Chefe da área de conteúdo da Netflix e “braço direito” do cofundador Reed Hastings, Ted Sarandos deu uma entrevista ao Variety que mostra que a companhia está se preparando para ser mais ousada em 2018: nada menos que US$ 7 bilhões serão reservados apenas para o aumento do acervo do serviço.
Metade desse dinheiro deve ser direcionada ao licenciamento de filmes e séries. Mas Sarandos tratou de deixar claro que, apesar disso, a Netflix está fortemente focada em produções próprias. Isso significa que o catálogo do serviço seguirá a tendência de disponibilizar cada vez mais séries e filmes exclusivos.
O próprio Sarandos reconhece que o sucesso da Netflix dificulta progressivamente o licenciamento de conteúdo. O executivo não enumera as barreiras, mas não é difícil presumir algumas delas: certos distribuidores passam a cobrar mais pelas licenças, outros fecham contratos de exclusividade com concorrentes, grandes redes (como a Disney) cercam suas produções para oferecê-las em serviços de streaming próprios e por aí vai.
A aposta em conteúdo próprio ajuda a Netflix a lidar com esse problema, mas também é uma forma de atrair assinantes (afinal, determinadas produções só estão disponíveis por lá) e diminuir as diferenças entre os acervos de cada país — a Netflix é uma empresa global, mas os contratos de licenciamento são, em sua maioria, regionais.
Com o cancelamento de séries como Sense8 e The Get Down, havia o temor de que a Netflix iria puxar o freio. Mas esses cancelamentos são só ajustes: a empresa desiste daquilo que não dá o retorno esperado para direcionar recursos para projetos mais promissores.
Prova disso é que o orçamento para conteúdo em 2018 é US$ 1 bilhão maior que o de 2017 que, por sua vez, foi US$ 1 bilhão maior que o de 2016 (US$ 5 bilhões, aproximadamente).
Os resultados já aparecem. Os últimos dados apontam que a Netflix possui 104 milhões de usuários em praticamente todo o mundo. A exceção é a China, território de difícil exploração para diversas companhias ocidentais. A empresa até espera chegar lá um dia, mas o foco, por ora, está na expansão do serviço na América Latina (cerca de 50 produções estão em andamento na região) e Europa, explica Sarandos.
Só que orçamento maior implica em mais pressão por parte dos investidores, ainda mais com as recentes revelações de que, atualmente, a Netflix tem dívidas de quase US$ 5 bilhões. Sarandos reconhece o problema, mas explica que está tudo sob controle: “não estamos gastando dinheiro que não temos, estamos gastando receita”. O executivo completa: “temos um dos níveis de dívida mais baixos do setor”.