Você provavelmente já está sabendo do shutdown do governo americano. Caso não esteja, a história é, resumidamente, a seguinte: não houve acordo no Congresso para definir o orçamento de 2014. Como resultado, 800 mil americanos que são funcionários públicos ficarão em casa por tempo indeterminado e mais de um milhão irão trabalhar sem salário. Vários serviços federais serão paralisados, inclusive parques nacionais (a Estátua da Liberdade – sim, é um parque – e o Yosemite já amanheceram fechados) e a NASA. Sim, a NASA!

Você talvez esteja pensando que não tem nada a ver com isso – e, de certa forma, é verdade, já que você não tem nada a ver com como a verba federal dos Estados Unidos é gasta. Mas isso não quer dizer que os resultados disso não poderão, indiretamente, afetar sua vida de alguma forma.

Além de mandar sondas para Marte e monitorar a queda de asteroides na Terra, a NASA tem laboratórios de pesquisa em tecnologia. O objetivo da maioria deles é criar coisas que serão utilizadas em missões espaciais – afinal, Nasa quer dizer Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço, e não poderia ser diferente.

Mas não é raro que essas tecnologias sejam aplicadas com fins diferentes aqui na Terra. Na semana passada mesmo, publicamos aqui no TB um exemplo disso: o FINDER, um radar portátil que permite encontrar pessoas soterradas ainda com vida. Há várias outras: a espuma Tempur, que talvez esteja no seu travesseiro (se você tiver um dos tais travesseiros da NASA), foi criada para revestir as poltronas de cabines de foguetes; as palmilhas usadas em tênis esportivos para diminuir o impacto surgiram nas botas utilizadas pelos astronautas que pisaram na Lua; a transmissão de informações via satélite foi iniciada pela agência. Outras invenções derivadas são as roupas de bombeiros, joystick para videogames e até aqueles aparelhos ortodônticos transparentes.

Em outras palavras, há boa parte dos utensílios do seu dia a dia que veio da agência espacial e sua vida seria bem diferente se ela não existisse.

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Mesmo as missões da NASA de exploração do universo, apesar de dividirem opiniões sobre sua “relevância”, têm justificativas muito plausíveis para serem feitas. Um texto escrito por Stephen Hawking discute essa importância – e, se existe alguém no mundo com propriedade para falar do assunto, este alguém é Stephen Hawking.

Como o documento é meio longo, deixo o link para ele na íntegra. Mas, basicamente, ele explica que olhar para fora do planeta custa “barato” (menos de 1% do PIB mundial), pode trazer respostas sobre a origem da vida no planeta (um dos motivos da existência da sonda Curiosity), incentiva o desenvolvimento de novas tecnologias (como já falamos anteriormente) e um interesse maior por ciência (ou seja, a curto prazo, mais empolgação para a comunidade científica; a longo prazo, mais cientistas, descobertas e invenções). O mundo todo sai ganhando.

Twitter, Instagram e site da NASA estão inoperantes
Twitter, Instagram e site da NASA estão inoperantes

Em outras palavras, o problema em mandar 97% dos funcionários da NASA para casa é a interrupção por tempo indeterminado de todas as pesquisas que estavam sendo feitas, já que a única parte da agência que não será fechada é a que dá suporte aos astronautas que estão fora do planeta. Provavelmente ninguém irá morrer por causa disso, é verdade, mas haverá um atraso tecnológico. E, sim, isso é uma pena.

E, ironicamente, hoje a NASA faz 55 anos. Presentão, hein?

Caso você esteja se perguntando se o shutdown irá causar o fim das intervenções militares dos EUA em outros países, a resposta é: é claro que não. Acontece que os serviços militares são considerados assunto de segurança nacional, e essa é uma das prioridades. Portanto, os bombardeios continuam.

E, se depois de tudo isso sua preocupação continuar sendo só é em tirar o visto para gastar seu rico dinheirinho na América, nada tema: as embaixadas também são consideradas prioridade no caso de shutdown, então continuam operando.

Se quiser entender melhor o shutdown, o Washington Post fez uma matéria bem completa sobre ele; vale dar uma lida.

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Escrito por

Giovana Penatti

Giovana Penatti

Ex-editora

Giovana Penatti é jornalista formada pela Unesp e foi editora no Tecnoblog entre 2013 e 2014. Escreveu sobre inovação, produtos, crowdfunding e cobriu eventos nacionais e internacionais. Em 2009, foi vencedora do prêmio Rumos do Jornalismo Cultural, do Itaú. É especialista em marketing de conteúdo e comunicação corporativa.