PF compra sistema para guardar biometria de 50 milhões de brasileiros

Contrato custou R$ 39,9 milhões e pretende unificar dados de secretarias de segurança pública estaduais; especialistas em proteção de dados alertam para riscos

Ana Marques
• Atualizado há 2 anos e 10 meses
Representação de reconhecimento facial (Imagem: Gerd Altmann/Pixabay)
Representação de reconhecimento facial (Imagem: Gerd Altmann/Pixabay)

A Polícia Federal (PF) assinou um contrato confirmando a compra de um sistema que pretende coletar, armazenar e cruzar dados pessoais sensíveis de 50,2 milhões de brasileiros. O plano é que o programa Abis (Solução Automatizada de Identificação Biométrica) seja expandido para conseguir “catalogar” quase toda a população do Brasil nos anos seguintes, mas entidades ligadas à proteção de dados estão preocupadas com as possíveis consequências do projeto.

O Abis tem o objetivo de identificar pessoas ao cruzar dados biométricos provenientes de reconhecimento facial e impressões digitais. O sistema é uma evolução do Afis, sistema usado pela PF há 16 anos para a identificação de digitais em busca de criminosos ou pessoas desaparecidas.

A Polícia Federal explicou em comunicado que o Abis será usado para unificar dados das secretarias de segurança pública estaduais, criando uma base biométrica nacional que poderá ser utilizada pelas polícias judiciárias.

A plataforma também disponibiliza serviços de controle de emissão de passaportes, registros de estrangeiros e certidão de antecedentes. Segundo a autoridade, “com o tempo, poderá haver a completa integração com outros modelos de identificação biométrica, como íris e voz”.

De início, o programa já será alimentando por cerca de 2,2 milhões de dados coletados com a plataforma antiga. Além do sistema, a PF está adquirindo novos equipamentos para o cadastramento e coleta de biometria, incluindo uma estação portátil de cadastro que será usada por papiloscopistas — peritos que fazem a identificação humana por meio de digitais.

O extrato de contratação da empresa IAFIS SYSTEMS DO BRASIL LTDA, que deverá implementar o Abis, foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) com o valor de R$ 39.970.099,33 para um período de atuação até 2024, conforme aponta uma reportagem do site Convergência Digital.

Especialistas alertam para riscos do Abis

Diversos especialistas em proteção de dados manifestaram preocupação com o projeto da Polícia Federal. De acordo com a Associação Data Privacy Brasil de Pesquisa, o uso da solução automatizada “potencializa o compartilhamento de informações sem uma demonstração prévia de salvaguardas e procedimentos de compatibilização de finalidades de bases de origens diversas”.

A entidade também chama a atenção para o fato de que, no Brasil,  ainda não há diretrizes necessárias estabelecidas para garantir a integridade no tratamento de dados para fins de segurança pública.

Vale lembrar que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) não se aplica a casos de segurança pública, de defesa nacional e de segurança do Estado. Ainda assim, as informações sensíveis dos cidadãos devem ser geridas com processos transparentes, com garantia de uso restrito a essas finalidades, e respeitando os direitos fundamentais.

Por este motivo, o Anteprojeto de Lei de Proteção de Dados para segurança pública e persecução penal (LGPD-Penal) está em vias de discussão no Congresso — seu texto foi apresentado em novembro por uma comissão de juristas instituída pela Câmara dos Deputados.

O projeto de unificação biométrica da PF poderia “potencializar usos amplos de bases de dados biométricas para vigilância em massa”, alerta o Data Privacy BR, bem como levar a uma mistura no tratamento de dados de segurança pública, investigação criminal e inteligência — que, por terem contextos diferentes, deveriam ser analisados de forma separada.

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Ana Marques

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Gerente de Conteúdo

Ana Marques é jornalista e cobre o universo de eletrônicos de consumo desde 2016. Já participou de eventos nacionais e internacionais da indústria de tecnologia a convite de empresas como Samsung, Motorola, LG e Xiaomi. Analisou celulares, tablets, fones de ouvido, notebooks e wearables, entre outros dispositivos. Ana entrou no Tecnoblog em 2020, como repórter, foi editora-assistente de Notícias e, em 2022, passou a integrar o time de estratégia do site, como Gerente de Conteúdo. Escreveu a coluna "Vida Digital" no site da revista Seleções (Reader's Digest). Trabalhou no TechTudo e no hub de conteúdo do Zoom/Buscapé.