Quando Elon Musk vai assumir o Twitter? Especialistas explicam próximos passos

Aquisição do Twitter por Elon Musk ainda levará meses para ser concluída e o bilionário não é livre para fazer o que bem entender com a rede social

Bruno Ignacio
• Atualizado há 1 ano e 2 meses

Elon Musk, o CEO da Tesla e SpaceX, anunciou a compra do Twitter nesta semana. A notícia foi amplamente divulgada no mundo inteiro, criou discussões fervorosas nas redes sociais, mas, acima de tudo, trouxe uma série de perguntas: e agora? O que deve acontecer com a plataforma? Quais são os próximos passos para concretizar a aquisição? O Tecnoblog também quer saber, por isso falamos com especialistas para sanar essas dúvidas.

Foto pot James Duncan Davidson/TED Conference/Flickr
Elon Musk comprou o Twitter (Imagem: James Duncan Davidson/ Flickr)

Em primeiro lugar, a gestão de Musk não é imediata. Já houve a aprovação da proposta de compra pelos acionistas majoritários do Twitter. Mesmo assim, a aquisição da plataforma ainda precisa passar por alguns processos para que o bilionário efetivamente tome controle da rede social. Além disso, há dúvidas sobre possíveis intervenções de órgãos regulatórios e do governo americano nas negociações.

Outra questão paira sobre a aquisição do Twitter. Os planos do CEO da Tesla acendem alguns alertas quanto ao conteúdo que poderá ser postado em prol da “liberdade de expressão” tão defendida por Musk. Por exemplo, como as fake news seriam tratadas? E o discurso de ódio? Ou ainda a incitação à violência, motivo pelo qual a conta oficial do ex-presidente dos EUA Donald Trump foi permanentemente suspensa.

Na realidade, os discursos de Musk sobre alterar as políticas de moderação de conteúdo da plataforma não têm tanto impacto como imaginamos. O Twitter ainda é uma companhia e o bilionário ainda é um empresário, então há limitações até onde sua nova gestão afetará as regras da rede social sem sofrer sérias retaliações.

Compra do Twitter ainda precisa passar por aprovações

Logotipo do Twitter
Twitter (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

Para entendermos melhor, o Tecnoblog entrevistou Bruno Araújo, professor de finanças e relações com investidores da ESPM. Ele afirmou que, assim como no Brasil, a compra do Twitter por Elon Musk ainda depende da SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos).

“O órgão precisa avaliar e aprovar a aquisição. Além disso, o processo também depende do aval da assembleia dos acionistas da companhia, apesar de os acionistas majoritários já terem aprovado a proposta de Musk.”

Bruno Araújo, professor de finanças e relações com investidores da ESPM

Quando questionado sobre possíveis obstáculos na negociação por parte das autoridades americanas, Araújo disse que o Congresso dos Estados Unidos e a Casa Branca não costumam agir dessa maneira. “Isso não é algo comum. Não há histórico de intervenções desse tipo por parte do governo dos Estados Unidos sobre uma aquisição como essa.”

Levará meses para que Musk assuma a gestão do Twitter

O Twitter anunciou que aceitou a proposta de compra de Elon Musk, mas o bilionário não assumirá imediatamente a gestão da rede social. O especialista explicou que o CEO da Tesla e SpaceX ainda deve demorar para realmente tomar o controle da plataforma.

“Isso ainda deve demorar meses para acontecer. Provavelmente levará até setembro ou outubro deste ano, seguindo os prazos normais nos Estados Unidos.”

Bruno Araújo, especialista em finanças e investimentos

Ele também ponderou que parte da compra foi feita com dinheiro de Musk, enquanto a outra parcela foi financiada com recursos do banco multinacional de investimentos Morgan Stanley. “Portanto, até isso ser operacionalizado, demorará alguns meses”, conclui.

Elon Musk, CEO da Tesla (Imagem: Oberhaus/Flickr)
Elon Musk, CEO da Tesla (Imagem: Oberhaus/Flickr)

Há também outras peças no tabuleiro a serem consideradas. Após a aquisição de Musk, o Twitter pode ser questionado pelas autoridades americanas sobre a gestão da empresa, seguindo exemplos do Google, Facebook, e de outras companhias de mídias sociais.

No entanto, os nomes citados acima são todas empresas de capital aberto, ou seja, que estão na bolsa de valores. Dito isso, há certas normas de transparência para com o mercado que elas devem seguir.

“Por isso, muitas vezes o governo demanda explicações sobre o que acontece na gestão da companhia. Um exemplo disso é como o Senado americano chamou Mark Zuckerberg no ano passado para explicar o que se passava com o Facebook”.

Bruno Araújo, professor de finanças e relações com investidores da ESPM

Com a aquisição de Elon Musk, o Twitter se deve se tornar uma empresa privada, assim estará fora da bolsa de valores. Araújo afirmou que, portanto, a plataforma ainda pode ser questionada sobre o quão transparente ela se manterá a respeito das políticas de dados da rede social. “No entanto, não se trata de algo estrutural ou comumente feito pelo governo dos Estados Unidos”.

Fake news? Ódio? Liberdade de expressão?

