NASA faz alerta contra futuros 30 mil satélites de internet da Starlink
Satélites da Starlink podem interferir em detecção de asteroides que podem atingir a Terra, fotos do Hubble e missões espaciais, NASA alerta em carta
Satélites da Starlink podem interferir em detecção de asteroides que podem atingir a Terra, fotos do Hubble e missões espaciais, NASA alerta em carta
A NASA enviou uma carta para a Comissão Federal das Comunicações (FCC) dos Estados Unidos citando preocupações com o plano da Starlink de lançar 30 mil satélites no espaço. A agência espacial norte-americana cita riscos que a subsidiária da SpaceX pode provocar a missões espaciais, fotos tiradas pelo telescópio Hubble e, por fim, ao monitoramento de asteroides cujo impacto pode ser letal à Terra.
A carta encaminhada à FCC (em inglês) foi assinada por Samantha Fonder, representante do Grupo Interinstitucional de Transporte Comercial e Espacial da NASA. O documento começa com a agência espacial citando possíveis impactos da licitação da Starlink em viagens humanas ao espaço, ou ainda missões científicas:
“Com o aumento de propostas de grandes constelações de satélites à FCC, a NASA se preocupa com um potencial aumento significativo na frequência de conjunções [quando dois corpos celestes se aproximam ou se chocam] e possíveis impactos nas missões científicas ou missões espaciais tripuladas.”
Ao mesmo tempo em que avalia o impacto negativo da licitação da SpaceX para colocar em órbita mais 30 mil satélites da Starlink, a agência não pede pela rejeição do pedido. A NASA diz que o projeto de constelação vai exigir “comunicação e coordenação” extensas entre as partes envolvidas.
Os satélites que a SpaceX quer colocar em órbita são do tipo Gen2. Ao todo, a empresa de Elon Musk — que está na corrida para o topo do mercado de viagens turísticas ao espaço concorrendo com empresas como a Amazon — já tem licença para lançar 12 mil satélites. No espaço, já operam 1,9 mil equipamentos da companhia. Mas uma tempestade solar vai causar 40 baixas no contingente de equipamentos da SpaceX em funcionamento.
A NASA disse à FCC que próximos satélites, caso sejam lançados, podem provocar aumento do risco de colisão por objetos em viagens espaciais.
O plano da SpaceX dobraria a quantidade de objetos rastreáveis no espaço, que atualmente é de 25 mil. “Cerca de 6,1 mil desses corpos celestes têm um perigeu (ponto em que um objeto está mais próximo da Terra em sua órbita) abaixo de 600 km. A expansão da SpaceX aumentaria esse número em cinco vezes, sem considerar propostas de outras empresas”, disse a NASA. A agência continuou:
“Um aumento desta magnitude e confinado a essa faixa de altitude inerentemente traz um risco maior de colisões geradas por escombros, unicamente se baseando no número de objetos. A NASA antecipa que missões científicas e lançamentos tripulados, atuais e a serem executados, terão aumento em conjunções.”
Tal impacto poderia inclusive prejudicar a segurança de equipamentos já ativos da NASA no espaço, assim como da Estação Espacial Internacional. Isso porque os novos satélites da Starlink poderiam prejudicar a capacidade da agência de monitorar colisões e a trajetória de missões espaciais.
Para se adequar em resposta ao aumento no risco de colisões, a NASA recomenda que a SpaceX adote “uma geração de análise demonstrando a capacidade de sua constelação de satélites de realizar manobras automáticas para evitar conjunções, inclusive entre eles mesmos”. A agência espacial também quer saber se os equipamentos conseguem “orbitar em baixa altitude durante picos de atividade solar”.
Outra preocupação é uma possível interferência no funcionamento do satélite espacial Hubble. O equipamento foi lançado há 32 anos pela NASA, e orbita a 535 km de distância da Terra.
A agência espacial norte-americana estima que aproximadamente 8% das imagens tiradas pela câmera infravermelho do Hubble já sofrem com a interferência de outros satélites durante a exposição fotográfica.
“Essa proposta da Starlink inclui 10 mil satélites que orbitariam em uma faixa superior ou igual à altitude do Hubble, uma situação que pode dobrar o percentual de imagens degradas do telescópio”. A Nasa também citou que a “gravidade dessa degradação irá aumentar” caso o plano da empresa de Elon Musk seja executado.
Para monitorar a Terra, a NASA afirma que tem 14 missões dedicadas em atividade com o propósito de registrar imagens. Mas os 30 mil satélites da SpaceX podem impactar nessas atividades, já que os equipamentos da Starlink devem circular em uma altitude menor do que a maioria das naves espaciais. “A reflexão de luz solar” seria o que pode prejudicar as imagens.
Como se não bastasse os prejuízos às missões espaciais e ao Hubble, a NASA cita que pode haver impacto negativo no sistema usado pela agência espacial para monitorar asteroides — e redirecionar os corpos celestes que podem ter uma trajetória de encontro com a Terra.
“Com mais 30 mil satélites da Starlink, como descrito no requerimento Gen2, a NASA estima que haverá um equipamento da companhia em cada relatório de monitoramento de asteroide extraído para defesa do planeta contra corpos que poderiam ter impactos graves, diminuindo a efetividade do processo, ao tornar inúteis certas partes da imagem. Isso poderia ter impacto direto na habilidade da agência de cumprir com seu dever com o Congresso [dos EUA] e teria um efeito negativo na capacidade do planeta de detectar e possivelmente responder a uma catástrofe.”
NASA
Astrônomos já haviam detectado mais e mais satélites da Starlink que estariam atrapalhando na visão de telescópios usados para observação espacial.
No caso da NASA, é mais grave: a agência usa telescópios terrestres de ampla visão para monitorar asteroides que poderiam colidir com a Terra. A constelação da Starlink poderia “esconder” essas rochas dos “olhos” da NASA.
Por fim, voltando a Estação Espacial Internacional, a NASA diz que a expansão da Starlink poderia afetar missões e a colaboração dos astronautas e cientistas que frequentam a ISS. Isso porque os equipamentos da subsidiária da SpaceX estariam orbitando na mesma altitude frequentada por veículos de visitação: entre 328 e 360 km da Terra.
“Pode ocorrer um aumento na indisponibilidade de datas de lançamento, especialmente para missões que requerem uma janela curta ou até instantânea de permissão, como voos planetários como o Europa Clipper. Esse tipo de atividade seria impactado significativamente com a perda de janelas”
NASA
Para evitar outros problemas, como a interferência de rádio-frequência provocada pela atividade da Starlink no espaço, a NASA sugere na carta enviada à FCC que a SpaceX fortaleça ainda mais a cooperação com a agência espacial:
“A NASA sugeres que a SpaceX trabalhe com a agência para demonstrar a capacidade da proposta de criar uma constelação, antes de cada lançamento de satélite, para que a empresa possa avisar quais são os problemas da operação e fazer os ajustes necessários.”
Com informações: ArsTechnica