post em 2020. O jornal afirmava ter obtido acesso a e-mails privados de Hunter Biden, filho do atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Como os detalhes sobre a fonte do material divulgado eram incertos, possivelmente envolvendo um ataque hacker, ela encabeçou o movimento que visava restringir o alcance da história no Twitter. O argumento apresentado era que a ação seria mantida até uma averiguação “mais aprofundada” pela plataforma.

Logotipo do Twitter
Musk diz que quer garantir que Twitter seja politicamente neutro (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

No entanto, Musk respondeu ao tweet sobre a reportagem do Politico seguinte forma:

“Suspender a conta de uma grande organização de notícias por publicar uma história verídica foi obviamente e inacreditavelmente inapropriado.”

Elon Musk

Na quarta-feira, Musk voltou a falar de Gadde, tweetando um meme baseado na participação da executiva em um episódio de 2019 do podcast de Joe Rogan. No final das contas, os tweets provocaram uma onda de comentários negativos sobre Gadde. A situação chegou a tal ponto que dois ex-CEOs do Twitter foram defendê-la.

O cofundador e ex-CEO do Twitter, EV Williams, escreveu que Gadde é “uma das pessoas mais atenciosas e mais íntegras que conheço”. Enquanto o ex-CEO Dick Costolo tomou uma atitude mais agressiva contra Musk: “Você está tornando uma executiva da empresa que acabou de comprar alvo de ódio e ameaças”, disse ele. “Bullying não é liderança”, acrescentou em outro post.

Após todo o estrago, Musk respondeu novamente, mas de forma mais branda: “Só estou dizendo que o Twitter precisa ser politicamente neutro”. A empresa optou por não se pronunciar sobre o caso até o momento.

Essa e outras cláusulas foram definidas no contrato de compra da plataforma como uma maneira de prevenir que “ambas as partes” não impactem no valor de mercado do Twitter antes que as negociações sejam concluídas. Quebrar uma delas significa que a compra corre risco de ser cancelada? Não necessariamente, mas Musk arrisca o atual acordo que fechou com os acionistas majoritários da companhia.

Com informações: Business Insider, Engadget, Bloomberg

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

Relacionados