Desde antes das primeiras investidas de Elon Musk para adquirir o Twitter, ele já vinha falando constantemente sobre possíveis mudanças para a rede. Seu principal ponto sempre foi moderação de conteúdo e a “liberdade de expressão” na rede social.

App do Twitter
App do Twitter (Imagem: Souvik Banerjee/ Unplash)

João Finamor, professor da pós-graduação e especialista em mídias digitais da ESPM, afirmou em entrevista ao Tecnoblog que já podemos vislumbrar algumas mudanças no horizonte. Editar tweets, a quantidade limite de caracteres, sistemas de integração e código aberto, por exemplo, são algumas das propostas encabeçadas por Elon Musk para o Twitter.

“Pegando o Facebook (Meta) como exemplo e seus planos de integração com o metaverso, podemos imaginar que o Twitter pode seguir o mesmo caminho sob a gestão de Musk”.

João Finamor, especialista em mídias digitais

No entanto, as questões envolvendo a liberdade de expressão na rede social, constantemente pautadas pelo bilionário, são um pouco mais complexas. Alterar as políticas de moderação de conteúdo pode abrir espaço para a disseminação de discursos problemáticos, como incitação à violência, falas racistas e homofóbicas, fake news e outros.

Em entrevista ao Tecnoblog, Paula Chimenti, professora e coordenadora do Centro de Estudos em Estratégia e Inovação do COPPEAD na UFRJ, disse:

“Musk não falou abertamente que faria isso (dar abertura a fake news e discursos problemáticos). Ele tem dado declarações interessantes, como sobre abrir o algorítimo do Twitter a acabar com os robôs e usuários falsos.”

Para ela, o bilionário não caminha para um comportamento inconsequente, mas para um que visa restringir menos o usuário. “Dessa forma, as pessoas também deverão responder pelo que estão falando, porque o que é crime na vida real também se aplica ao virtual”, acrescenta. Logo, essas possíveis mudanças não seriam “necessariamente boas ou ruins” para a especialista.

“Uma pergunta interessante a se fazer neste momento é: quem é que tem responsabilidade sobre o conteúdo? Se não é a plataforma, que dá o espaço para se publicar, seria então o usuário. No entanto, para que uma pessoa seja responsabilizada, ela precisa ser encontrável e a rede teria que compartilhar os dados de quem postou coisas problemáticas.”

Paula Chimenti, coordenadora do COPPEAD na UFRJ

Até onde Musk consegue mudar o Twitter?

Elon Musk (Imagem: Tesla Owners Club Belgium/Flickr)
Elon Musk (Imagem: Tesla Owners Club Belgium/Flickr)

Há também uma série de outros fatores que impedem que o CEO da Tesla faça o que queira com o Twitter. O motivo central é relativamente simples: não seria nada estratégico para a saúde financeira da plataforma. Finamor diz que Elon Musk é uma figura “excêntrica” e que gosta de gerar polêmicas.

“É importante destacar que Elon Musk é uma pessoa excêntrica. Ele gosta dos holofotes e de chamar a atenção.”

João Finamor, especialista em mídias digitais

A citação acima é mais importante do que parece. Segundo o professor da ESPM, o bilionário sempre criticou a presença dos “bots” na rede social, que são grandes propagadores de fake news. “Logo, podemos ver um ponto positivo para a plataforma, que deve agora reforçar o combate a essas ferramentas. Por outro lado, há toda a questão que envolve a liberdade de expressão defendida por ele”, ele acrescenta.

De acordo com Finamor, já vimos movimentos de plataformas como o YouTube, “que sofreu uma retaliação muito grande na época do Taliban por permitir que certos vídeos fossem postados”. O Facebook também passou por uma situação muito semelhante pela disseminação de conteúdos considerados problemáticos na parte publicitária, complementa o professor.

“Logo, se partirmos do princípio que o Twitter é uma empresa e que o lucro é importante, por mais excêntrico que Musk seja, ela ainda gerencia um negócio. Então, sim, pode haver alguma flexibilização na entrega de conteúdos na plataforma, mas ainda não tanto quanto ele fala. Trata-se de algo muito mais teatral dele do que efetivamente planos concretos de mudança.”

João Finamor, especialista em mídias digitais

Chimenti acredita que, em última instância, ainda temos uma questão importante regulatória a ser definida no curto e médio prazo: o Twitter é um veículo de mídia ou uma plataforma?

“Nas discussões sobre regulamentações das redes sociais, há uma decisão a ser tomada: o Twitter é uma mídia ou uma plataforma? No primeiro caso, há responsabilidade por todo conteúdo veiculado, então deve haver curadoria sobre o que é publicado, porque a responsabilidade cairia sobre a empresa. Não existe essa relação na segunda opção, logo a responsabilidade é do usuário.”

Paula Chimenti, coordenadora do COPPEAD na UFRJ

De qualquer maneira, a aquisição do Twitter levará meses para se concretizar. Podemos esperar ainda mais tempo para que a gestão de Musk realmente impacte significativamente as regras do Twitter. “Precisamos ver o desenrolar das coisas”, conclui Chimenti.

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Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.