Google Play confunde “livre” e “grátis” no Android e irrita desenvolvedora

Confusão com a palavra "free", que pode significar "livre ou "grátis", fez Google Play Store barrar aplicativo Catima indevidamente

Emerson Alecrim
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App da Google Play Store no Android (Imagem: André Fogaça/Tecnoblog)

Todo software apresenta bugs e todo desenvolvedor sabe que precisa lidar com isso. Mas, muitas vezes, esses profissionais também precisam lidar com problemas evitáveis. É o caso da desenvolvedora de um aplicativo chamado Catima. Uma confusão na forma como a Google Play Store interpreta a palavra “free” dificultou a liberação do app na loja e causou muita dor de cabeça.

Em seu blog, Sylvia van Os se apresenta com uma administradora de sistemas Linux que programa como hobby. Esse passatempo a fez desenvolver o Catima, um aplicativo para Android que permite ao usuário gerenciar cartões de fidelidade e ingressos.

A ferramenta é gratuita, tem código-fonte aberto e pode ser baixada na Google Play Store ou na F-Droid. Sylvia até gostaria que o app aparecesse em outras lojas, como Samsung Galaxy Store e Amazon Appstore, mas isso não deve acontecer tão cedo. Ela explica o motivo:

A razão para o Catima não estar em lojas de apps alternativas não é porque há algo errado com elas, mas porque há algo errado com a Google Play.

O que a desenvolvedora quer dizer com isso é que a loja do Google toma tanto o seu tempo que ela ainda não pôde publicar o aplicativo em mais serviços alternativos.

Catima (imagem: reprodução/Google Play)
Catima (imagem: reprodução/Google Play)

O que a Google Play fez de errado?

Os transtornos começaram em outubro de 2021, quando Sylvia van Os recebeu um email informando que o Catima não estava em conformidade com as regras da Google Play.

Por ter certeza de que não estava infringindo nenhuma condição, a desenvolvedora trocou vários emails com o suporte do Google para descobrir qual era o problema, mas só recebia respostas vagas.

Apesar de imprecisas, as respostas fizeram a desenvolvedora desconfiar que o Google estava realizando traduções automáticas e com resultados que entravam em conflito com as regras da loja.

Antes do problema, o aplicativo era promovido na Google Play Store com o seguinte nome: “Catima — The Libre Card Wallet” (esse nome ainda é mantido no site oficial do app).

“Libre”, aqui, é apenas uma maneira diferente de informar que o aplicativo é “livre” no sentido de ter código-fonte aberto e poder ser modificado — a sua licença é a GPLv3+.

Porém, na tradução para o inglês, “libre” vira “free”, palavra que pode significar tanto “livre” quanto “grátis”. É aqui que os problemas começam: o Google não aceita aplicativos que insinuam gratuidade no título.

O primeiro email recebido por Sylvia apontava problemas nos títulos do aplicativo nas versões em holandês e norueguês. Ela mudou esses títulos, mas, no dia seguinte, recebeu outro email do Google, este acusando problemas nos títulos de nove idiomas. Mudanças feitas, mas outro email chegou, este com problemas no título em chinês.

Foram cinco dias de aborrecimentos. Como os emails eram vagos, a desenvolvedora ficou irritada por ter tido que “adivinhar” a solução. Pelo menos todos os problemas tinham sido resolvidos, certo?

Bom, nem todos. Em 23 de novembro, Sylvia recebeu mais um email do Google, este cismando com a palavra “Free” nos títulos.

Foi quando a desenvolvedora teve certeza de que a companhia estava fazendo uma tradução automática e inconsistente: ela nunca empregou a palavra “free” nos títulos; lembremos que, na versão em inglês, o título do app era “Catima — The Libre Card Wallet”.

O que acontecia é que a Google Play Store fazia tradução automática da palavra “livre” nos outros idiomas para o inglês e, em todos os casos, o resultado era “free”. Como essa palavra não deve ser empregada nos títulos, o caos se instaurou.

Email do Google implicando com a palavra "free" (imagem: Sylvia van Os)
Email do Google implicando com a palavra “Free” (imagem: Sylvia van Os)

Google Play causou mais dores de cabeça

Após os ajustes nos títulos, o Catima apareceu na Google Play Store — as traduções para “livre” foram removidas, basicamente. Mas outro problema surgiu: recentemente, a loja reduziu o tamanho dos títulos dos apps de 50 para 30 caracteres, mudança que ela não conseguia efetuar.

A razão? Em dezembro de 2021, nem todos os tradutores do Catima tinham realizado o ajuste e, por conta de uma falha no Play Store Console, a desenvolvedora não podia aplicar os títulos modificados já disponíveis. Isso porque o bug fazia os campos de todos os idiomas serem revalidados se qualquer um deles fosse alterado. Como consequência, ela teve que esperar todas as traduções ficarem prontas para ajustar tudo de uma vez.

Não terminou aí. No início desta semana, o Google rejeitou uma mudança no aplicativo alegando falta de informações de login, falha que não existia.

Felizmente, o problema foi resolvido dois dias depois, mas a irritação de Sylvia continua, compreensivelmente.

O Google foi procurado pelo Android Police para comentar o assunto, mas o veículo não obteve resposta.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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