Europeus terão uma versão especial do Google

Buscador fez uma série de concessões para evitar multa bilionária

Thássius Veloso
• Atualizado há 7 meses

O Google chegou a um acordo com a Comissão Europeia, o equivalente ao nosso Cade, que vai mudar a forma como o buscador funciona nos países do bloco. Entre diversas concessões, o Google vai passar a exibir os resultados dos concorrentes em espaços de destaque. A decisão foi tomada nessa quarta-feira (5) diante de uma Comissão recheada de executivos que já pensavam em aplicar uma multa que poderia chegar a 5 bilhões de euros.

O processo contra o Google começou em 2010. Pelo menos 20 empresas de internet entraram na Justiça questionando as práticas do buscador: diziam que o Google utilizava o conteúdo de terceiros para promover os próprios resultados e também destacava ferramentas próprias para pesquisas específicas – por exemplo, viagens ou compras –, enquanto dava pouca importância ao resultado dos concorrentes.

Embora o documento ainda precise de alguns acertos, já sabemos de forma preliminar que a Europa conseguiu uma série de concessões que o Google não ofereceu a nenhum órgão regulador do planeta – nem mesmo nos Estados Unidos.

Google na Europa: exibirá resultados de três concorrentes lado a lado com pesquisa feita no Google Shopping
Google na Europa: exibirá resultados de três concorrentes lado a lado com pesquisa feita no Google Shopping

Por exemplo, a pesquisa de produtos do Google deverá ser exibida com pelo menos os produtos de mais três concorrentes. Na demonstração apresentada pelo buscador, vão aparecer três fotos do próprio Google Shopping e mais uma de cada concorrente (no caso: Supaprice, Kelkoo e Shopzilla).

O conselheiro-geral da Google disse que os engenheiros terão que fazer “modificações significativas” na forma como a pesquisa funciona na Europa. Ainda assim, Kent Walker afirmou que a intenção é de resolver as questões conflitantes e seguir em frente.

Não para por aí. Os concorrentes terão que pagar ao Google cada vez que alguém clicar em certos tipos de resultados de pesquisa. De modo geral, essa determinação se aplica às pesquisas específicas. Dessa forma, um site de viagens (Decolar.com, por exemplo) pode entrar na ferramenta de comparação de preços de passagens do Google. Desde que pague por isso.

Já provedores de conteúdos específicos poderão sair dos resultados de pesquisa específicos, sem prejuízo sobre o posicionamento nos resultados normais de pesquisa. Se o Google lançar um site para encontrar restaurantes, por exemplo, o Yelp poderia ficar de fora dessa ferramenta, mas permanecer no índice de páginas de restaurante da busca geral.

Os concorrentes do Google já começaram a reclamar do acordo elaborado pelo gigante da internet e a Comissão Europeia. Dizem que não deu tempo de fazer testes de mercado para ter certeza de que as modificações vão fazer o efeito esperado.

De qualquer forma, a impressão geral é de que os europeus querem conceder aos sites locais a possibilidade de concorrer com o Google, que tem se tornado um ecossistema cada vez mais fechado. As ferramentas de pesquisa específica são muitíssimo úteis, mas elas sempre privilegiam os resultados do próprio Google (obviamente). A Comissão Europeia entendeu que, do jeito como está hoje, essa dinâmica causa prejuízos à livre concorrência.

O acordo vale por cinco anos. Ele também deverá abranger todos os futuros serviços de pesquisa que o Google porventura lançar. Na Europa, diferentemente dos Estados Unidos, o Google responde em média por nove de cada dez pesquisas. Por isso é tão importante estar nos resultados. É como se não existisse outro buscador.

Sergey Brin, o CTO do Google, deve ter pensado: melhor isso do que abrir o algoritmo
Sergey Brin, o CTO do Google, deve ter pensado: melhor isso do que abrir o algoritmo

Agora o mais importante: o algoritmo de busca vai continuar supersecreto. Alguns concorrentes pediam que o Google abrisse o código do sistema de pesquisa, mas a empresa protegeu o algoritmo de todas as formas possíveis. Deu certo.

Vale lembrar que a Comissão Europeia costuma acompanhar os acordos fechados com empresas estrangeiras. Eles fizeram a Microsoft instalar uma tela de escolha no Internet Explorer, caso o dono do computador quisesse instalar outro navegador que não fosse o padrão do Windows. E depois multaram a MS por falhas na implementação da tal tela. Além disso, a Europa tinha versões especiais do Windows sem partes do sistema, como o Windows Media Player, por exemplo.

Com informações: New York Times e CNBC.

Leia | Como trazer o botão "Visualizar Imagem" de volta ao Google Imagens

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Thássius Veloso

Editor

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia. Desde 2008, participa das principais feiras de eletrônicos, TI e inovação. Thássius é editor do Tecnoblog e também atua como comentarista da CBN, palestrante e apresentador de eventos. Já colaborou com o Jornal Nacional e a GloboNews, entre outros veículos da imprensa. Ganhou o Prêmio Especialistas em duas ocasiões e foi indicado diversas vezes ao Prêmio Comunique-se. Pode ser encontrado como @thassius nas redes sociais.