O sucesso deste cubo no Kickstarter diz muito sobre a nossa ansiedade
Você pagaria US$ 19 por um pequeno cubo cheio de botões aparentemente inúteis? Muita gente está pagando. Muita gente mesmo! A razão é que o Fidget Cube, como foi batizado, promete ser uma alternativa mais segura para quem, diante de uma situação de nervosismo, morde canetas, batuca na mesa, mexe no cabelo, enfim. Ele também pode te ajudar a manter o foco.
No início, eu pensei que o Fidget Cube não passava de uma piada engenhosa. Mas, analisando bem, até que a ideia faz sentido. Em resposta a situações de estresse ou ansiedade, é normal realizarmos pequena ações repetitivas. Esse comportamento é involuntário, por isso, muitas vezes nem nos damos conta do que estamos fazendo.
O problema é que essas ações, quando muito frequentes, são potencialmente prejudiciais. Morder canetas, por exemplo, pode afetar a saúde dos dentes ou as articulações temporomandibulares. Roer unhas (onicofagia) pode causar ferimentos, infecções e, em casos extremos, até deformações nos dedos.
Como essas ações são automáticas, tentar se policiar para não executá-las costuma não resolver. Muita gente acaba recorrendo então a folhas de plástico-bolha (quem nunca?), pequenas bolas de borracha, anéis com engrenagens e outros brinquedos voltados a esse fim (digite “fidget toys” e você achará um monte deles).
Aqui, o Fidget Cube começa a fazer sentido. O cubo é um desses brinquedinhos, só que mais sofisticado. Cada um dos seus seis lados possui um mecanismo diferente: há interruptor de luz, engrenagens giratórias, botões que simulam o clique de uma caneta, uma alavanca de joystick, enfim.
Parece um vídeo para o promover o Apple Watch, mas não é
Mike Karlesky, um dos fundadores da Antsy Labs, empresa que está tocando o projeto, explica que a ideia surgiu após uma curiosidade: por que brincamos com clipes de papel, bolinhas de borracha, elásticos, canetas e outros objetos quando estamos concentrados em algo?
Essa inquietação se manifesta frequentemente em situações de estresse, mas também pode aparecer quando estamos prestando atenção em uma palestra, por exemplo. Uma hipótese bastante considerada é que, em ambas as circunstâncias, a inquietação é um mecanismo de defesa que tenta distrair a parte do cérebro que pode se aborrecer, deixando as outras livres para prestar atenção à situação e, se for o caso, buscar uma solução.
Deixar as mãos ocupadas seria a principal arma do cérebro para ativar esse mecanismo. O Fidget Cube foi baseado nisso. Karlesky temeu que a ideia fosse ser mal recebida, mas, entrevistando várias pessoas, ele constatou que a maioria gosta de ter algo em mãos ao lidar com momentos de tédio, ansiedade ou concentração. Nesse sentido, um “dado” com mecanismos diversos que cabe no bolso parece mesmo uma ideia genial, daquelas que te fazem perguntar: “por que não pensei nisso antes?”
Apesar disso, nem o próprio Karlesky pensava que a ideia fosse dar tão certo. A meta de arrecadação do Fidget Cube no Kickstarter é de US$ 15 mil. Na publicação deste post, o projeto já havia alcançado mais de US$ 2 milhões. E olha que ainda faltam 40 dias para o fim da campanha.
É óbvio que um objeto como esse não resolve transtornos de ansiedade ou funciona em todas as situações de estresse. Em casos mais intensos, continua valendo a velha recomendação de procurar ajuda especializada.